Escola do SESI tem desempenho igual ao de Cingapura em Matemática

Relatório do PISA mostra que alunos de Minas Gerais tiveram nota 564,1. Esse é o mesmo desempenho dos estudantes do país asiático que aparecem em primeiro lugar na avaliação. A média no Brasil é de 377

Duas escolas do Serviço Social da Indústria (SESI) se destacaram na mais importante avaliação educacional do mundo: o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes 2017  (Pisa, na sigla em inglês), na categoria Pisa for Schools (Pisa para Escolas).

O desempenho mais notável foi o de Matemática dos estudantes da Escola SESI Alvimar Carneiro de Rezende, localizada no município de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). A média alcançada foi igual a de Cingapura, país com o mais alto rendimento na última edição do Pisa, em 2015.

O relatório do Pisa mostrou que os alunos de Contagem tiveram nota 564,1 no teste aplicado à Matemática. Os estudantes de Cingapura, 564. No Brasil, a média é 377. 

A avaliação mede a capacidade dos alunos de formular, empregar e interpretar a Matemática em distintos contextos. 

Na Alvimar Carneiro de Rezende, 32% dos estudantes possuem os níveis mais elevados de proficiência - este percentual é três vezes superior à média alcançada pelos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que concentra apenas 10,7% dos alunos nestes níveis. Comparativamente, 1% dos alunos das escolas de todo o Brasil e 35% dos alunos de Cingapura atingem essas médias

Isso ocorre devido as apostas pedagógicas modernas das escolas administradas pela indústria brasileira, como a robótica e a metodologia baseada no modelo STEAM (termo em inglês para a união de Ciências, Tecnologia, Engenharia, Matemática e Artes).

A escola de Contagem teve notas mais altas que a média brasileira em Leitura e Ciências.

NOTA DE PRIMEIRO MUNDO – Em Leitura, a pontuação foi de 525,2, ficando atrás apenas de índices de países como Cingapura, Hong Kong, Canadá e Finlândia. O domínio do Pisa para Escolas avalia a aplicação ativa, intencionada e funcional da leitura em uma variedade de situações e finalidades. Alunos cuja proficiência se encontra nos níveis mais elevados são capazes de avaliar, de forma crítica, textos desconhecidos e desenvolver hipóteses a respeito deles.

Na área de Ciências, a nota da escola mineira foi 514,5 - a média brasileira é de 401. O domínio da matéria afere a capacidade dos estudantes de explicar fenômenos, avaliar e planejar investigações e interpretar dados e evidências de maneira científica. Na escola mineira, 2% dos alunos atingiram os níveis mais elevados em Ciências. Comparativamente, 1% dos alunos do Brasil e 24% dos alunos de Cingapura alcançam tais níveis de proficiência. “Quando a gente recebeu o relatório (do Pisa) foi muito emocionante. É uma prova externa chancelando o trabalho de qualidade feito na escola”, analisa Rachel Timm Pisoler, diretora da Alvimar Carneiro.

Júlia Ellen de Oliveira, de 17 anos, foi selecionada com mais 84 estudantes da escola para fazer a prova da OCDE. A primeira edição do Pisa para as Escolas no país.

MOTIVAÇÃO - Café, isso mesmo café, foco, força e Deus. Essas quatro palavras estão estampadas em post-its coloridos na escrivaninha do quarto impecavelmente arrumado da jovem Júlia Ellen Campolina de Oliveira, 17 anos. Outras frases motivacionais compõem o espaço de estudos. “Aquele que não luta pelo futuro que quer, deve acessar o futuro que vier”, diz outra citação escrita à mão. Júlia mora com a família no município de Contagem em um prédio localizado a poucas quadras da escola que estuda, a Alvimar Carneiro. Os pais têm uma pequena padaria na região.

A estudante foi selecionada com mais 84 estudantes da escola para fazer a prova da OCDE, que foi realizada no Brasil pela Fundação Lemann. Trata-se da primeira edição do Pisa para as Escolas no país. A escolha das instituições foi feita a partir de uma amostra que levou em consideração os resultados em avaliações nacionais e o nível socioeconômico dos alunos.

