
O painel “Desbloquear o potencial do capital humano: como proteger, construir e capacitar as pessoas face aos desafios globais” do B20 Summit Brasil 2024 trouxe formas de criar um mercado de trabalho inclusivo, sem perda de empregos e desenvolvimento tecnológico.
O futuro do mercado de trabalho, segundo o Fórum Econômico Mundial, já passa por transformações. Até 2027, um quarto dos empregos vão mudar e 60% dos trabalhadores precisarão buscar novas habilidades.
“Pra encarar tudo, precisamos de uma força de trabalho que tenha resiliência, habilidades, curiosidades, comunicação e construção de conhecimento. Assim, teremos profissionais com capacidade de abarcar todas essas tecnologias e novidades trazidas pela transformação digital”, afirma a Anna Marks, presidente global da Deloitte.
A adaptação às mudanças tecnológicas está no centro das estratégias de muitas organizações e não pode ser feita isoladamente. É necessária a colaboração de governos, do setor privado, de instituições de educação e de empresas de todos os portes.
Confira a seguir cinco pontos para alavancar o mercado de trabalho:
Uma transição de carreira precisa ser feita com todos!
A transformação digital é irreversível e o sucesso das empresas está diretamente ligado à sua capacidade de adaptação. Dados do Fórum Econômico Mundial mostram que, nos próximos cinco anos, 83 milhões de empregos serão perdidos. Além do surgimento de 89 milhões de novas oportunidades.
Segundo a empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração da Magazine Luiza, é necessário aumentar o nível de consciência das equipes, dos empresários e dos governos para acompanhar essa nova realidade.
"Práticas anteriores não funcionam mais. A transição de funções é inevitável, e não haverá desemprego se os trabalhadores entenderem que há novos papéis a serem ocupados. Por exemplo, o funcionário que antes era caixa pode se tornar o responsável pelas entregas rápidas de vendas online", explica Trajano.
Essa transformação exige muito mais do que apenas vontade: requer treinamento, participação ativa dos líderes empresariais e governamentais, e, sobretudo, velocidade. "Hoje, o consumidor digital, além de preço, exige rapidez. Se antes ele aceitava esperar 30 dias para receber um produto, hoje quer a entrega em apenas 1 hora. Para isso acontecer, muitas mudanças são necessárias", afirmou Trajano.
A IA não precisa ser uma inimiga
A inteligência artificial (IA) não deve ser vista como uma substituição de trabalhadores, mas sim uma ferramenta para aumentar a eficiência e segurança no ambiente de trabalho.
Habilidades humanas, como liderança, comunicação e pensamento estratégico, continuam essenciais. "A IA não é inteligente no sentido literal, apenas processa informações. A inteligência humana ainda é indispensável para as relações e decisões no ambiente corporativo", afirma Jaqueline Mugo, diretora-executiva e CEO da Federação de Empregadores do Quênia.
A verdade é que a IA promove agilidade de processos, como a automação de tarefas repetitivas. O desafio é, junto do crescimento das tecnologias, promover a inclusão digital. "Precisamos melhorar a cooperação digital e garantir infraestrutura acessível para que todos possam participar dessa transformação tecnológica", ressalta a CEO.
Caminhar junto e diálogo são o caminho da inclusão digital
Segundo Fausto Augusto Junior, presidente do Conselho Nacional do SESI, a digitalização e a transição tecnológica no mercado de trabalho são temas que vêm sendo discutidos há décadas. "Falamos sobre transição tecnológica em todas as revoluções industriais", diz Fausto.
Hoje, o maior desafio não está na quantidade de empregos que desaparecerão ou surgirão, mas sim no "hiato" que se forma entre essas transformações. O que resulta em um descasamento entre as novas vagas e a mão de obra disponível.
Para enfrentar esse desafio, ele destaca a importância de parcerias voltadas para a educação e o treinamento contínuo. O Sistema S, incluindo o SENAI, tem atuado nessa frente por 80 anos, ajudando a reduzir esse gap, que varia de acordo com a região, setor e geração.
"Precisamos preparar os jovens para as novas oportunidades que surgem, enquanto os trabalhadores cujo posto desapareceu devem ser aprimorados, agregando novos conhecimentos”, afirma o presidente.
Falar de inclusão é olhar para as mulheres!
Durante palestra, Ana Fontes, presidente do W20, destacou a necessidade urgente de recalcular as rotas para criar um ambiente mais justo e inclusivo, especialmente para as mulheres.
Em um mundo marcado por “poli-crises”, como guerras e desigualdades de gênero e idade, Ana afirma que é essencial aprender com as informações e experiências já disponíveis.
Ela apontou temas críticos que precisam ser combatidos: violência contra a mulher; o apoio ao empreendedorismo feminino; a maior participação das mulheres em áreas de STEM; a justiça climática com perspectiva de gênero; e o reconhecimento da economia do cuidado.
"Quanto mais vulneráveis as mulheres estão, menos acesso elas têm a recursos financeiros e ambientes digitais, o que afeta suas condições de vida", alertou Ana. Ela defendeu que tanto homens quanto mulheres devem compartilhar responsabilidades no cuidado de famílias, crianças e idosos, e que essa atividade precisa ser reconhecida social e financeiramente.
Ana também destacou a exclusão das mulheres no processo de digitalização, ressaltando que elas são as que têm menos acesso à transformação digital. "Garantir autonomia econômico-financeira para as mulheres não apenas melhora a vida delas, mas também a de suas famílias e da sociedade como um todo", afirmou.
Letramento digital: inclusão, inovação e educação
Darío Werthein, presidente da Vrio Corporation, falou sobre a importância de garantir a inclusão digital. De acordo com ele, "inclusão digital é garantir que todos tenham a oportunidade de serem educados e transformados".
Além disso, reforçou a necessidade de melhorar a qualidade da educação, com foco em letramento digital e no desenvolvimento de currículos inovadores. "Podemos mudar o mundo se mudarmos nosso sistema educacional", afirmou o especialista.
Para ele, a grande jogada é focar em modelos pedagógicos que combinem a educação com o entretenimento. Com isso, é possível promover motivação, trabalho em equipe, adaptabilidade e pensamento crítico. Werthein também destacou o papel das telecomunicações e plataformas digitais para criar novas formas de interação.
Para isso, é necessário a criação de regulamentações e políticas públicas flexíveis, além de parcerias entre os setores público e privado. "O mundo do futuro precisa ser construído em valores sólidos", concluiu, ressaltando a importância do desenvolvimento educacional.
O B20 Brasil 2024
O B20 é o fórum de diálogo mundial que conecta a comunidade empresarial aos governos do G20, mobilizando mais de mil representantes do setor privado dos países membros. A edição brasileira reúne sete forças-tarefas e um conselho de ação.
Os grupos de trabalho são formados por empresários do Brasil e estrangeiros que debateram, desde o início do ano, propostas de temas urgentes: Comércio e Investimento, Finanças e Infraestrutura, Emprego e Educação, Transição Energética e Clima, Transformação Digital, Integridade e Compliance, Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura, além do Conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão em Negócios.
O B20 Summit Brasil está sendo realizado no Clube Monte Líbano, em São Paulo, e tem o patrocínio da Sabic, Aramco, Equinor, Mastercard, JBS, Vrio-Sky, Google, BNDES, BRF-Marfrig, ABDI e Finep, além do apoio institucional do Sebrae e do Conselho do Serviço Social da Indústria (SESI).
