Indústria deixa de ser território restrito dos homens para conquistar as mulheres

Segundo levantamento do Radar Industrial da Fiems, até janeiro deste ano as mulheres já respondem por 25,8% dos trabalhadores do setor industrial de Mato Grosso do Sul

Diferente do início do século XX, quando o setor industrial era uma profissão quase que exclusivamente para pessoas do sexo masculino, o início do XXI está sendo marcado pelo ingresso, cada vez maior, das mulheres no então restrito mercado de trabalho dos homens: o chão das fábricas. Levantamento do Radar Industrial da Fiems, com base nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e Emprego, aponta que até janeiro deste ano as mulheres já respondem por 25,8% do total de 130.573 trabalhadores do setor industrial de Mato Grosso do Sul, o que representa 33.700 trabalhadoras.

A maioria, ou seja, 14.504, atua nas indústrias de produtos alimentícios e bebidas, logo em seguida aparece o segmento do vestuário, têxtil e artefatos em tecidos, com 6.487 trabalhadoras, tendo em 3º lugar a indústria da construção civil, com 3.033 industriárias, enquanto na 4ª colocação está a indústria química de produtos farmacêuticos, veterinários e perfumaria, com 2.173 mulheres, e, em 5º, a indústria de calçados, com 1.635. Um exemplo é a ex-doméstica Josefa Ribeiro Gomes da Silva, 47 anos, que trocou a antiga profissão para atuar como costureira industrial em uma fábrica de Campo Grande.

Ela reforça que as condições de trabalho na indústria Agosto Confecções são melhores e trazem um retorno financeiro bem mais satisfatório, além da segurança da carteira assinada. "Trabalho de segunda à sexta-feira e ainda tenho tempo para cuidar da minha casa e da família. Antes não tinha horário, trabalhava também nos fins de semana e não sobrava o tempo que eu queria para estar com os meus filhos", afirmou. 

Exemplo de esforço e determinação, a costureira Sueli Beatriz Flores, 36 anos, também funcionária da Agosto Confecções, deixou de lado as atividades do lar para ingressar na indústria do vestuário. "Aprendi tudo na prática dentro da fábrica e confesso que a adaptação foi rápida. Isso tudo foi há quatro anos e agora só vou sair do ramo mesmo quando me aposentar, porque simplesmente adoro o que faço", falou.

Para Sueli Flores, muito além de uma satisfação profissional, o emprego também rendeu mais renda e qualidade de vida. "É mais uma soma de valores. Ajudo meu marido e ganhamos mais oportunidade de compra", ressaltou. A antiga dona de casa Daiany Durães de Morais, 24 anos, trocou a velha profissão para atuar, há dois anos, no Frigorífico JBS. "Estou muito satisfeita com o trabalho e garanto que a curiosidade foi o que despertou minha atenção nessa atividade", informou.

Além disso, ela destaca que a renda fixa e os benefícios também foram atrativos para o seu ingresso na indústria frigorífica. "Foi uma forma rentável de ajudar minha família. O emprego é fixo, também temos cesta básica e outros benefícios", disse.

Já a colega Luciana Linhares, 31 anos, também colaboradora do Frigorífico JBS, atua na área há apenas seis meses e acrescenta que, com a operação de máquinas e o desenvolvimento de novas competências, a mulher amplia suas possibilidades profissionalmente, além da melhoria salarial. "O trabalho é de segunda à sexta-feira, temos algumas vantagens e ainda a chance de crescer dentro da empresa. Nós já rompemos a barreira de que alguns trabalhos são apenas para homens", declarou.

Qualificação

Cada vez mais as mulheres estão conquistando fatias do mercado de trabalho que antes eram preenchidas somente por homens e um exemplo disso é a procura delas pelos cursos oferecidos pelo Senai para atender o setor industrial de Mato Grosso do Sul. De acordo com dados do gerente de educação da entidade no Estado, Marcos Costa, dos mais de 11 mil alunos matriculados até fevereiro deste ano nos mais de 184 cursos em diversas modalidades oferecidas pelo Senai, 50% é composto por mulheres.

Segundo o diretor-regional do Senai, Jesner Escandolhero, a cada ano que passa, mais e mais mulheres procuram as unidades em busca de cursos até então exclusivos do universo masculino. "A velha máxima de que essa ou aquela qualificação era apenas para homens não existe mais, ficou ultrapassada e fora de uso. Agora, as mulheres disputam vagas em qualquer um dos nossos cursos, seja na construção civil ou na automação industrial, nada está fora do escala de interesse delas", garantiu.

Ele acrescenta que a construção civil, considera a última profissão considerada um grande tabu para as mulheres, deixou de ser um terreno masculino para receber mais e mais trabalhadoras. "Hoje, as empresas de construção civil preferem as mulheres nos serviços de acabamento e pintura. Elas são mais cuidadosas e caprichosas e isso já foi comprovado nesses empreendimentos que estão sendo erguidos em Campo Grande, onde boa parte dos empregados que fazem o acabamento é composta por mulheres", destacou.

Esse é o caso da servente de obras Márcia Ramos, 25 anos, que atua em um dos canteiros de obras da Plaenge em Campo Grande. "No começo os colegas estranhavam a minha presença, mas depois eles acostumaram e constaram que sou perfeitamente capaz de executar o mesmo tipo de serviço que os homens executam", garantiu.

Assim também pensa a servente Maria de Fátima dos Santos, 41 anos. "Eu passei pela mesma situação e posso afirmar que o preconceito com mulheres trabalhando na construção civil está diminuindo. Acredito que, em breve, será comum. Graziela Ferreira da Cruz, 29 anos, que atua na parte de serviços gerais da obra, disse que a presença de mulheres nos canteiros de obras já virou rotina. "A gente chegou para ficar", garantiu.

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