O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, afirma que é a hora de mobilizar o Brasil por uma nova industrialização. "Depois de anos de declínio, temos uma oportunidade única, talvez a última dessa geração, de revitalizar o nosso setor e entregar ao Brasil tudo que uma indústria forte e dinâmica pode entregar a um país: desenvolvimento econômico e social, com inovação e geração de empregos de mais qualidade", disse.
O empresário tomou posse como presidente da CNI, nesta terça-feira (31), em solenidade em Brasília, à frente da nova diretoria, que exercerá mandato de 2023 a 2027. Alban lembra que o Brasil tem um governo e um Congresso novos, com consciência das oportunidades e dispostos a serem parceiros indispensáveis da neoindustrialização.
"Avanços tecnológicos, a digitalização da indústria 4.0, a nova economia verde e a revisão geopolítica das relações comerciais abrem oportunidades inéditas para a indústria no Brasil. Não podemos desperdiçá-las", explica.
Segundo Alban, a nova industrialização que se desenha também pede uma nova gestão na CNI. Ele reconheceu o bom trabalho feito pelas últimas gestões, como a do seu antecessor, Robson Braga de Andrade, e pretende intensificar os trabalhos da CNI para dar foco total nos eixos da neoindustrialização.
Ele lembra que a CNI não faz nada sozinha. "Precisamos de todos. Dos pequenos industriais do interior desse grande país aos grandes industriais brasileiros e globais, que precisam cerrar fileiras com a Confederação. Temos que pensar de forma sistêmica, internacional, nacional e regional", garante.
Foco no aumento da competitividade e da produtividade
A prioridade de Alban à frente da CNI será no aumento da competitividade e da produtividade das indústrias no Brasil. "A indústria brasileira vem perdendo a capacidade de competir nos mercados globais, o que é retratado de forma cristalina na nossa produtividade. A produtividade da indústria de transformação brasileira caiu quase 1% ao ano desde 1995. Enquanto cada hora trabalhada no Brasil gerava R$ 45 em produtos em 1995, hoje ela gera só R$ 36", avalia. Segundo ele, o Brasil tem o que precisa para dar o salto de qualidade:
"Temos, nós todos aqui, industriais resilientes, calejados, corajosos, dispostos e capazes de enfrentar tantas dificuldades para produzir, gerar e distribuir riqueza pelo Brasil. Sempre contando com a imprescindível cumplicidade de todos os colaboradores industriais, que completam a relação capital e trabalho", diz Alban.
O novo presidente da CNI afirma que, de sua experiência como presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), ele levará o diálogo, o aumento da eficiência e das entregas e a missão fundamental de atender à indústria. "Vamos transformar esse país pela indústria. A CNI está pronta para caminhar nesse grande objetivo, sempre ao lado de todas as indústrias no Brasil, com suas lideranças setoriais e regionais, e toda a nossa força de trabalho. Acreditem, vale a pena", afirma Alban.
Agenda de competitividade na pauta do Legislativo e do Executivo
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) destacou o papel da CNI na representação da indústria para o desenvolvimento do país. Para os próximos meses, ele disse que a Casa trabalhará na formulação de políticas públicas e melhorias legislativas que contribuam para um arcabouço legal que traga segurança jurídica e que remova os entraves ao crescimento dos diversos setores da economia. Essa agenda inclui medidas de desburocratização e de simplificação de regras que melhorem o ambiente econômico.
“É obrigação moral reconhecer a contribuição da CNI e da indústria para o país. Em 2022, a indústria era quase 24% do PIB. E mais do que isso, é responsável por milhares de postos de trabalho e pelo recolhimento de grande parte dos impostos, que sustentam o setor público. Por isso, enfatizo a relevância do setor e a necessidade de apoiá-lo de todas a formas que for preciso”, disse o parlamentar.
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que o Brasil terá uma indústria verde e será o protagonista da agenda de descarbonização. Segundo ele, os biocombustíveis chegarão a 15% da mistura do diesel e o etanol pode passar de 27% para 30% da composição da gasolina, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.
