ESG: questão de sobrevivência para as indústrias

É assim que Paulo Batista, CEO da Alicerce Educação, descreve a importância de as indústrias aderirem aos princípios do ESG

“Aderir ao ESG não é mais uma opção, uma questão de concordar ou não. É uma questão de sobrevivência para as indústrias”, diz Paulo Batista

Mais produtividade, inovação e criação de uma cultura corporativa. Esses são os ganhos no longo prazo que as empresas têm ao aderir ao ESG, afirma Paulo Batista, CEO da Alicerce Educação, startup de impacto social. “Aderir ao ESG não é mais uma opção, uma questão de concordar ou não. É uma questão de sobrevivência para as indústrias”, resume. No curto prazo, diz, essa adesão contribui para reter talentos e engajar os colaboradores.

Confira a entrevista:

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual é a importância das estratégias do ESG no contexto atual do Brasil?

PAULO BATISTA  -  É um tema central, que vemnuma nova roupagem, mas ele não é novo. É toda a temática de sustentabilidade, que vem crescendo muito desde a década de 1990, e, nessa nova roupagem, está vindo commuita força. Para mim, a questão central por trás disso é uma mudança geracional. Você tem uma nova geração, que são os millennials, chegando aos 40 anos de idade e assumindo um papel central na economia, e essa geração vem com a exigência da sustentabilidade. Isso se traduz em uma expectativa dos investidores, dos consumidores e dos talentos. Aderir ao ESG não é mais uma opção, uma questão de concordar ou não. É uma questão de sobrevivência para as indústrias.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual é a importância da educação para construir essa cultura?

PAULO BATISTA - Em um país como o Brasil, em que a raiz de todos os problemas sociais está na falta de acesso à educação básica pela grande maioria da população, possibilitar esse acesso é crucial. De certa forma, os princípios do ESG estão alinhados a um objetivo de maximização do lucro do capita
lismo, porque a falta de acesso a uma educação básica de qualidade é uma crise humanitária no Brasil, e também é o maior gargalo da indústria. A prova do Pisa, que é a prova internacional de qualidade de educação básica, mostra que só 30% dos brasileiros chegam ao final da escola com os conhecimen
tos de português e matemática necessários para ser um operário em fábricas. Então a indústria brasileira vive um gargalo de mão de obra e um gargalo de produtividade exatamente por conta desse problema.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como você vê a inserção desses princípios no ambiente corporativo?

PAULO BATISTA - Muitas empresas ficam confusas, preocupadas e com medo do conceito. No fundo, ele é muito simples, e o que eu recomendo é que partam para a prática rápido. Em vez de ficar muito tempo discutindo o que é, o que não é, como não é, que entendam um pouco da simplicidade do conceito e busquemusar rankings de pontuação e medição dos pilares do ESG. A maioria das empresas tem ações voltadas aos princípios do ESG. Só não medemnem registram isso corretamente, o que é importante.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como você avalia o estágio em que essas empresas estão?

PAULO BATISTA - A gente dialoga com as empresas desde 2019 sobre o tema e tem observado que está havendo uma verdadeira revolução. Em apenas dois anos, a grande maioria das empresas já incluiu na sua estrutura organizacional um profissional dedicado ao tema. Então, a evolução é gigantesca e vertiginosa, e isso pode ter um impacto muito positivo no Brasil.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual é o impacto econômico na aplicação dos princípios do ESG no Brasil?

PAULO BATISTA - Comparada à de outros países, a indústria brasileira sempre teve uma consciência de sustentabilidade acima da média, até pela tradição de regulação do país. Então, o Brasil, em várias frentes, foi pioneiro no quesito da sustentabilidade, mas a grande evolução de pensamento agora é a clare
za da recompensa e da punição se isso não for seguido. Muitas indústrias e empresas adotavam isso [os princípios do ESG] por obrigação regulatória ou por uma questão ideológica ou de afinidade dos proprietários das empresas.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Que lição fica do processo de transformações até aqui?

PAULO BATISTA - O que fica muito claro com a cristalização da estrutura do ESG é que agora há um mecanismo de punição e recompensa por investidores, consumidores e talentos. Muitas empresas se sentem quase que obrigadas a explorar isso, pelo medo de serem punidas por um desses públicos. Para mim, esse é exatamente o grande motor. A recompensa agora ficou mais clara por meio do aumento de vendas, do reconhecimento dos consumidores e dos investidores, do aumento do preço de ação e da possibilidade de atrair ou reter os melhores talentos.

Relacionadas

Leia mais

Indústria prioriza estruturação dos princípios ESG para Amazônia
CNI defende regulamentação de serviços de reúso de água de esgoto tratado
Empresas cada vez mais atentas aos critérios ESG

Comentários