A bioeconomia serve para desvincular crescimento econômico de danos ambientais, defende diretor da OCDE

Biotecnologia é a chave para solucionar problemas como o crescimento populacional, insegurança, falta de energia e alterações climáticas, segundo James Philip, diretor da OCDE

"No Brasil, a combinação de imensa biodiversidade com crescente pesquisa e desenvolvimento é favorável, sim, à biotecnologia" - James Philip

É por meio da biotecnologia que o mundo encontrará soluções para grandes desafios atuais como o crescimento da população, segurança e a questão energética, além de alterações climáticas. Quem defende essa ideia é o analista de políticas da diretoria para Ciência, Tecnologia e Indústria da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), James Philp. Segundo ele, alguns países já acreditam que a biotecnologia possa, inclusive, ser a responsável pela próxima revolução industrial. De acordo com estudos da OCDE, a biotecnologia industrial deve movimentar, em 2030, € 300 bilhões. 

James Philp vem ao Brasil, a convite da Confederação Nacional da Indústria (CNI), para participar do 2° Fórum de Bioeconomia, na próxima quinta-feira (10), em São Paulo. Ele é PhD em Biocorrosão para a Indústria Nuclear pela Universidade Napier, em Edimburgo. Começou a carreira no início dos anos 1980 nas áreas de microbiologia e lixo radioativo. Philp está na OCDE desde 2011, quando passou a ser responsável pelas áreas de biotecnologia, biotecnologia marinha, sustentabilidade em biomassa e biologia sintética - atividades ligadas diretamente à bioeconomia, como a integração de biocombustíveis e energia com outros processos industriais baseados em bioprodução. 

Ele conversou com o Portal da Indústria sobre essa nova era industrial que envolve diversos setores da economia nas áreas de saúde, agricultura, pecuária, produtos químicos, energia e meio ambiente. 

Portal da Indústria: Bioeconomia é um termo relativamente novo. Pesquisa inédita encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), feita pela Harvard Business School Brasil, revelou que apenas 4% dos entrevistados, entre 369, têm plena compreensão do conceito. Outros 11 % disseram que nunca ouviram falar sobre bioeconomia antes. Isso é preocupante? 

James Philp: Pelo fato de o termo ser relativamente novo é normal que muitas pessoas ainda não saibam o que significa. Isso leva tempo. A ideia surgiu porque o crescimento econômico é geralmente acompanhado por danos ambientais. Em bioeconomia, produtos químicos, plásticos e combustíveis podem ser feitos a partir de recursos renováveis, com base biológica, em vez de recursos fósseis como petróleo bruto. Deste modo, as emissões de CO2 podem ser reduzidas, e, assim, no longo prazo, os efeitos de alterações climáticas também podem ser diminuídos. Portanto, o objetivo da bioeconomia é quebrar o vínculo entre crescimento econômico e os danos ambientais. 

Portal da Indústria: Como a bioeconomia e a biotecnologia estão vinculadas às nossas vidas? 

Philp: No Brasil, as pessoas já usam etanol em seus carros. Então, eles já têm um link direto com a bioeconomia e a biotecnologia. Etanol é criado através de biotecnologia de cana-de-açúcar, que é renovável. Também usamos plásticos todos os dias de nossas vidas que, agora, estão começando a ser feitos a partir de recursos de base biológica. Por exemplo, um grande aumento no mercado de bioplásticos tem sido impulsionado pelo uso de garrafas de plástico de base biológica para bebidas. Ainda é uma pequena parcela do mercado total, mas que está crescendo rapidamente. 

Portal da Indústria: O Brasil pode se tornar um player nessa área no mercado internacional? 

Philp: O Brasil está se tornando um player por meio de uma expansão na produção de etanol, mas também na produção de produtos químicos e plásticos de base biológica. Técnica, conhecimento político e de negócios vêm sendo acumulados no Brasil desde o Proálcool em 1970. Isso significa que o Brasil pode ser um hub de conhecimento muito importante. Fornecer produtos, conhecimentos e serviços ajuda a diversificar a economia. 

Portal da Indústria: Como a OCDE vê a importância da participação brasileira em biotecnologia? 

Philp: Os avanços recentes em genômica e sequenciamento de DNA significam que a biotecnologia está crescendo rapidamente. Muitos países preveem um futuro de produtos fabricados por meio da biotecnologia. No Brasil, a combinação de imensa biodiversidade com crescente pesquisa e desenvolvimento é favorável, sim, à biotecnologia. Quanto à bioeconomia, as grandes vantagens brasileiras são as décadas de experiência com o etanol, e ao fato de a cana-de-açúcar ser a fonte mais sustentável de biomassa até agora. Sustentabilidade é a chave para o futuro da biotecnologia e bioeconomia. Manter o foco técnico e político em sustentabilidade é essencial e isso deve ser acompanhado de crescente pesquisa e desenvolvimento. 

Portal da Indústria: O Brasil é pioneiro na produção de etanol. Os Estados Unidos começaram depois, mas já estão muito à frente. Nós perdemos a oportunidade de nos tornarmos o maior produtor de biocombustíveis do mundo? 

Philp: Os EUA alcançaram essa posição a partir de uma ação política muito ambiciosa. Eu não acho que realmente importe sobre quem está à frente da produção. O que importa, no longo prazo, é manter o foco na sustentabilidade. O mundo irá, em breve, fazer exigências de comprovação de sustentabilidade. Os planos para a produção de etanol brasileiro também são muito ambiciosos e estão avançando para o etanol de segunda geração. Eu não acho que há uma oportunidade perdida. A indústria está crescendo e o Brasil está respondendo aos desafios.

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