Indústria prioriza estruturação dos princípios ESG para Amazônia

Com Instituto Amazônia+21, setor desenvolverá projetos de produção de biogás, monetização de ativos florestais e recuperação de áreas degradadas

Marcelo Thomé, Presidente do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI e presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia - FIERO
O Instituto Amazônia+21 tem buscado desenvolver tecnologias próprias e soluções específicas para a região

Por meio do Instituto Amazônia+21, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em articulação com as federações estaduais, tem estruturado a aplicação dos princípios da agenda ASG: Ambiental, Social e Governança — ESG na sigla em inglês — no bioma amazônico. A preocupação com uma economia sustentável tem se desdobrado em projetos de produção de biogás, monetização de ativos florestais e recuperação de áreas degradadas.    

“A proposta do Instituto Amazônia+21 é uma agenda de negócios com foco na promoção de negócios de alto impacto inovadores orientados pelos princípios ESG. É uma reafirmação do compromisso da indústria brasileira de que a Amazônia merece ser respeitada e precisa de um novo olhar. Não é um olhar de tutela mas é um olhar de oportunidades", afirmou o presidente do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Marcelo Thomé.

A declaração foi durante a live Reformas em debate: Os desafios do ASG - Ambiental, Social e Governança, promovida pela Nação Consultoria, correalizada pela CNI e Febraban, nesta segunda-feira (30). Dentro da agenda verde, está a identificação de oportunidades de investimento em pesquisas para transformar o potencial da bioeconomia em negócios concretos para o setor de base florestal. De acordo com Thomé, um dos pontos centrais nessa discussão é a precificação do carbono por meio de um mercado regulado.

"Quanto valem os créditos de carbono e como transformar em dinheiro para que chegue no chão de fábrica, remunere o dono da terra e o Estado, para começar a gerar riqueza?", questionou.    

Indústria defende mercado regulado de carbono

A criação de um mercado regulado — em contraposição aos mercados voluntários — é fundamental para a adesão dos empresários. "É essencial para oferecer segurança jurídica para as empresas na aquisição de créditos de carbono porque no mercado voluntário são 60 metodologias diferentes e em determinado momento aqueles créditos podem não ser reconhecidos porque a métrica não é validada", apontou.    

A necessidade de padronização dos créditos de carbono também foi citada como fundamental no financiamento da produção sustentável pelo presidente do Banco Santander, Sergio Rial. Ele lembrou que a discussão sobre um mercado global será um dos principais focos da COP 26, em novembro.

"Todos os países estão regulando. É importante nós como planeta irmos em busca de alguma coordenação e consistência de modelo de regulação. Caso contrário, não só se criam arbitragens desnecessárias, como não leva ao efeito final que é essa transição de forma correta, sem criar perdedores ou ganhadores", afirmou.    

De acordo com Rial, esse mercado chega a 220 bilhões de euros e hoje o Brasil é a quinta economia na comercialização de créditos voluntários. Para o presidente do Santander, o Brasil tem um potencial econômico por meio do mercado regulado de carbono.

"Estarmos completamente convencidos que manter a floresta de pé, sem nenhum romantismo, vale muito mais do que qualquer outra coisa, é um dos caminhos que a nação claramente vai ter que perseguir, inclusive na recuperação de uso de áreas degradadas", completou.   

A canalização da poupança internacional para projetos de economia de baixo carbono tem chamado atenção dos bancos. Além disso, de acordo com o presidente do Santander, só no mercado de dívidas, o componente sustentabilidade chegou a quase US$ 656 bilhões em 2020, o que demonstra o interesse do mercado financeiro em projetos verdes.    

Dentro da agenda ASG na região amazônica, o Instituto Amazônia+21 tem buscado desenvolver tecnologias próprias e soluções específicas para a região no âmbito da produção de biogás a partir de resíduos sólidos urbanos. "É  fundamental e por si só já é uma agenda ambiental a ser financiada pelos bancos privados nacionais ou estrangeiros", afirmou Marcelo Thomé, que também preside a Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (FIERO).    

A precificação de carbono é um dos quatro pilares para o avanço da agenda climática da indústria no Brasil, junto com a transição energética, a conservação das florestas e a economia circular.    

Imagem do Brasil no exterior    

Para o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), presidente da Frente Parlamentar da Economia Verde, uma das prioridades no Congresso neste semestre é dar sequência às discussões sobre a criação de um mercado de carbono por meio do Projeto de Lei 528/21. "É um instrumento fundamental para que possamos ter uma base econômica alinhada aos princípios da sustentabilidade ambiental", afirmou.     

Dentro da agenda legislativa, o parlamentar também defendeu uma incorporação da sustentabilidade nas políticas públicas de modo geral, incluindo a criação de moedas verdes, de incentivos tributários para projetos sustentáveis e de mecanismos que evitem a bitributação em iniciativas de reciclagem. Jardim também citou a preocupação com esse tema na aprovação de projetos recentes, como as debêntures de infraestrutura e dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro).    

Na visão do deputado, a consolidação desses instrumentos irá mudar a percepção da imagem do Brasil no exterior. "Vai dar condições para que o Brasil, ao contrário de vilão, que muitas vezes tem se apresentado em fóruns internacionais, possa potencializar o que já tem: a matriz energética mais limpa do mundo, uma matriz diferenciada com a presença dos biocombustíveis e um país que já tem uma legislação ambiental detalhada e rigorosa", afirmou.    

Brasil é parceiro estratégico na agenda de baixo carbono

Ignacio Ybáñez, embaixador da União Europeia no Brasil; Marcelo Thomé, Presidente do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI; João Borges, jornalista e diretor de comunicação da FEBRABAN;
O embaixador da União Europeia, Ignacio Ybáñez, disse que o Brasil é um grande parceiro estratégico

Para o embaixador da União Europeia, Ignacio Ybáñez, o esforço do Brasil em cumprir compromissos ambientais pode mudar essa percepção negativa por parte de outros países. “Estamos todos nos preparando para a COP 26. Tudo que pudermos fazer antes da COP 26 vai colocar o Brasil numa situação ótima para realmente chegar com elementos positivos que já tem em sua bagagem”, afirmou. Ele citou como exemplo positivo o Código Florestal brasileiro.    

A  União Europeia tem contribuído com sua experiência na agenda climática em projetos de cooperação com o Brasil, incluindo o fomento do diálogo entre os setores privados europeu e brasileiro. “O Brasil já é um grande parceiro estratégico. As empresas europeias trabalham aqui há muitos anos e o Brasil é parte importante das suas operações”, afirmou o diplomata.    

Dentro da agenda global, Ybáñez destacou o componente da sustentabilidade no acordo da União Europeia com o Mercosul e o alinhamento com os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris, principal marco para mitigar o aquecimento global. Sobre a adoção da taxação de carbono pelo bloco, o diplomata afirmou que as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC) serão respeitadas. “Nossa proposta vai ser sempre compatível com a OMC. Essa é uma linha vermelha da União Europeia. Dependemos do comércio livre, baseado em regras”, afirmou.    

Em julho, a União Europeia anunciou a criação de um Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM, em inglês), para cobrança de tarifa adicional sobre produtos importados com base na quantidade de carbono emitida em sua produção. A proposta ainda será discutida pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia e prevê uma fase transitória, de três anos, a partir de 2023.

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