Atualmente, a Alvimar Carneiro tem 1.858 alunos nos turnos da manhã e tarde. “Quando eu soube que fui selecionada, me senti muito importante porque não é uma avaliação só para o SESI, mas para o Brasil”.

Júlia conta que achou a prova do Pisa diferente das que ela faz comumente, pois traz questões relacionadas à vida em sociedade, convivência e mede a capacidade do aluno de resolver situações cotidianas. “Foi uma prova tranquila porque eu tinha base. Tinha questões de Matemática envolvendo aço e alumínio, por exemplo, que eu sabia porque tinha feito o técnico em mecânica do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) no contraturno durante o 1º e 2º anos”.

Escola SESI Alvimar Carneiro de Rezende, em Contagem (MG)

A escola Alvimar Rezende possui 9.522 m² e ocupa praticamente um quarteirão inteiro de uma região altamente industrializada e com vários galpões logísticos para escoar as mercadorias. A instituição tem 37 anos e atende prioritariamente filhos de industriários. A renda média familiar é de 2 a 3 salários-mínimos. A mãe de Júlia, a salgadeira e confeiteira Sandra Maria Campolina, 49 anos, conta que a filha sempre estudou no SESI - tanto ensino infantil, quanto o fundamental e o médio - e consegue ver os diferenciais quanto ela compara a filha com os sobrinhos. “A forma de cobrança da instituição e a qualidade do ensino - que sempre se manteve -, me fizeram gostar da escola, tanto que quando escolhemos morar neste apartamento, priorizamos o fato dele ser perto da escola”. Agora Sandra espera que a filha consiga realizar o sonho de entrar em uma universidade de medicina.

Outra escola destaque no Pisa para Escolas foi o Centro Educacional SESI nº 32, em Belenzinho, zona Leste de São Paulo. A pontuação em Matemática foi mais alta que a média nacional (456,4 pontos). Em Leitura, a nota foi 506,2, acima da média brasileira de 407 pontos. Na escola paulista, 6% dos alunos possuem os níveis mais elevados de proficiência em Leitura. Comparativamente, 1% dos alunos do Brasil atingem tais níveis de proficiência e 18% dos alunos de Cingapura. Na área de Ciências, a nota da unidade paulista foi 466,6 - a média brasileira é de 401.

ESCOLHAS PEDAGÓGICAS - O SESI possui 501 escolas de ensino fundamental e médio em todo o território brasileiro. No intuito de preparar os estudantes para formação crítica e articulada com o mercado de trabalho e o futuro das profissões, a rede tem feito escolhas pedagógicas que começam a surtir efeito positivo em exames nacionais e internacionais. Além do bom desempenho no Pisa, as escolas da indústria também se destacaram no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2017, promovido pelo Ministério da Educação. O indicador foi criado pelo governo federal para medir a qualidade do ensino nas escolas brasileiras.

Em 2017, das 219 escolas de ensino médio do SESI avaliadas, 89 ficaram em 1º lugar no município onde se localizam e 80 nas 2ª e 3ª posições. São cidades em todo o país dos perfis mais diversos - desde capitais, como Palmas (TO), a municípios maiores como Uberlândia (MG) e Aparecida de Goiânia (GO) e pequenas localidades como São Miguel do Oeste (SC). Em todo o Brasil, 9.597 escolas participaram do Ideb do ensino médio.

Paulo Mól, diretor de operações do SESI, comenta os resultados dos alunos

Na análise de Paulo Mól, diretor de operações do SESI, os resultados dos estudantes do SESI devem-se a série de fatores, que vão desde a formação continuada de professores, passando pela infraestrutura oferecida nas escolas e metodologias pedagógicas modernas, em conformidade com as necessidades de uma sociedade 4.0. Ele destaca o uso do STEAM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) em sala de aula - a abordagem enfatiza os conteúdos da área de exatas e dá maior protagonismo para os alunos. Entre os programas oferecidos pela rede e que usam esta tendência pedagógica estão a robótica educacional - inserida em 2006 e hoje presente em todas as escolas do SESI - e o programa Acesse, que integra Arte e conhecimentos em Ciências, Tecnologia e Matemática.

