Esforço de gestão é alternativa mais rápida e barata para ganhos de eficiência

Uma saída barata e rápida para esses tempos de crise é melhorar a gestão dos processos para obter ganhos de produtividade

Saltos em eficiência dependem da orquestração de fatores que só serão solucionados no médio e no longo prazos, como é o caso da melhoria da infraestrutura, da educação e a ampliação dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Enquanto as grandes reformas e grandes investimentos não tomam forma, o setor produtivo precisa desenvolver os próprios mecanismos para enfrentar o problema. Uma saída barata e rápida para esses tempos de crise é melhorar a gestão dos processos para obter ganhos de produtividade.

Essa é a aposta do programa Brasil Mais Produtivo, lançado pelo governo federal, na primeira semana de abril. A meta é ajudar 3 mil pequenas e médias indústrias a aumentar a produtividade em pelo menos 20% em três meses, usando o método de manufatura enxuta para reduzir desperdícios e otimizar processos da produção.

O foco em pequenas e médias empresas se justifica, pois estudos mostram que empresas de menor porte têm níveis menores de produtividade do trabalho do que empresas grandes. Segundo análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), na indústria, particularmente na de transformação, o nível de produtividade das empresas com menos de 500 funcionários pode ser, em média, quatro vezes menor do que os das empresas de maior porte.

Na avaliação do gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, iniciativas como o Brasil Mais Produtivo corrigem um problema histórico do Brasil, que é a falta de preparo dos empresários para mudanças na gestão. “Muita gente que está aí começou com um pequeno negócio e tem receio de parar para mudar. Eles estão à frente da empresa e não têm tempo de se qualificar e nem de qualificar seus funcionários”, afirma. No atual momento do país, ressalta Fonseca, o programa é uma alternativa barata e rápida para responder melhor à crise. Ouça clicando aqui.

EXPERIÊNCIA – O programa Brasil Mais Produtivo é realizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

As empresas interessadas devem se cadastrar na página do Brasil Mais Produtivo . São aptas a participar do programa as indústrias manufatureiras de pequeno e médio porte, que tenham entre 11 e 200 empregados e, preferencialmente, que estejam inseridas em Arranjos Produtivos Locais (APL). Na primeira fase do programa, os setores elegíveis são: metalmecânico, vestuário e calçados, moveleiro e de alimentos e bebidas. Elas serão atendidas em todo o Brasil por 400 consultores dos Institutos SENAI de Tecnologia e pelas unidades do SENAI nos estados.

Ao final das 120 horas de consultoria no chão de fábrica,  a empresa deve  aumentar em, pelo menos, 20% sua produtividade. Para a avaliação dos resultados, serão utilizados quatro indicadores: a capacidade produtiva, que é o aumento da quantidade de unidades produzidas em um espaço de tempo; a diferença entre o tempo de movimentação antes e depois do programa; a diferença entre o retrabalho antes e depois do programa; e o retorno financeiro.

Segundo o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto, esse apoio considera os desafios de curto prazo das pequenas e médias empresas, que não possuem a mesma estrutura de grandes corporações. “Às vezes, até as obrigações burocráticas impedem que os pequenos empresários tenham um olhar mais acurado sobre o processo produtivo”, afirma.

RESPOSTA RÁPIDA – O novo programa é inspirado no projeto Indústria+Produtiva, iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do SENAI. Entre 2014 e 2015, essa primeira experiência atendeu a 18 indústrias e conseguiu aumentar a produtividade das empresas em 42%. Em três meses de consultoria em cada empresa, as linhas de produção passaram por mudanças de layout e reorganização, seguindo os princípios da manufatura enxuta, para eliminar desperdícios e facilitar as etapas de produção. "Provamos, com o projeto, que é possível melhorar o desempenho das nossas indústrias em curto prazo. Isso abre perspectivas para o setor, sobretudo nesse momento difícil pelo qual o país passa", afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Na avaliação do diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, a adoção de um leque de medidas para melhorar a produtividade é urgente para as empresas brasileiras. “É preciso melhorar a formação dos trabalhadores, mas também é necessário avançar na qualidade dos processos produtivos”, diz. Em uma estrutura globalizada de produção, como temos hoje – ressalta Lucchesi – o sucesso depende da capacidade das empresas em produzir de forma mais eficiente, mais rapidamente e com maior qualidade.

Com a ajuda do Indústria+Produtiva , a Transmaq diminuiu em 65% o tempo de fabricação de um motorredutor, equipamento utilizado em máquinas industriais. Tudo isso apenas com a reorganização das estações de trabalho e das peças. Um trabalhador, que andava 316 metros – o equivalente à extensão de três campos de futebol – para montar cada equipamento, passou a andar oito metros. A otimização do tempo resultou numa economia de quase R$ 17 mil por mês à empresa.

"Para a empresa, o trabalho foi realmente muito bom. Houve uma mudança de cultura tanto na gerência quanto dos funcionários. Depois do projeto, sabemos que sempre é possível melhorar nossos processos. Foi um marco para a Transmaq", afirma Milena Pedroso, coordenadora de Qualidade Total da indústria.

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