Cofundadora do Biomimicry Institute, a bióloga americana Janine Benyus acredita que a natureza é fonte de inspiração para criar soluções sustentáveis para o dia a dia. Referência em biomimética, ela é a primeira palestrante do Congresso Internacional de Inovação da Indústria. O evento híbrido (presencial e online) começa nesta quarta-feira (27), no São Paulo Expo, na capital paulista. (Ainda dá tempo de se inscrever clicando aqui!)
- Pra entender o que é biomimética e conhecer alguns exemplos (inclusive no Brasil), confere aqui.
Janine também é consultora de inovação e autora de seis livros, incluindo o Biomimética: Inovação Inspirada pela Natureza.Foi em 2006 que ela criou em Montana, nos Estados Unidos, a organização sem fins lucrativos dedicada a estudar e promover a biomimética.
Em entrevista para a Agência de Notícias da Indústria, a biológa explicou que embora os seres humanos modernos estejam na Terra há 200 mil anos, outros seres vivos começaram a habitar o planeta há 3,8 bilhões de anos, o que faz de nós extremamente jovens e com muito a aprender.
“Organismos mais velhos do que nós tiveram bilhões de anos para desenvolver inovações que cabem aqui na Terra. Quando você entra em uma floresta, cada organismo que você vê é um laboratório de fabricação química, produzindo materiais incríveis com a energia do sol e processos químicos”, explica.
Confira os principais pontos da conversa com Janine Benyus:
O que é biomimética?
A bioóloga explica que a biomimética nada mais é do que uma prática de inovação que imita conscientemente a genialidade da natureza e da vida na engenharia, na arquitetura, na química, no design, nos negócios, no planejamento urbano, e em todas as formas de inovação humana. “Em todo o mundo, os biomiméticos estão aprendendo a repelir bactérias como um tubarão, a criar concreto como um coral, a preservar vacinas como um urso d’água e a criar cores como um pavão”, exemplifica.
A biomimética se baseia, portanto, no olhar atento à natureza para melhorar o cotidiano. E a natureza, segundo Janine, mostra o potencial regenerativo de uma infinidade de espécies, que apresentam aos seres humanos os caminhos para tornar o mundo mais sustentável e, por que não, habitável.
“Se quisermos permanecer neste planeta como uma espécie bem-vinda e sermos regenerativos em todos os nossos esforços é exatamente isso que precisamos aprender. Felizmente, não precisamos inventar isso do zero. Um mundo regenerativo já foi inventado e estamos cercados por modelos viáveis de ecoinovação”.
Quando o ser humano se distanciou da natureza?
Mas quando foi que nós, seres humanos, paramos de olhar um pouco ao redor e nos concentramos mais em nós mesmos? Janine acredita que isso aconteceu quando ficamos encantados demais com nossa capacidade de criar “proezas tecnológicas”. “Foi aí que paramos de admirar o restante do mundo natural como costumávamos fazer. Há não muito tempo atrás, os humanos respeitavam e admiravam outros organismos por sua capacidade de voar e de nadar a enormes profundidades. Depois nós também aprendemos a voar, a navegar, a sobreviver em climas extremos. Parecia que não precisávamos mais da natureza”, compara.
O ser humano voltou a procurar resposta na natureza?
Agora, Janine diz, o ser humano se vê em uma emergência criada por nós mesmos. “Com as sirenes do aquecimento global e da perda da biodiversidade tocando, estamos retornando ao mundo natural com um novo respeito e admiração. Nossa questão, agora, também é sobreviver aqui de uma forma que valorize esse lugar para as gerações futuras”.
Como inovação e sustentabilidade andam juntas?
Há 25 anos na biomimética, Janine conta que, no início de sua carreira, acreditava que todas as empresas que lutavam pela sustentabilidade tinham biólogos trabalhando lado a lado com a área de inovação, mas se surpreendeu ao descobrir o contrário. “Depois que lancei meu livro, grandes empresas começaram a me procurar e a perguntar se eu poderia enviar biólogos para inspirar suas equipes de engenharia, de química, de arquitetura, de design de produto e de design de fabricação”.
Foi aí que começou a consultoria Biomimética 3.8, que conta com mais de 250 clientes, entre empresas, governos e organizações não-governamentais (ONGs).
"Estamos em um momento como nenhum outro na história de nossa espécie, quando até mesmo a maneira como vivemos se mostra insustentável e uma ameaça à nossa própria sobrevivência".
O que podemos aprender com a natureza em um momento de emergência climática?
Janine acredita que o que todos os organismos bem-sucedidos fazem quando seu comportamento compromete o futuro é mudar de estratégia para enfrentar o momento. “É isso que devemos fazer também. Este é um momento muito bom para lembrarmos que somos a natureza e, portanto, tão capazes quanto qualquer organismo de viver aqui de forma sustentável. Acredito que nossas invenções são naturais porque nós, como espécie biológica, as criamos”.