Brasil mais produtivo

Segundo o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, ineficiências sistêmicas existentes no país vêm contribuindo para que a produtividade cresça menos do que a média de países desenvolvidos e de alguns emergentes

Estudos apontam que, desde o fim dos anos 1970, a produtividade no Brasil tem crescido menos do que na média de países desenvolvidos e de alguns emergentes. Em vários setores da economia observa-se o fenômeno, para o qual colaboram ineficiências sistêmicas há muito tempo existentes no país — como ambiente de negócios, infraestrutura, sistema tributário disfuncional e rigidez na legislação trabalhista.

Na indústria, esse déficit tem, também, uma dimensão microeconômica importante. O nosso tecido industrial é bastante heterogêneo, existindo, ainda, muitas empresas com modestos padrões de desempenho, que podem ser melhorados, com obtenção de ganhos no curto prazo.

Nesse contexto, mesmo em um momento de transição macroeconômica, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), lança hoje o programa Brasil Mais Produtivo. O objetivo é aumentar substancialmente a produtividade das unidades empresariais participantes a partir de correções rápidas no processo produtivo.

A metodologia já foi testada em 2015 pelo Senai num projeto-piloto que envolveu 18 empresas de médio porte, e os resultados foram expressivos: aumento de 42% da produtividade e redução de 21% do custo de produção. Aspectos que merecem destaque nessa iniciativa são sua excelente relação custo-benefício e a possibilidade concreta de aferição de resultados.

No primeiro ano, serão alcançadas 3 mil indústrias de pequeno e médio portes, que preferencialmente estejam inseridas em Arranjos Produtivos Locais (APLs), em todas as regiões do país. O Senai será o executor do programa, usando uma ampla rede de consultores que atuarão dentro de cada uma das empresas participantes, com foco na redução dos sete tipos de desperdícios tradicionais que ocorrem no chão de fábrica: excesso de produção e de processamento, tempo de espera, transporte, inventário, movimento e defeitos.

O programa tem um corte horizontal, mas, na primeira fase — que se inicia hoje e vai até maio de 2017 —, alcançará setores com maior demanda e capacidade de responder à metodologia baseada na gestão de manufatura enxuta, a exemplo do metalmecânico, vestuário e calçados, moveleiro e de alimentos e bebidas.

Além disso, nas suas linhas de financiamento para exportação, inovação e investimentos, o BNDES poderá priorizar as empresas participantes do programa, que receberão um selo de qualidade. Dessa forma, ao ter acesso a recursos para renovação do parque fabril e para atividades de inovação e de exportação, esses empreendedores terão condições de dar um salto adicional, além do adquirido na organização da produção. Sebrae, Apex-Brasil e ABDI também são parceiros nesse esforço de elevação da eficiência da indústria.

As características do programa — baixo custo, rápida intervenção, dimensão regional e mensuração de resultados — garantem sua sustentabilidade e abrem a possibilidade de ampliação a médio prazo. No ambiente atual, de fortes restrições fiscais e de reequilíbrio macroeconômico, o Brasil Mais Produtivo se apresenta como um instrumento realista e eficaz de política industrial.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/brasil-mais-produtivo-19023013#ixzz45AUmXnzz

Publicada em 06/04/2016 pelo Jornal O Globo .

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