Você pode ainda não ter ouvido falar em James Phillips, mas certamente conhece alguns dos produtos tecnológicos que passaram pelas mãos dele e que mudaram as vidas de muita gente ao redor do mundo. Ele está ligado aos lançamentos, por exemplo, das mensagens de texto, do palmtop (PDA), do cabo de modem de internet, do VeinViwer – aparelho que permite a visualização de veias que são muito superficiais ao ultrassom e profundas ao olho nu – além do iPix, considerado, na época, o maior fornecedor do mundo de imagens para internet, em áreas como passeios virtuais, imobiliário online e segurança. Phillips é presidente do Conselho de Administração e CEO da NanoMech – empresa norte-americana especializada em nanotecnologia e foi o convidado para a palestra magna na abertura do 6° Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria , nesta quarta-feira (13), em São Paulo.
Ele conversou com exclusividade com a Agência CNI de Notícias sobre essa tecnologia invisível, mas poderosa, que já começou uma das maiores revoluções no mundo da ciência e da inovação.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Se alguém nunca ouviu falar em nanotecnologia antes, como o senhor a definiria? Como explicar algo que a gente não consegue nem enxergar?
James Phillips - Bem, a nanotecnologia é uma escala métrica. Todo mundo sabe o que é um metro, claro. Nesse caso, nós estamos falando sobre a bilionésima parte de um metro. É só escala. A nanotecnologia é a fabricação, construção nessa escala. Um nanometro é igual uma bola de futebol comparada ao tamanho do planeta. Isso é nano.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Quão importante é a nanotecnologia para nossas vidas?
James Phillips - A nanotecnologia será a maior virada na história da ciência considerando que, por meio dessa escala, podemos fazer tudo melhor, construir algo melhor, fazer todas as máquinas operarem melhor, de forma mais eficiente, fazer novos tipos de equipamentos, novas codificações. A nanotecnologia vai provocar um efeito profundo tanto na área da saúde, bem como na produção de alimentos, na ciência material especial, quando fazemos qualquer coisa manufaturada podemos fazer melhor. Durante muito tempo, o padrão foi mícron, tamanho que é mil vezes maior do que a escala nano. A escala nano nos possibilita manipular a matéria literalmente.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Como assim?
James Phillips - Por exemplo, a tabela periódica. Ali, você pode reduzir aqueles elementos em tamanhos usando a escala nano e, em seguida, eles irão se comportar de maneira diferente. Eles assumem diferentes propriedades que podem servir para a invenção de algo que nunca existiu antes. Podem ser codificações muito rígidas e indestrutíveis. Quando você diz que quer óculos com as lentes anti-risco, ali será usada uma codificação nano e as lentes não serão arranhadas. É muito poderoso, mas você não consegue enxergar.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Quão importante é para o Brasil ter um evento como este, focado exclusivamente em inovação para, assim, chegar a uma posição competitiva?
James Phillips - Se as pessoas querem competir, têm de inovar e, para inovar, é preciso assumir riscos. Alguns países e empresas são mais avessos ao risco do que outros. Afinal, inovação requer investimentos adicionais, investimento em tempo, investimento no processo de ideação, de invenção. Depois, é preciso patentear a invenção e isso custa dinheiro. Os países e as empresas devem estar constantemente em estado de renovação. Afinal, você pode estar no comando hoje, mas surge um novo algoritmo que pode mudar tudo em termos de comércio. Pode ser um novo aplicativo que cria um portal totalmente novo para um negócio novo para fazer negócio de forma mais fácil e eficiente. O mundo está se movendo do analógico para o digital em um ritmo incrível, e isso é emocionante porque, quando você se muda para este mundo, consegue fazer tudo mais rápido, melhor e, normalmente, gastando menos. Agora estamos em uma nova transição, da escala mícron para a escala nano.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Como funciona essa transição?
James Phillips - Se você tivesse que construir uma cadeira de couro na escala de metro, seria difícil prever toda a funcionalidade. Ao diminuir o tamanho na escala mícron, é possível fazer couro de um novo tipo de material, sem ter que matar uma vaca. Isso pode ser feito em menos tempo e vai parecer melhor e, inclusive, ser ambientalmente melhor. Você pode programar quanto tempo vai durar, quanto peso vai aguentar e assim por diante. Agora, ao passarmos para a escala nano aumentam as possibilidades de funcionalidade dessa cadeira. É possível até saber onde o assento normalmente esquenta mais e uma codificação para evitar que isso aconteça.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Como o senhor vê o Brasil no campo da inovação e também como parceiro para fazer negócios nesta área com os Estados Unidos?
James Phillips - Somos as duas maiores economias do hemisfério ocidental. Um monte de gente, eu diria especialmente nos Estados Unidos, não percebe isso. Eles ainda não se deram conta do fato de que o Brasil tem um incrível senso de inovação e de pioneirismo para realizar coisas novas. Este país é extremamente rico em recursos. Então é importantíssimo que trabalhemos juntos para avançar em tecnologia e inovação. A tecnologia é o reflexo da sociedade. Quase todos os avanços vêm para tornar a vida de todos nós melhor. Eu acho que Brasil e Estados Unidos também devem ter em mente a democracia. Ambos são democracias. E você só tem liberdade de expressar-se e de praticar o seu negócio por meio da democracia. Trabalhar em conjunto é trabalhar por um mundo mais forte.
MULTIMÍDIA - Acompanhe a cobertura do 6º Congresso Nacional de Inovação na Indústria em tempo real no perfil da CNI no Twitter. Todas as fotos do Congresso estão em nosso Flickr.
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