Na pauta do clima, ele destacou que o Congresso Nacional já está votando a proposta que regula mercado nacional de carbono, as eólicas offshores e o novo PADIS, regime de incentivos fiscais para a produção de semicondutores e de materiais utilizados na geração de energia solar. Lembrou, ainda, que o governo deve anunciar o projeto que institui a depreciação acelerada, medida essencial para acelerar a renovação do parque industrial.
“Já instalamos o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial e estamos trabalhando em uma nova política industrial. O BNDES terá R$ 60 bilhões para inovação, pesquisa e desenvolvimento e digitalização, além dos recursos não-reembolsáveis. E quero agradecer a Câmara por ter votado pela TR, com juros negativos, estimulando a inovação e o desenvolvimento do nosso país”, disse.
Veja os principais temas abordados no discurso do presidente Ricardo Alban
Negociações do Acordo Mercosul-União Europeia precisam ser concluídas
"Importante que possamos concluir as negociações entre o Mercosul e a União Europeia. Obviamente, dando condições do incremento no intercâmbio comercial de forma transparente, permitindo que possamos, também, desenvolvermos nossa política industrial, como já é feita pela Europa."
A política industrial como caminho para o desenvolvimento socioeconômico
"Não existe país grande que não tenha dado salto de qualidade sem avanços industriais. A indústria liderou a transformação que levou a Inglaterra do século 18 e os países asiáticos do século 21 a novos patamares de desenvolvimento socioeconômico. A China se tornou a potência global que é pela sua indústria. A Coreia do Sul também."
"Não queremos só incentivos. Mas eles também são necessários para competirmos em igualdade, especialmente nas novas áreas. As empresas no mundo receberam US$ 40 bilhões a mais em subsídios no primeiro semestre de 2023. Os governos das grandes potências, como Estados Unidos (EUA) e China, estão investindo bilhões de dólares para, por exemplo, aproveitar as oportunidades da revolução industrial verde. Mas, muito mais que incentivos, nós queremos condições para competir e entregar ao Brasil o que só a indústria pode entregar: mais empregos de alta qualidade, inovação e inserção nas cadeias globais de produção."
Indústria precisa de crédito público e privado para avançar na retomada
"Estamos conscientes de que o crédito público nunca será capaz de atender a todas as necessidades da indústria. Aproveito para parabenizar o BNDES pelas ações de estímulo a industrialização. O crédito privado é muito maior e mais capilar, mas é preciso aprofundar o diálogo com o sistema financeiro para que os financiamentos impulsionem a indústria e não sejam um obstáculo para nossa atividade."
"A intermediação financeira é de capital importância na estrutura de financiamento do setor produtivo. É preciso estabelecermos um diálogo construtivo com o sistema financeiro, que permita termos financiamentos a custos competitivos."
Reformas tributária e administrativa devem dar maior eficiência ao Estado
"Somos a favor de um governo solidário, mas eficiente. A indústria é penalizada por uma carga tributária pesadíssima, mas que deve melhorar com a reforma tributária. Esperamos também uma reforma administrativa que aumente a eficiência do Estado brasileiro reduzindo seu custo. O Brasil não dará o salto socioeconômico que queremos sem a indústria, mas a indústria não dará esse salto sem o Brasil. O Congresso já trabalha uma pauta econômica reformista e modernizadora. A reforma tributária avança e será fundamental. E vamos nos aproximar mais dos nossos parlamentares."
Ações para ampliar da participação de mulheres em postos de liderança
"Precisamos, também, criar condições para as mulheres ocuparem mais espaço nas lideranças empresariais e institucionais. Ainda que na CNI as mulheres representem 59% dos cargos de liderança, temos muito poucas mulheres presidentes de Federações. Em maio de 2022, a CNI lançou o Fórum Nacional da Mulher Empresária, o qual terá todo o nosso apoio."
Foco em startups industriais para fortalecer ecossistema de inovação
"Queremos condições de competir. Uma estrutura física e regulatória que nos permita competir com o mundo, crédito a preço justo, educação de qualidade e estímulo a inovação e P&D que produzam o conhecimento e as tecnologias necessárias para este novo momento."
