Brasil precisa ampliar incentivos e instrumentos para alavancar investimento privado em inovação

Recursos para desenvolvimento tecnológico e engenharia caíram de R$ 5 bilhões em 2013 para pouco mais de R$ 1 bilhão em 2017. Fomento à inovação foi o tema do 23° Diálogos da MEI

“A ciência e tecnologia serão a solução para a indústria no mundo. Não tenho dúvida de que a ciência vai ser mais importante do que nunca para lidarmos com os principais desafios industriais”, afirmou a cientista-chefe da 3M, Jayshree Seth

Levantamento apresentado nesta segunda-feira (24) durante o Diálogos da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), em São Paulo, mostra que, nos últimos três anos, o Brasil vem reduzindo os recursos públicos federais destinados à pesquisas, desenvolvimento e inovação (PD&I). De acordo com dados apresentados pelo líder da MEI e presidente do Conselho de Administração da Ultrapar Participações, Pedro Wongtschowski, os dispêndios do governo federal específicos para desenvolvimento tecnológico e engenharia, que em 2013 foram de R$ 5 bilhões, caíram para pouco mais de R$ 1 bilhão em 2017.

“Os investimentos federais em inovação têm caído. Devemos perder um volume significativo de recursos ao longo dos próximos anos se nada mais for feito. Houve um declínio de 2014 para 2016. E, infelizmente, em 2017 e 2018 também não foram alvissareiros”, destacou Wongtschowski. Segundo ele, entre 2001 e 2015, os investimentos em inovação subiram de 1,06% para 1,28% do PIB, principalmente em razão do programa Ciência sem Fronteiras, que foi extinto no ano passado. “Essa participação no PIB certamente vai cair”, frisou.

Uma preocupação manifestada pelo líder da MEI é a constante redução no volume de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que é a principal fonte de fomento à inovação no Brasil. Ele sugere que a agenda de PD&I tenha prioridade no país para que sejam assegurados recursos para a inovação.

Entre as medidas propostas por Wongtschowski estão o não contingenciamento do FNDCT – em 2016, um terço do valor arrecadado pelo Fundo foi contingenciado; a transformação do FNDCT em fundo financeiro para que seja desvinculado da conta do Tesouro Nacional e, assim, fique protegido de intervenções que limitem o uso do orçamento; e a ampliação dos recursos destinados à Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), cujo modelo tem se mostrado menos burocrático, mais ágil e capaz de alavancar o investimento privado em PD&I.

INCENTIVOS A INOVAÇÃO – Para a superintendente Nacional do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e diretora de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Gianna Sagazio, não há outra solução para o fomento à inovação no Brasil senão a criação de novos incentivos e instrumentos para alavancar o investimento privado, assim como ocorre nos países mais inovadores. “Inovação é fator determinante para o aumento da competitividade e para o crescimento da economia.  Em sintonia com as tendências internacionais, o Brasil passou a oferecer estímulos às iniciativas empresariais, tais como incentivos fiscais, crédito, investimento direto e subvenções econômicas”, disse.

Palestrante internacional do evento, a cientista-chefe da 3M, Jayshree Seth, reforçou a importância de os governos e as empresas apostarem na inovação como a principal forma de fortalecimento da indústria no Brasil.  “A ciência e tecnologia serão a solução para a indústria no mundo. Não tenho dúvida de que a ciência vai ser mais importante do que nunca para lidarmos com os principais desafios industriais”, afirmou.

A cientista-chefe da 3M apresentou os resultados de uma pesquisa que a multinacional norte-americana da área de tecnologia fez em 14 países, entre os quais o Brasil. Os números revelam que, junto com a Índia, o Brasil é o país onde as pessoas consideram a ciência mais importante para o dia a dia. Para 72% dos mil entrevistados no país, a ciência é muito importante – a média dos outros países para esta resposta foi de 46%. “A ciência pode ser difícil, mas a ideia de que só um gênio pode ser cientista afasta as pessoas. Essa concepção deve mudar, especialmente aqui, pois os brasileiros apreciam muito a ciência”, observou Jayshree Seth.

MOBILIZAR A SOCIEDADE – Na avaliação do presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Marcos Cintra, é preciso que os brasileiros sejam sensibilizados quanto à importância da inovação. “Está faltando a percepção da sociedade em relação à importância da ciência, tecnologia e inovação no processo de desenvolvimento econômico”, frisou. “Por que o país está perdendo investimento em inovação? Porque o governo não tem dado a devida importância a esse setor, porque ele não é pressionado pela sociedade”, acrescentou Cintra.

Marcos Cintra defende que os investimentos pela iniciativa privada sejam ampliados, como ocorre na Coreia do Sul, onde os aportes privados em inovação são três vezes maiores que os públicos. O presidente da FINEP mencionou que a instituição está à disposição das empresas para oferecer linhas de financiamento à inovação e lembrou que tem um projeto que alocará R$ 400 milhões em startups até 2020. Por fim, Cintra reconheceu que é preciso que o país aprimore os investimentos em PD&I. “É fundamental que façamos uma revisão dos nossos mecanismos de fomento à inovação”, destacou.

Reconhecendo a importância de o país aumentar os investimentos em PD&I, a chefe do Departamento de Produtos de Inovação do BNDES, Irecê Loureiro, detalhou que o banco passa por um processo de transformação, no qual prioriza entender melhor as necessidades de desenvolvimento do país. “Partimos do princípio que os clientes precisam entender o que o banco oferece. A mudança é exatamente parar de olhar para dentro do banco e olhar para fora. A nossa intenção é que o cliente enxergue as soluções financeiras que melhor atendem a empresa”, afirmou.

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