Consulta da CNI junto a 100 empresas revela mobilização para agenda ESG

Levantamento aponta que 71% das indústrias respondentes levam em conta critérios de sustentabilidade na estratégia corporativa. Gestão de risco, valor da marca e competitividade estão entre os benefícios

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentou nesta quarta-feira (7) os resultados de uma consulta realizada junto a 100 empresas para verificar o grau de incorporação dos critérios ESG (ambiental, social e de governança) pela indústria brasileira. O levantamento apontou que 71% das respondentes estão mobilizadas e adotam medidas sustentáveis como parte de sua estratégia corporativa. Os dados foram divulgados durante o seminário “ESG e suas contribuições à agenda da indústria brasileira”, evento que integra a programação da CNI para celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Na apresentação da pesquisa, a diretora de Relações Institucionais da Confederação, Mônica Messenberg, destacou os critérios considerados mais relevantes por 94% das empresas consultadas – incluindo tanto aquelas que já estão no movimento de integração quanto as que informaram ainda não ter iniciado esse processo. A gestão de resíduos foi o critério mais relevante apontado no pilar ambiental, enquanto saúde e segurança liderou no aspecto social, e código de conduta ética foi o principal critério no pilar de governança.

O fortalecimento do relacionamento da empresa com seus públicos foi destacado como a principal razão pela qual as empresas incorporam os critérios ESG (44,4% das respostas). O uso sustentável dos recursos naturais e a gestão de riscos ficaram, respectivamente, em segundo e terceiro lugar dentre as motivações. Já quando foram questionadas sobre os benefícios de incorporar critérios ESG em sua estratégia corporativa, os cinco principais citados foram gestão de riscos, valor da marca, uso dos recursos naturais, competitividade e imagem. O mapeamento revelou ainda que o mercado consumidor foi sinalizado por 71,6% das empresas consultadas como o público que mais influencia a organização para que integre ESG à sua estratégia corporativa.

Visibilidade e capacitação são desafios para alcançar pequenas e médias empresas

Dos seis desafios mais indicados pelas empresas que já integraram ESG em sua estratégia e pelas que ainda estão planejando essa integração, cinco são os mesmos: carência de recursos humanos dedicados ao tema; falta de entendimento sobre os critérios e sobre como instituí-los; ausência de termos padronizados; falta de fornecedores e parceiros que cumpram os critérios; e custos elevados para implementação.

Davi Bomtempo e Renato Perlingeiro debatem ESG em pequenas e médias empresas

Para o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, a superação desses desafios envolve maior visibilidade e capacitação, especialmente para que as pequenas e médias empresas adotem esses critérios.


“O levantamento mostrou que a maioria das grandes empresas consultadas já incorporou ou está incorporando a agenda ESG nas suas estratégias, e isso é importante para que possamos evoluir em relação aos benefícios, que vão desde a redução de custos, passando pelo acesso a financiamento e melhoria de reputação e imagem. Agora, o grande trabalho a ser feito é com as menores. Para isso, é importante avançamos em relação à construção de conhecimento, mobilização e qualificação”, disse Bomtempo.


A consulta revelou ainda que a mensuração do desempenho por meio de métricas quantitativas já é feita por 75,5% das empresas que contam com ESG integrado à estratégia. Esse número pode chegar a 86%, já que pouco mais de 10% das respondentes sinalizaram que pretendem desenvolver tais medidas.

Confira a íntegra do seminário:

Contribuições da CNI envolvem articulação com outros temas globais relacionados à sustentabilidade 

O movimento ESG vem ganhando mais espaço e destaque nas estratégias corporativas nos últimos três anos, e a CNI tem acompanhado o tema com atenção. Em 2021, a Confederação publicou um documento que consolida as suas contribuições para a agenda ESG na indústria brasileira, com uma amostra das ações desenvolvidas em concordância com as preocupações globais relacionadas ao meio ambiente, às questões sociais e à governança.

Entre os destaques dos documentos estão a articulação para a ratificação do Protocolo de Nagoia e o lançamento de um roadmap para orientar a indústria na transição para a Economia Circular; a articulação para a aprovação do novo Marco Legal do Saneamento Básico e o atendimento a quase quatro milhões de pessoas em serviços de saúde e segurança no trabalho; e o apoio à aprovação da Lei de Segurança Jurídica e ao aperfeiçoamento na política de dados abertos do governo federal. Este ano, a CNI integrou a Comissão de Estudos Especial da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que está trabalhando em recomendações para orientar as empresas, em especial pequenas e médias, no avanço da incorporação dos critérios ESG em suas estratégias corporativas, em alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Glauco José Côrte, vice-presidente da CNI, durante abertura do painel que discutiu a agenda ESG na indústria

Para o vice-presidente da CNI, Glauco José Côrte, os desafios relacionados à sustentabilidade têm exigido cada vez mais responsabilidade e transparência na forma como as empresas interagem com o meio ambiente, se relacionam com seus públicos e nas estratégias de gestão adotadas. Isso tem impactado diretamente as avaliações de riscos e as decisões de investimentos do mercado financeiro, demandando um reposicionamento das lideranças empresariais.


“Dialogar e incluir os públicos que impactamos e pelos quais somos impactados não é mais um diferencial de mercado, mas o grande desafio para a longevidade das empresas independente do setor. Tangibilizar, trazer concretude, aos conceitos da sustentabilidade tem se mostrado uma das principais propostas dessa agenda ESG”, destacou o dirigente. “Para o Brasil, a integração dos critérios ESG às estratégias de investimento, para direcionar recursos ao atendimento dos grandes desafios socioambientais do país, em especial os relacionados à infraestrutura, é também um dos caminhos para que a transição para uma economia de baixo carbono aconteça de forma gradual e resiliente”, completou.


Côrte fez a abertura do seminário, da qual participaram também o representante adjunto da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial no Brasil, Clovis Zapata, o vice-presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento e presidente do Banco da Amazônia, Valdecir Tose, e o embaixador Ignacio Ybáñez, chefe da Delegação da União Europeia no Brasil. 

O evento contou ainda com três painéis que discutiram questões estratégicas para a implementação da agenda ESG na indústria: como as empresas podem alinhar os critérios ESG aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para contribuir com o alcance da Agenda 2030 no Brasil; o papel do mercado financeiro no fomento de negócios e investimentos a partir da incorporação das práticas ESG; e os caminhos e o potencial de atuação das pequenas e médias na construção de negócios mais inovadores e conectados à agenda sustentável das cadeias de valor.

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