Há diversos fatores que emperram a forma como a indústria internaliza a inovação de um modo geral. Estamos passando por grandes transformações de cenários devido a mudanças cognitivas para a era digital. Tais mudanças nos trazem uma nova forma de relação com a tecnologia, com a organização e com o mercado.
Nossas bases de pensar e agir ainda estão em estruturas analógicas, sendo a revolução digital baseada em estruturas de convergência, exponenciais e movidas pelo propósito.
Dentro dessa nova estrutura, a indústria deve se preparar para o uso das redes e das plataformas digitais que ampliam as possibilidades de inovação. Conhecer e entender esse novo caminho, trazer para dentro da indústria, é o primeiro passo.
O brasileiro, em sua essência, é um povo inovador, que consegue arranjar solução onde nenhum outro conseguiria, como, por exemplo, ir além de suas limitações e propor novas formas de execução. O problema que vemos em muitos casos é saber estruturar essa ideia para ser viável ao mercado. Ao mesmo tempo, é necessário que se internalize na indústria o conceito de experimentar, falhar rápido e aprimorar.
Uma das barreiras à inovação é essa baixa aderência a correr riscos. No Brasil, demoramos muito a começar a falar sobre a indústria 4.0 e a mudança para transformação digital, enquanto na Alemanha já se discute esses modelos há muito tempo.
Dentro desse novo cenário tecnológico, a velocidade das mudanças é exponencial, o que acarreta um grande descolamento dos demais países líderes dessa revolução, tornando difícil alcançá-los.
São necessários um aumento na utilização dos polos de inovação que vêm ligando empresas ao meio científico, um alinhamento maior entre esses atores e uma ação mais efetiva dentro do mercado brasileiro. Acho que esses polos podem crescer ainda mais como celeiros mais propícios à experimentação, com menor regulação. Aumentar a utilização da Lei do Bem alinhada à nova Lei das Startups pode ajudar nisso.
Nosso maior desafio para essa nova era é em torno da capacitação. Não adianta promovermos leis que ajudem na inovação se não investirmos em mão de obra mais qualificada. Acredito que, se quisermos mudar o rumo, o caminho é investir em um alcance maior e em melhoria na educação, não apenas nos próximos quatro anos, mas com uma visão de longo prazo.
Tudo que foi feito até agora ainda foi pouco; temos que investir mais e todos, como sociedade civil, devem ter essa pauta como primária.
Marcela Gonçalves é diretora de desenvolvimento empresarial da Multiledgers
O artigo foi publicado na revista da Indústria Brasileira de junho de 2019.
REPRODUÇÃO DO ARTIGO - Os artigos publicados pela Agência CNI de Notícias têm entre 4 e 5 mil caracteres e podem ser reproduzidos na íntegra ou parcialmente, desde que a fonte seja citada. Possíveis alterações para veiculação devem ser consultadas, previamente, pelo e-mail imprensa@cni.com.br. As opiniões aqui veiculadas são de responsabilidade do autor.