País precisa avançar em reformas que impulsionam a produtividade

Armando Monteiro, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, acredita que, em meio à retração do mercado doméstico, empresas devem se tornar mais competitivas

Armando Monteiro Neto conhece bem a realidade da indústria brasileira. Sabe que, mesmo durante a crise e as restrições fiscais impostas por ela, é preciso trabalhar para melhorar o desempenho do setor produtivo, fundamental para elevar a competitividade do Brasil. Desde que assumiu o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em janeiro de 2015, Monteiro tem aberto frentes importantes, como medidas de facilitação de comércio e promoção das exportações. A mais recente aposta é o Brasil Mais Produtivo, novo programa de governo que, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) , atuará diretamente junto às empresas para alavancar os níveis de eficiência de pequenas e médias indústrias.

A meta é, em apenas três meses, melhorar em pelo menos 20% a produtividade das empresas atendidas. Para Monteiro, o momento de fazer isso é agora, justamente em meio à crise. "É essencial para empresas, nesse período de retração do mercado doméstico, tornarem-se mais competitivas, reduzirem custos e aumentarem  a produtividade. Esses empreendedores estarão à frente quando a economia retomar o curso normal de crescimento", afirma. Confira abaixo a entrevista concedida pelo ministro à Agência CNI de Notícias.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Estudos mostram que a produtividade do Brasil vem caindo nos últimos anos, ao contrário, por exemplo, dos outros países do BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul). Na avaliação do senhor, por que o Brasil está atrasado nesse aspecto?

ARMANDO MONTEIRO - O país precisa avançar num conjunto de reformas que impulsionam a produtividade. A melhoria do ambiente de negócios, reduzindo a burocracia e a instituição de marcos regulatórios em áreas críticas, como a infraestrutura, são temas fundamentais. O aperfeiçoamento do sistema tributário, especialmente do PIS-Cofins e do ICMS, a modernização da legislação tributária, reduzindo o seu grau de rigidez, a adoção de uma reforma fiscal estrutural e um maior grau de abertura comercial complementam essa agenda.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - A economia brasileira passa por um momento de desaquecimento. Por que investir em produtividade agora?

ARMANDO MONTEIRO
- É essencial para empresas, nesse período de retração do mercado doméstico, tornarem-se mais competitivas, reduzirem custos e aumentarem a produtividade. Dessa forma, esses empreendedores estarão à frente quando a economia retomar o curso normal de crescimento. Além disso, o aumento da produtividade também é um aliado importante para competição nos mercados externos.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Qual é a meta do Brasil Mais Produtivo? Em que ele se diferencia?

ARMANDO MONTEIRO - Ele é um programa que apresenta diversos aspectos positivos, como o foco microeconômico e a possibilidade de se aferir seus resultados de forma objetiva e clara, dado que partiu de uma metodologia já testada. A meta prevista é ampliar em pelo menos 20% os níveis de produtividade das empresas participantes. Além disso, o custo é relativamente baixo, o que é compatível com o período de restrições fiscais que estamos vivenciando.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Políticas industriais anteriores focavam mais o ambiente externo às empresas. O foco agora é da porta para dentro das fábricas? Por quê?

ARMANDO MONTEIRO - Temos a compreensão de que as políticas industriais anteriores foram afetadas pelo ambiente macroeconômico. Tivemos um período de crise financeira internacional e um período de forte apreciação cambial que certamente impactaram a competitividade da nossa indústria. Nesse sentido, houve certa confusão entre política industrial e medidas anticíclicas. Além disso, sabemos que o atual período de reequilíbrio macroeconômico não oferece espaço para adoção de políticas industriais baseadas em macrometas.

Entretanto, o atual cenário não pode ter efeito paralisante. Sob essa perspectiva, o projeto-piloto da CNI mostrou que há espaço para obtenção de ganhos de produtividade no curto prazo com soluções no âmbito do processo produtivo ao combater desperdícios, tais como excesso de estoque, disposição inadequada dos espaços de trabalho, falta de organização de peças e insumos, dentre outros. Com as características de baixo custo, rápida intervenção, dimensão regional e mensuração de resultados  garantimos a sustentabilidade do programa e abrimos a possibilidade de ampliação a médio prazo.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - As soluções propostas pelo programa são simples. Por que o empresário precisa de ajuda?

ARMANDO MONTEIRO - Estamos apoiando pequenas e médias empresas, nas quais os desafios de curto prazo, inclusive o atendimento de obrigações burocráticas, impede um olhar mais acurado sobre o próprio processo produtivo. Portanto, é importante ter uma visão ou consultoria técnico-gerencial externa para a implantação das melhorias. Muitas vezes essas empresas não contam com esse nível de especialização e, por isso, o Programa Brasil Mais Produtivo vem preencher essa lacuna.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O aumento da eficiência não contribui para o desemprego?

ARMANDO MONTEIRO - O aumento da eficiência é uma condição extremamente importante para a sobrevivência das empresas no longo prazo. Portanto, ao investir na melhoria do desempenho, a empresa está contribuindo para manter sua competitividade, a permanência no mercado e, portanto, preservando os empregos.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O Brasil Mais Produtivo complementa outras ações, como o Plano Nacional de Exportações (PNE), para estimular a competitividade do país?

ARMANDO MONTEIRO - Sem dúvida. O programa contribui para o aumento da competitividade das empresas e isso é uma exigência para que as empresas acessem os mercados externos. As empresas que participarem do Brasil Mais Produtivo serão automaticamente credenciadas pelo BNDES e poderão ter acesso às linhas de financiamento para exportações. Além disso, essas empresas também podem participar de outros programas do Ministério, como o Plano Nacional da Cultura Exportadora, e terão o apoio da Apex para suas pretensões de internacionalização.

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