Carne bioimpressa: do laboratório e, no futuro, às prateleiras dos mercados

As proteínas cultivadas são tendência mundial para reduzir o abate de rebanhos e aumentar a produção de alimentos. No Brasil, tecnologia é desenvolvida pelo SENAI

Ainda é necessário passar por etapas regulatórias fundamentais para inserir o produto no mercado brasileiro. O prazo estimado pelos cientistas é de ao menos cinco anos

“As fazendas do futuro não terão somente pastos. Elas serão formadas, também, por grandes tonéis de concentração e de reprodução de células tronco”. A explicação é da pesquisadora Josiane Dantas, coordenadora do programa de mestrado em Gestão e Tecnologia Industrial do SENAI CIMATEC, em Salvador. Por lá, um projeto de carne bioimpressa saiu do papel e pretende trazer consumo sustentável, ao diminuir emissões de gases e promover segurança alimentar. 

Após seis meses de estudos e testes realizados pelo Instituto SENAI de Tecnologia em Alimentos e Bebidas e pelo Instituto SENAI de Sistemas Avançados de Saúde (ISI-SAS), cientistas brasileiros passaram a fazer parte de um grupo seleto de pesquisadores que produzem carne em laboratório. O corpo técnico formado por 15 profissionais trabalha em testagens feitas a partir de células tronco extraídas de carne bovina.

Com uma estrutura morfologicamente similar à de uma carne, as células recebem nutrientes e se multiplicam. Com aparência e textura de carne, o “bife” de laboratório, impresso em 3D, em uma bioimpressora, tem a missão de ser tão saboroso quanto uma peça de picanha, mas feita a partir de proteína cultivada. 


“As células são combinadas com biomateriais comestíveis que formam a parte sólida da carne de laboratório. É utilizado um produto a base de quitosana, extraído da casca do camarão. O vermelho que imita a cor da carne vem de corantes naturais, os mesmos ingredientes já utilizados pela indústria em diversos alimentos comercializados e disponíveis para o consumo humano”, afirma Josiane Dantas.


Objetivo é oferecer alternativa à carne “de verdade”

De acordo com o diretor de Tecnologia e Inovação do SENAI CIMATEC, Leone Andrade, a intenção não é substituir a carne de verdade, principalmente a bovina, mas oferecer uma alternativa a mais para o mercado. “Antes mesmo de termos 100% da tecnologia dominada já buscamos interagir com empresas e indústrias para que, conjuntamente, sejam feitas as etapas finais de desenvolvimento para que, logo em seguida, esses nossos parceiros coloquem os produtos no mercado”, destaca. 

Um produto de origem animal, mas que não causa um dano ao meio ambiente. “Avaliamos como uma oportunidade de negócio para a indústria alimentícia. Além de ser uma alternativa atenta às questões de segurança alimentar humana que podem ser fomentadas com esse tipo de tecnologia”, explica Tatiana Nery, engenheira de alimentos do SENAI CIMATEC.

Qualidade padrão SENAI

Startups em atividade nos Estados Unidos e em Israel serviram de referências para a elaboração da carne bioimpressa em território brasileiro. Entretanto, a tecnologia de reprodução de tecido animal já integra o rol de aptidões tecnológicas do SENAI.

“Nós podemos falar, sim, que o projeto tem um selo SENAI CIMATEC, pois temos um corpo técnico muito variado para trabalhar com esse tipo de produto. Como engenheiros de alimentos, mecânicos bioquímicos, médicos, biotecnólogos e toda essa competência nós possuímos hoje no SENAI CIMATEC. Desde professores doutorados a alunos de graduação e de escolas técnicas. E esse é um grande diferencial ao formar corpo técnico de diferentes níveis”, ressalta Tatiana Nery.

A carne bioimpressa ainda não está aprovada para consumo no Brasil

Ainda é necessário passar por etapas regulatórias fundamentais para inserir o produto no mercado brasileiro. “Assim como é feito com todos os produtos comercializados pela indústria alimentícia”, ressalta Josiane. O prazo estimado pelos cientistas é de ao menos cinco anos.

Atualmente, somente Singapura comercializa esse tipo de produto no mundo. Israel e Japão estão no ranking de países com mais expertise tecnológica e regulações avançadas para possibilitar a impressão de cortes de carne para serem consumidos. 

A carne cultivada é apontada como uma solução transformadora que, junto das transições nos setores de energia e transporte, pode cortar pela metade as emissões globais de gases de efeito estufa até 2030. “Estamos caminhando para acelerar essas etapas iniciais, e para isso é fundamental ter insumos e investimentos”, enfatiza Tatiana Nery.

Os Institutos SENAI de Inovação

A rede de Institutos SENAI de Inovação foi criada para atender demandas da indústria nacional. Ela tem como foco de atuação a pesquisa aplicada, o emprego do conhecimento de forma prática, no desenvolvimento de novos produtos e soluções customizadas para as empresas ou de ideias que geram oportunidades de negócios. Os institutos trabalham em conjunto, formando uma rede multidisciplinar e complementar, entre si e em parceria com a academia, com atendimento em todo o território nacional.

A rede é composta por 26 Institutos SENAI de Inovação. Desde a criação, em 2013, mais de R$ 1,2 bilhão foram mobilizados em 1.332 projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). A estrutura conta com mais de 930 pesquisadores, sendo que cerca de 52% possuem mestrado ou doutorado. Por serem reconhecidos como Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT), os Institutos SENAI de Inovação possuem acesso a diversas fontes de financiamento não-reembolsáveis para projetos de PD&I. Atualmente, 15 institutos compõem unidades EMBRAPII e possuem acesso direto a recursos para financiamento de projetos estratégicos de pesquisa e inovação.

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