Investimento em inovação é essencial em meio à reestruturação de cadeias globais

Em reunião da MEI, empresas mostraram estratégias de inovação e especialistas discutiram estratégias para assegurar e ampliar recursos para ciência, tecnologia e inovação

ilustração traz alvo ressaltado por lupa e diversos ícones, como pessoas, computadores e um globo, em volta

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, afirmou que o Brasil está diante de uma série de oportunidades com o atual contexto geopolítico e econômico mundial.

Esse foi o tema da Reunião do Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), realizada nesta sexta-feira (23) no escritório da CNI em São Paulo. Durante o encontro, líderes empresariais, especialistas e pesquisadores debateram a importância da indústria e da inovação diante das profundas transformações globais, em especial dos desafios impostos pela reorganização da lógica de produção.


“Os investimentos em inovação são essenciais para a indústria brasileira aproveitar as oportunidades que estão se abrindo com o processo de reestruturação das cadeias globais de valor e para conquistar um lugar de maior destaque no concorrido mercado mundial”, enfatizou Robson Andrade.


 

Presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, à esquerda, é um homem branco, de cabelos brancos e óculos. Na foto, está acompanhado de Pedro Wongtchoswki, também branco e mais velho. Ambos usam óculos.
Robson Braga de Andrade acredita que reestruturação de cadeias pós pandemia é oportunidade para indústria brasileira

Ele observou que os debates sobre os riscos desses arranjos produtivos, como a concentração da produção em poucos países e a elevada dependência de um pequeno número de fornecedores, se intensificaram com os impactos da pandemia de Covid-19 e da guerra na Ucrânia sobre a fabricação e o transporte de mercadorias em todo o mundo.

Representantes de duas grandes indústrias com atuação no país apresentaram estratégias globais de posicionamento, a partir desse novo contexto da globalização. Para Daniel Moczydlower, CEO da Embraer-X, que está desenvolvendo o “carro voador”, a posição ruim do Brasil em rankings globais de inovação traz preocupação e mostra que “o nosso dever de casa é grande”, mas ao mesmo tempo aponta para um caminho de oportunidades.

Daniel Moczydlower, CEO da Embraer-X, é um homem branco, de cabelo escuro, que usa terno cinza escuro, camisa azul clara e gravata azul estampada
Daniel Moczydlower, CEO da Embraer-X, defende políticas de Estado que impulsionem a inovação

"Nosso país tem condições de se reposicionar, mas tudo isso depende de políticas de Estado de longo prazo para que possamos construir esse caminho e ocupar esse espaço”, destacou o CEO da Embraer-X.

“Talvez seja o último trem, e o Brasil não pode perdê-lo. As nossas reformas precisam ser discutidas e avançadas. O país precisa aumentar sua produtividade e ter disposição para de fato inovar”, completou Moczydlower.

O vice-presidente da Siemens Energy para a América Latina, André Clark, avalia que o país deve se posicionar e ganhar relevância a partir de fatores como as mudanças climáticas e o novo jogo geopolítico. “O Brasil e a América Latina se configuram como produtores de energia renovável com os valores mais baixos do planeta. Estamos diante de uma ótima oportunidade”, pontuou Clark.

O chefe da seção de pesquisa de políticas de tecnologia e inovação na divisão de tecnologia e logística da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Clovis Freire Junior, traçou um cenário sobre os desafios do Brasil no panorama geopolítico. Segundo ele, Estados Unidos e China estão se tornando os dois principais polos da Indústria 4.0 neste momento de revolução tecnológica.


“Os produtos que o Brasil exporta com vantagem competitiva são bem específicos como petróleo, aviões e carne bovina. O desafio é promover a diversidade econômica no Brasil, com novos produtos sendo adicionados. É preciso criar condições para o aumento da digitalização e da Indústria 4.0”, destacou Freire Junior.


O secretário executivo interino da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Mario Cimoli, considera que o Brasil precisa com urgência investir na retomada de uma indústria forte, fator, segundo ele, essencial para a recuperação econômica. “As economias mais diversificadas e completas estarão mais preparadas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e para serem mais sustentáveis. Não existe milagre de crescimento se não houver políticas industriais e tecnológicas de longo prazo que concedam incentivos aos setores mais dinâmicos”, frisou Cimoli.

Rever teto de gastos pode ser estratégico para assegurar recursos para CT&I

Foto traz três homens brancos, de terno, em sala de reunião.
Coutinho defende revisão de teto de gastos para acomodar recursos para inovação

Para o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho, que esteve na reunião, é preciso revisar mecanismos que se tornaram obstáculos aos investimentos em ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Ele defende que o poder público atualize as regras do teto de gastos, que estabelece limites para gastos federais sob a justificativa do equilíbrio fiscal. 


“A lição recente mostra que o teto reprime a capacidade de investimento do setor público e o tornou a única variável de ajuste. Então, precisamos preservar o lado bom do teto e aperfeiçoá-lo, porque os investimentos geram retorno”, afirmou.


“Os investimentos em CT&I têm uma taxa de retorno elevada para a sociedade e para a receita tributária futura. Podemos ter um teto de gastos, mas não um teto de investimentos”, acrescentou Luciano Coutinho.

Atualmente, o Brasil investe apenas 1,17% do PIB em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Esse percentual é muito inferior ao de países que se destacam na agenda de inovação, como Israel - que investe mais de 5% do seu PIB para P&D, China (4,64%), Japão (3,2%) e Estados Unidos (3,07%). A média de investimentos entre os países da OCDE é 2,48% do PIB. As empresas que fazem parte da MEI, no entanto, se caracterizam por priorizar essa área como estratégia de crescimento.

MP limita uso de principal fundo de financiamento à inovação no país

No fim de agosto, o governo editou a Medida Provisória 136/2022, que limita o uso de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal fonte de financiamento à inovação do país. O secretário-executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações, Sérgio Freitas de Almeida, disse na Reunião da MEI que, apesar das limitações impostas pela MP, não houve cancelamentos das operações já realizadas com base em recursos do FNDCT e que ainda há saldo a executar.

“A MP impacta, mas o valor que temos hoje é bastante superior ao que tínhamos em anos anteriores. A demanda (por projetos de CT&I) é muito maior que isso, mas não deixa de ser um número expressivo com o qual estamos trabalhando”, disse.

Líder da MEI, o empresário Pedro Wongtschowski pontuou que a CNI já se manifestou formalmente contrária à MP 1.136/22, em ofício entregue ao Senado Federal, onde a medida será votada. “A posição oficial da CNI é de que a MP é inconstitucional. Esperamos que ela seja derrubada, mas provavelmente já terá gerado efeitos irreversíveis em 2022”, afirmou Wongtschowski.

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