“Os resultados positivos mostram que as escolas do SESI têm sido essenciais para a formação de qualidade dos estudantes brasileiros. São esses alunos que vão construir o Brasil realmente conectado com o futuro”, opina. O diretor de operações destaca ainda o efeito escola garantido pelo bom desempenho dos alunos nos testes nacionais e internacionais. Para ele, a rede SESI vem conseguindo atenuar os fatores extraescolares, como a escolaridade dos pais e a renda familiar. No perfil socioeconômico das famílias dos alunos de ensino médio, apenas 30% das mães têm ensino superior, na rede privada esse percentual é de 51% e a renda familiar média é de 2 a 3 salários mínimos. A literatura acadêmica sobre o assunto diz que a influência socioeconômica do aluno pode variar de 50 a 70%  no seu desempenho.

Aluna Laura Horta participa das atividades de robótica na escola do SESI

PISA EDIÇÃO 2017 - Em outubro de 2017, 46 escolas brasileiras participaram do Pisa para Escolas. A Fundação Lemann é a realizadora da iniciativa no Brasil.

Na edição 2017, foram selecionadas escolas de seis estados, sendo eles: Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Dessas 46, 72% eram escolas públicas das redes estaduais e federal e 28% eram privadas com diferentes tipos de financiamento. As origens socioeconômicas dos alunos dessas escolas eram diversas, variando de -2 a 1,19 no Índice de Situação Econômica, Social e Cultural (ESCS, na sigla em inglês) do PISA, sendo 0 a média da OCDE.

PISA - O Pisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é um estudo internacional que foi lançado em 1997 pela OCDE e aplicado pela primeira vez em 2000. E, atualmente abrange 80 países. A cada três anos, a avaliação do Pisa fornece dados comparativos sobre o desempenho de alunos de 15 anos em Leitura, Matemática e Ciências.

IDEB - É o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Uma das primeiras iniciativas brasileiras para medir a qualidade do aprendizado nacionalmente e estabelecer metas para a melhoria do ensino. O Ideb foi criado em 2007 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), uma autarquia do Ministério da Educação (MEC). O Ideb é calculado a partir de dois componentes: a taxa de rendimento escolar (aprovação) e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Inep.

DESEMPENHO

ESCOLA ALVIMAR CARNEIRO DE REZENDE(MG)

CENTRO EDUCACIONAL SESI 32 (SP)

BRASIL

CINGAPURA

LEITURA

525,2

506,2

407

535

MATEMÁTICA

564,1

456,4

377

564

CIÊNCIAS

514,5

466,6

401

556

NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA

ESCOLA ALVIMAR CARNEIRO DE REZENDE(MG)

CENTRO EDUCACIONAL SESI 32 (SP)

BRASIL

CINGAPURA

LEITURA

3% ELEVADO

93% INTERMEDIÁRIO

4% INFERIOR

6% ELEVADO

83% INTERMEDIÁRIO

11% INFERIOR

1% ELEVADO

51% INFERIOR

18% ELEVADO

MATEMÁTICA

32% ELEVADO

62% INTERMEDIÁRIO

5% INFERIOR

4% ELEVADO

63% INTERMEDIÁRIO

33% INFERIOR

1% ELEVADO

70% INFERIOR

35% ELEVADO

CIÊNCIAS

2% ELEVADO

97% INTERMEDIÁRIO

1% INFERIOR

0% ELEVADO

86% INTERMEDIÁRIO

14% INFERIOR

1% ELEVADO

52% INFERIOR

24% ELEVADO

Relacionadas

Leia mais

VÍDEO: Robótica transforma o aprendizado em escolas do SESI
Sem medo de Matemática! Disciplina é ensinada de maneira prática no novo ensino médio do SESI
SESI leva oficina de robótica às escolas públicas de Mato Grosso do Sul

Comentários