Estrutura de governança é fundamental para alavancar bioeconomia no Brasil

Representantes industriais, de governo e da academia participaram do Diálogo Oportunidades e Desafios da Bioeconomia para o Brasil, realizado pela CNI

"Esse é o momento de agir para dar impulso à bioeconomia" - Mônica Messenberg, diretora de Relações Institucionais da CNI

Construir uma estrutura de governança liderada pelo governo é  imprescindível para alavancar a bioeconomia no Brasil. A conclusão é de representantes industriais, do governo e da academia que participaram do Diálogo Oportunidades e Desafios da Bioeconomia para o Brasil, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) na terça-feira (3), em Brasília. A bioeconomia é um modelo de geração de riqueza por meio do uso de recursos biológicos.

De acordo com a diretora de Relações Institucionais da CNI, Mônica Messenberg, o país tem uma aptidão natural para a bioeconomia, por ter 20% da biodiversidade do planeta, uma agroindústria forte, um setor empresarial consolidado e um nível de excelência em pesquisa. Segundo ela, são prioridades para alavancar a agenda a definição de uma estrutura de governança, o estímulo e o fortalecimento da parceria entre universidades e o setor produtivo, além da ampliação de investimentos. “Existe um interesse crescente por parte de diversos segmentos industriais em ampliar investimentos no uso sustentável da biodiversidade. Esse é, portanto, o momento de agir para dar impulso a essa tendência”, destacou Mônica.

O secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Eduardo Camerini, disse que, embora o Brasil tenha um vasto conhecimento científico sobre espécies da biodiversidade, é baixo o aproveitamento econômico dos recursos de sua biodiversidade. “O governo pode ajudar a achar e abrir portas para alavancar esse processo, mas quem vai na frente é a iniciativa privada”, ressaltou. “É necessário construir um projeto conjunto para dar dinamismo à bioeconomia, com as frentes de inovação, tecnologia e políticas públicas.”

"O governo pode abrir portas para alavancar a bioeconomia, mas quem vai na frente é a iniciativa privada" - Eduardo Camerini, secretário de Biodiversidade do Ministério de Meio Ambiente

A opinião foi compartilhada por Fábio Lorotonda, diretor de Programas de Desenvolvimento Científico do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI&C). Ele destacou que o Brasil teve grandes avanços nas últimas décadas nas áreas de produção de alimentos e energias renováveis, sendo o segundo maior produtos de biocombustíveis do mundo. “No entanto, para avançarmos mais, é fundamental iniciativas melhor integradas”, comentou.

PROJETOS ESTRUTURANTES – O coordenador geral de Bioeconomia do MCTI&C, Bruno Nunes, complementou que a bioeconomia pode assumir maior protagonismo na agenda de desenvolvimento de país por meio de políticas e projetos estruturantes, que levem em consideração estudos de viabilidade técnico-econômica de recursos da biodiversidade brasileira. “É importante ainda a regionalização da bioeconomia, em que estados tenham suas próprias regulamentações sobre o tema”, completou Nunes.

Conforme a gerente de Assuntos Regulatórios da Natura, Ana Viana, é urgente mapear, além dos ativos da biodiversidade, as pesquisas realizadas e especialidades de Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) para conectá-los com os setores econômicos para gerar riqueza. “Nesse mapeamento, é preciso olhar para comunidades que vivem nesses locais para que eles sejam ainda mais beneficiados pela exploração econômica da biodiversidade, por meio de atividades como o extrativismo e agricultura familiar como fonte de renda real”, afirmou.

"É preciso olhar para comunidades para que sejam ainda mais beneficiados pela exploração econômica da biodiversidade" - Ana Viana, gerente de Assuntos Regulatórios da Natura

Para Rafael Vivian, chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, é necessário alinhar expectativas de empresas e ICTs, que possuem cultura e percepção de valor diferentes no processo de pesquisa e desenvolvimento. Segundo ele, espaços de diálogos e articulação mais frequentes entre os dois setores precisam ser construídos. Vivian destacou ainda os diferentes desafios das duas frentes da bioeconomia.

“Enquanto na bioeconomia extrativista a maior dificuldade é ter mecanismos de valorizar comunidades e oferecer a elas suporte técnico, na bioeconomia de transformação, que foca em nichos de mercado, o problema é a pulverização em que é necessária melhor organização para otimizar o processo”, disse Vivian.

O desafio de organizar os vários nichos de mercado é presente no setor de fármacos. De acordo com Adriana Diaféria, vice-presidente executiva do Grupo FarmaBrasil, associação que reúne indústrias farmacêuticas brasileiras, entre as prioridades para superar obstáculos para o avanço do setor está em uma melhor coordenação da agenda pelo governo. “A sinalização de políticas públicas orienta o setor privado na definição dos modelos de negócios e investimentos”, defendeu.

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