Um produto fácil e barato de ser fabricado, mas com um impacto ambiental centenário. Não seria exagero dizer que todo plástico produzido no mundo ainda se encontra aqui entre nós. Também, com uma vida útil de até 400 anos e versatilidade surpreendente, esse coletivo de polímeros sintéticos é a base para a criação de uma infinidade de produtos e adequações. E, sim, ele pode ser aliado da sustentabilidade a partir de soluções preventivas e inovadoras. O pulo do gato? Economia circular.
Pensando nisso, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) elaborou um estudo pioneiro e alinhado com o setor para estimular mudanças da cadeia produtiva de fabricação até o pós-consumo do plástico. Como resultado prático, um roteiro de soluções com metas até 2030 foi apresentado, na quarta-feira (26), durante o lançamento do estudo Diagnóstico Nacional para Economia Circular – Cadeia do Plástico, em cerimônia na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN).
A economia circular é um dos quatro pilares da estratégia da indústria para uma economia de baixo carbono e o estudo tem o intuito de ser o projeto impulsionador para um ciclo de Programas de Estudos de Circularidade em âmbito nacional. A iniciativa é coordenada pelos Institutos SENAI de Inovação em Química Verde (RJ), Polímeros (RS) e Biossintéticos (RJ), e pelo Instituto SENAI de Tecnologia Química e Meio Ambiente (RJ).
“A partir do conceito de circularidade, da qualificação profissional e do desenvolvimento tecnológico, a aliança firmada entre as empresas buscou alcançar um novo cenário econômico para o setor, alinhado às diretrizes globais de sustentabilidade”, ressalta o diretor de Inovação e Tecnologia do SENAI Nacional, Jefferson Gomes.
Ampliação de ações de economia circular até 2030
Um conjunto de propostas foram escalonadas, no intervalo de 2024 a 2030, de forma a atender os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU). A mais ambiciosa estabelece que as empresas do setor tenham, até 2030, 100% de parceiros que apliquem a economia circular em suas empresas.
“Também está condicionado à meta terem adicionalmente, no mínimo, um parceiro que aplique uma iniciativa relacionada a resíduos, outro parceiro com iniciativa relacionada a pegada hídrica, outro parceiro com iniciativa relacionada a pegada energética e um outro parceiro com iniciativa relacionada aos plásticos”, explica o coordenador técnico do estudo e especialista em Serviços Tecnológicos do Instituto SENAI de Inovação em Química Verde (RJ), Thiago Santiago Gomes.
Na lista de parceiros figuram a Casa Firjan, Braskem S.A., Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo S.A. (ENEL S.A), Botica Comercial Farmacêutica LTDA (Grupo Boticário), Motech Plásticos, Wirklich Plastics, TOCO Engenharia, METHANUM, Biomédica, Grupo Petrópolis, JOTUN Brasil, Greenpeople, Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) e o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
O instrumento escolhido na elaboração do estudo foi a aliança Agenda.Tech, da Plataforma Inovação para a Indústria, para ajudar empresas na aquisição de percepções concretas sobre como elas podem acelerar a transição para uma economia circular, e quais as oportunidades que a acompanham por meio dessa abordagem.
Na avaliação do coordenador técnico do estudo, o trabalho foi impulsionador para as indústrias que de alguma forma se relacionam com o plástico. “Trazendo uma visão holística de toda a cadeia e os desafios deste material, que apesar de ser extremamente importante tem sido muito questionado. Neste estudo, que contou com indústrias, universidades e a rede Senai, orientamos ações em pesquisa, capacitação e tecnologia para tornarmos o setor mais circular”, destaca Thiago Santiago Gomes.
Economia circular é prioridade para associações do setor
A implementação da Economia Circular na cadeia produtiva é apontada como prioridade para a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e para a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Entre os objetivos centrais das entidades estão expandir o uso de materiais reciclados e estimular o incremento da reciclabilidade e o uso de novos materiais na indústria. Dados da Abiplast apontam que, em 2021, apenas 11,5% de plásticos fabricados no país foram reciclados.
A Abiplast considera que a elevação dos índices de reciclagem passa pela maior disponibilidade de matérias-primas oriundas da coleta seletiva, como sucatas plásticas recicláveis. Outro desafio é capacitar fornecedores como cooperativas e comércio atacadista de recicláveis para atuar corretamente e considerando a nova realidade da economia circular.
Para o presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz Coelho, o momento exige a discussão das novas tecnologias e das novas matrizes energéticas para fortalecer o ambiente de negócios, a indústria e a economia circular 4.0.
“Hoje alguns mercados estão voltando a utilizar matrizes energéticas mais poluentes devido ao cenário de dificuldades, ao passo que existe a preocupação com a agenda da sustentabilidade, economia circular e ASG”, afirma. “O uso de tecnologias é essencial para solucionar os desafios impostos para a cadeia produtiva. É o caso do projeto em que a Abiplast e a ABDI estão trabalhando tecnologias de rastreamento, em que já podemos constatar cases de sucesso com embalagens plásticas, obedecendo todos os processos e etapas da economia circular”, ressalta.
Já para a indústria química brasileira, a economia circular é um componente-chave para o desenvolvimento sustentável, de maneira que recursos e materiais podem ser circulados continuamente de modo a eliminar a geração de resíduos, ao mesmo tempo em que se adiciona valor a todos os elos da cadeia.
“A partir de ações que geram, por consequência, investimentos em pesquisa e inovação, parcerias com instituições de ensino e o fortalecimento de cooperativas de recicladores, promovendo dessa forma a sustentabilidade ambiental, econômica, empresarial e social”, esclarece o presidente-executivo em exercício da associação, André Passos Cordeiro.
Conheça os processos de economia circular do plástico
1. Redução
Diminuindo a quantidade de material, energia e outros recursos usados para produção do plástico e reduzindo o peso do plástico usado nos produtos.
2. Reutilização
Reutilizar um objeto ou material, para sua finalidade original ou para uma semelhante, sem alteração significativa da forma física do objeto ou material.
3. Remanufatura
Processo de restaurar produtos plásticos usados duráveis para novas condições e vida útil, quando possível.
4. Reciclagem
Reciclar produtos plásticos no final de sua vida útil para criar plásticos. A reciclagem altera as propriedades do material.