Os minerais críticos são designações de recursos minerais usadas por países e blocos essenciais no contexto da transição energética, da transformação digital e da segurança, conforme o risco de abastecimento para o país ou bloco em questão. Graças aos potenciais desses minerais e suas propriedades, eles são demandados no mundo inteiro para a produção de diversos itens que são essenciais no nosso dia a dia.
Em um mundo preocupado com a aceleração da transição energética e com soluções mais sustentáveis, a utilização dos minerais críticos tende a crescer, uma vez que para a fabricação dessas soluções, como carros elétricos e parques eólicos, é necessário um montante bem maior de minerais críticos.
Pensando nisso, o Fórum Mundial de Economia Circular discutiu como essa demanda pode afetar o mundo, considerando que a extração, separação e produção dos minerais críticos ainda não é universalmente dominada. Pela primeira vez na América Latina, o evento acontece em São Paulo, no Parque do Ibirapuera, de 13 a 14 de maio.
O vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (EIB), Ambroise Fayolle, abriu o painel falando sobre a importância de aliar a economia circular com a cadeia de produção dos minerais críticos. Para Fayolle, essa ação é importante, porque conforme a demanda aumenta, mais eficiente o uso.
Entenda como são classificados os minerais críticos
“Isso é algo que nos ajudará a criar melhores produtos, de forma mais eficiente, usando essas matérias-primas críticas e protegendo o planeta. O que mudou em relação aos últimos anos em relação a elas, é que hoje elas são entendidas mais como parte da competitividade e parte de uma política industrial”, disse.
Mencionando a dificuldade de países europeus para extrair e produzir a partir de minerais críticos, o vice-presidente da autoridade monetária europeia enfatizou no que isso acarreta: a dependência. Ele acrescentou que a instituição tem como objetivo aumentar o número de projetos financiados na área de matérias-primas críticas dentro e fora da Europa.
“Segundo um relatório da Comissão Europeia apresentado há dois meses, fica claro que essas matérias-primas críticas reduzem a quantidade de matérias-primas através da economia circular e isso é visto como algo essencial caso queiramos melhorar nossa competitividade e construir políticas industriais”, introduziu.
É necessário financiamento sustentável para mineração responsável
Para o professor de recursos e política ambiental na University College London (UCL), Paul Ekins, os minerais de transição têm um papel importante para o desenvolvimento sustentável, embora o processo de extração envolva questões “complicadas”. O doutor acrescenta que mesmo com a complexidade na mineração é necessário ser feito uma força-tarefa para que o processo seja realizado de maneira integrada e sustentável.
Ekins é membro do Painel Internacional de Recursos (IRP) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), ferramenta que investiga os problemas de recursos mais críticos do mundo com o objetivo de desenvolver soluções práticas para formuladores de políticas governamentais, indústria e sociedade.
“O IRP tem avaliado a questão de financiamento da oferta responsável de minerais de transição para o desenvolvimento sustentável. Esses elementos são muito importantes, porque estamos falando de números significativos. Segundo a última estimativa da Agência Internacional de Energia para o cenário de emissões zero, esses minerais de transição precisariam de investimento, até 2040, de 800 bilhões de dólares”, disse.
O professor da UCL alertou para a necessidade do financiamento sustentável, classificado por ele como pessoas que são investidoras e acreditam que questões de responsabilidade social e governança são importantes. Esse tipo de investimento, no entanto, vem diminuindo por questões geopolíticas. “Isso precisa ser revertido urgentemente se quisermos ter uma oferta sustentável desses minerais de transição”, pontuou.
“O que isso tudo tem a ver com economia circular? Daqui a 5 ou 10 anos tudo estará relacionado com economia circular, uma vez que para esses minerais entrarem na economia, eles precisarão ser mantidos. Se não tivermos o suficiente, precisaremos de mineração primária desses minerais, pelo menos nos próximos 15 anos. Isso significa que precisamos de um financiamento sustentável, para ter uma mineração responsável”, acrescentou.
Economia circular é a chave para transformar a mineração, mas ainda há gargalos
O diretor de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Rinaldo Mancin reiterou o professor Paul Ekins ao afirmar que a atividade de mineração é complexa principalmente por fatores geopolíticos. Segundo ele, no Brasil, ela representa 4% da economia e se caracteriza como um dos quatro setores mais importantes da indústria.
Mancin disse ainda que nos próximos quatro anos, o setor de mineração investirá US$ 17 bilhões em projetos, em sua maioria, da categoria greenfield – onde começam do zero, em um local onde não existe nenhuma estrutura ou atividade prévia.
O diretor do Ibram, no entanto, destacou alguns gargalos que a atividade ainda enfrenta no caminho para a sustentabilidade. “A economia circular, na mineração, é a chave para transformar tudo, mas temos alguns problemas em relação à lucratividade do negócio, limitações técnicas e tecnológicas e é difícil conseguir uma boa concentração de minerais nesses resíduos de minérios, porque eles já foram processados uma vez. É difícil extrair metálicos, porque a concentração é muito baixa”, exemplificou.
“A boa notícia é que a mineração é uma das respostas se quisermos ter a mudança climática e energia limpa. Você depende da mineração, não importa o tipo de energia a que você se refira. Os minerais são importantíssimos”.
Na Colômbia, regulamentação aumentou utilização de recursos não renováveis e incorporação de energias limpas
A ativista de economia circular Slendy Diaz deu exemplos do país natal, a Colômbia. Segundo ela, os incentivos para a regulamentação da mineração aumentaram a capacidade do uso de fontes não renováveis não convencionais e a incorporação de energias limpas.
“Consequentemente, nós aumentamos a produção de biocombustíveis e aumentamos a produção energética”, concluiu. Diaz mencionou algumas abordagens circulares em relação à transição dos minerais:
- Aumentar a produtividade e a eficiência de minas já existentes, extraindo e separando-os por minerais
- Os rejeitos minerais podem ser aproveitados para produzir novos materiais e gerar novos empregos
- Produzir produtos mais duráveis e oferecer serviços de extensão da vida útil dos produtos feitos
Para a gerente do Programa Ellen MacArthur Foundation, Xiaoting Chen, a economia circular pode ajudar a criar uma cadeia mais sustentável e resiliente para os materiais críticos. E para ela, baterias e eletrônicos devem ser os primeiros a passarem pela transição energética, pela alta na demanda nos próximos anos.
“Até 2030, as empresas vão utilizar mais energia e isso significa um enorme pico de demanda para minerais críticos. Entre hoje e 2040 teremos um crescimento da utilização de níquel e cobalto de até 40%”, esclareceu. Xiaoting fez um contraponto geopolítico em relação à extração dos minerais, afirmando que não é apenas um problema climático, mas também social.
“Vimos e já temos muitos estudos que dão suporte ao argumento de que a economia circular reduz os impactos ambientais e sociais por conta da extração. A circularidade tem o potencial de reduzir as desigualdades globais porque, historicamente, há um desequilíbrio na forma em que os recursos são extraídos e usados. Os países ricos em recursos extraem esses recursos a um custo social e têm um ganho que é capturado em outro local.”
WCEF2025
O Fórum Mundial de Economia Circular é organizado por Fundo Finlandês de Inovação (SITRA), Confederação Nacional da Indústria (CNI), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).
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