"Na área de tecnologia, inovação e P&D, já há o compromisso de mais recursos para a Embrapii e centros tecnológicos. E nisso, lá na FIEB, temos a experiência muito bem-sucedida do nosso Cimatec que mostra como o sistema das federações podem ser efetivos nessa transformação."
"Vamos dar especial atenção a criação de um ambiente de startups industriais, como o setor financeiro e o agronegócio já estão fazendo, com grandes resultados."
A necessidade de qualificar o trabalhador para a neoindustrialização
"Na frente da qualificação, temos já na CNI e nas federações um know-how enorme com o Sistema S, que pode ser expandido. E será feito, de forma a atender as enormes demandas que virão com a neoindustrialização."
"O ministro (Fernando) Haddad lembrou outro dia de uma proposta que ele fez ainda como ministro da Educação de oferecer contra turno profissionalizante aos alunos da rede pública. Estamos dispostos a pensar fora da caixa até porque a caixa não nos serve mais."
Robson Braga de Andrade faz balanço de sua gestão
O ex-presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, afirmou ter certeza de que o novo presidente Ricardo Alban saberá imprimir o seu estilo ao Sistema Indústria na busca incessante pela excelência. "Nós, do Sistema Indústria, procuramos auxiliar a sociedade, como temos feito há mais de oito décadas. Repito o que eu disse ao longo dos anos à frente da CNI: 'não existe país desenvolvimento sem indústria forte'", afirmou durante a cerimônia de posse.
Robson Andrade avalia que o país ainda precisa combater mais decisivamente a burocracia e os crônicos entraves ao crescimento da economia.
"Os governos devem adotar uma mentalidade mais voltada para a redução do enorme ônus de se produzir aqui. O Custo Brasil retira cerca de R$ 1,7 trilhão das empresas por ano no país. É preciso facilitar a vida das nossas empresas, sem as quais não se criam os valiosos empregos que trazem tranquilidade e prosperidade para as famílias", afirma.
Para ele, é preciso investir na qualidade da educação em todos os níveis, assim como na qualificação profissional, uma tarefa fundamental para capacitar a população jovens e garantir plena cidadania a todos os brasileiros.
A excelência dos serviços prestados por SESI, SENAI e IEL
Em um rápido balanço de sua gestão, o ex-presidente da CNI lembrou que o Serviço Social da Indústria (SESI), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) expandiram suas atividades, aperfeiçoaram seus métodos e ganharam o reconhecimento internacional pela excelência dos serviços prestados ao Brasil.
Existem, atualmente, 28 Institutos SENAI de Inovação e dos 59 Institutos SENAI de Tecnologia, resultados da iniciativa adotada há 10 anos e que promove a revolução tecnológica na indústria brasileira. Além disso, o SESI e o SENAI foram cruciais na batalha contra a pandemia da Covid-19, ajudando o país a vencer essa calamidade sanitária.
"Na CNI, também atuamos para aprovar as reformas estruturais que eram postergadas há várias décadas e que, viabilizadas, vão pavimentar o caminho para o crescimento. O país aprovou uma reforma trabalhista, que tornou as relações de trabalho mais modernas e próximas da realidade econômica mundial, e aprovou, também, uma necessária reforma da Previdência Social. Essa mudança foi indispensável para começarmos a reequilibrar as contas públicas, que ainda passarão por ajustes a serem promovidos pelo novo arcabouço fiscal", afirma.
Além disso, nos 13 anos da gestão de Robson Andrade, a CNI contribuiu com os Três Poderes da República a partir da edição anual da Agenda Legislativa da Indústria e da Agenda Jurídica da Indústria; além de ciclos de encontros com os presidenciáveis, entre outras ações. Mais recentemente, apresentou à sociedade o Plano de Retomada da Indústria, um ambicioso programa que tem subsidiado o desenho da nova política industrial do governo, e o Mapa Estratégico da Indústria 2023-2032.
"Permaneço confiante e otimista em relação ao Brasil. Espero continuar contribuindo com a indústria brasileira e com o país, agora na condição de conselheiro emérito da CNI. Portanto, hoje não é dia de adeus, mas apenas de um até logo", afirmou Robson Andrade.