A insatisfação dos brasileiros com a saúde pública cresceu nos últimos sete anos, de 61% em 2011, para 75% em 2018, de acordo com pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Se não fosse o sistema de saúde suplementar, com planos e seguros privados, os desafios seriam significativamente maiores. Afinal, um quarto da população tem planos de saúde privados e contribui para reduzir a sobrecarga da rede pública.
No entanto, a saúde suplementar também enfrenta obstáculos que podem comprometer sua sustentabilidade a longo prazo. Os reajustes dos planos de saúde coletivos que, muitas vezes, contam com a participação dos trabalhadores no custeio, têm registrado variações anuais médias bem superiores à inflação.
Entre 2008 e 2016, o índice de variação do custo médico-hospitalar aumentou 237,77%, quase quatro vezes mais que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi de 71,88%. Pesquisas de corretoras de seguro apontam que as despesas com saúde representam, em média, 12% da folha de pagamento, sendo a segunda maior despesa das empresas.
Essa situação de aumento desenfreado nos custos pode se agravar no futuro próximo, com a longevidade da população, que exigirá maior assistência médico-hospitalar para tratamentos de longo prazo, sobretudo de doenças crônicas não transmissíveis e osteomusculares. Estima-se que, devido ao rápido envelhecimento dos brasileiros, os gastos de pessoas com 60 anos ou mais no sistema de saúde suplementar crescerá 126% entre 2014 e 2030, de R$ 34,6 bilhões para R$ 78,2 bilhões.
Uma das 43 propostas que a CNI entregou aos candidatos à Presidência da República faz um diagnóstico da saúde suplementar no país e apresenta sugestões de solução para problemas enfrentados pelo setor. Para lidar com os desafios da área, foi criado o Grupo de Trabalho da Indústria sobre Saúde Suplementar, composto por 53 indústrias contratantes de plano de saúde, que têm 1,8 milhão de beneficiários. O intuito é debater, com representantes do governo, soluções de políticas públicas que garantam a qualidade e a sustentabilidade do sistema. Só o setor industrial, representado pela CNI, é responsável pelo financiamento de quase 22% dos planos de saúde privados no país, com 10,2 milhões de beneficiários.
Empresas têm feito grande esforço para a preservação do benefício aos trabalhadores. Entre as iniciativas, está a renegociação com operadoras de planos de novos modelos de prestação de serviços que garantam resultados efetivos para a saúde dos pacientes sem necessariamente aumentar gastos. Outra ênfase cada vez maior está no desenvolvimento de ações de prevenção de doenças, que são mais efetivas e contribuem para reduzir atendimentos emergenciais, com custos mais elevados. As mudanças, embora pontuais, têm beneficiado, principalmente, os trabalhadores e seus dependentes.
Mas é possível fazer mais a partir da discussão com o governo para a reformulação do modelo de saúde suplementar. Para isso, a indústria propõe mudanças na legislação que visam ao uso mais eficiente de tecnologias na assistência médico-hospitalar e à remuneração baseada em resultados, além de ações para reduzir a insegurança jurídica na área.
Outro aspecto importante é a disponibilização de dados aos usuários e contratantes, resguardando a proteção da identidade das pessoas. Com isso, empresas poderão atuar de forma mais efetiva na promoção da saúde e na prevenção de doenças, por meio de melhor orientação aos trabalhadores e de contratação de planos mais adequados à realidade.
A saúde é elemento fundamental para o bem-estar da população, a competitividade das empresas e o desenvolvimento econômico e social do país. Para garantir um sistema que equilibre o atendimento efetivo às necessidades das pessoas e a sustentabilidade a longo prazo, é preciso assegurar a melhor saúde possível dentro dos recursos disponíveis.
A gestão da saúde, que hoje tem o suporte de tecnologias para gerar informações precisas para a tomada de decisão, é convite à construção de pontes entre os segmentos envolvidos nesse debate em prol de um uso inteligente de planos e seguros. É interesse de todos que o sistema de saúde suplementar sobreviva e, para isso, cada um deve entender o seu papel e fazer sua parte.