15 medidas para melhorar a competitividade por meio da inovação

Relatório da CNI e do Portulans sugere aumento de pesquisadores, retenção de profissionais qualificados e utilização de novos modelos tecnológicos

Estudo aponta necessidade de uma estrutura que aborde inovação, tecnologia e talentos

Um relatório inédito elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto Portulans apresenta 15 recomendações de políticas voltadas para a melhora da competitividade do Brasil por meio da inovação, de tecnologia e talentos, o chamado ITT (Triângulo de Prontidão para o Futuro). A publicação sugere medidas para ampliar tecnologias industriais, o desenvolvimento e retenção de profissionais qualificados, além da absorção e da utilização de novos modelos tecnológicos. 

“O objetivo dessas recomendações é auxiliar os tomadores de decisões na formulação e promoção de políticas e melhores práticas que promovam a competitividade baseada na inovação do Brasil em âmbito local, regional e global. Muitas das recomendações são direcionadas ao setor público”, destaca o relatório denominado Apoiando a Prontidão do Brasil para o Futuro: um roteiro para a prontidão para Inovação, Tecnologia e Talentos.

O documento foi produzido por iniciativa da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), grupo coordenado pela CNI que reúne mais de 300 das principais lideranças de empresas brasileiras e multinacionais com atuação no país.

O Instituto Portulans é um think tank sem fins lucrativos sediado nos Estados Unidos, cofundado pelos criadores do Índice Global de Inovação (IGI), do Índice Global de Talentos e Competitividade (em inglês GTCI, Global Talent and Competitiveness Index) e do Índice de Prontidão para Rede (NRI, Network Readiness Index).

O relatório aponta que o Brasil carece de uma estrutura abrangente em termos de políticas que aborde simultaneamente os três componentes principais da competitividade: inovação, tecnologia e talentos. Com base em valores de referência de outros países, o documento ressalta a importância fundamental da inclusão significativa dos principais atores no campo da inovação – de empreendedores e pesquisadores a líderes do setor privado – nas decisões em termos de políticas que visam o futuro do país.

Urgência para a ampliação do financiamento à inovação 

A diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio, observa que o relatório reconhece a urgência da adoção de medidas que acelerem o financiamento à ciência, tecnologia e inovação (CT&I) no Brasil, especialmente no momento de crise ocasionada pela pandemia de Covid-19.


“Estamos nos afastando dos países mais avançados em estrutura, financiamento e política de inovação. Mais do que nunca, as disparidades globais entre os países em termos de inovação digital e excelência em CT&I tornaram-se aparentes. Está claro que inovação, tecnologia e talentos são cruciais não apenas para aumentar a competitividade do Brasil, mas também para melhorar o bem-estar social”, afirma Gianna.


O pesquisador chefe do Instituto Portulans, Rafael Escalona Reynoso, enfatiza que o Brasil está próximo de uma transformação capaz de garantir uma base internacional mais sólida, por meio de uma maior competitividade impulsionada pela inovação.

“Uma revisão técnica de seus fundamentos de prontidão para o futuro sugere que a elaboração, a implementação oportuna e a gestão de iniciativas de políticas intersetoriais e holísticas que levem em conta aspectos de inovação, talentos, tecnologia e redesenho institucional são essenciais para que esse objetivo seja alcançado”, destaca.

O relatório possui modelo próprio inédito de avaliação de desempenho por áreas-chave da inovação. O Brasil está classificado nas últimas cinco posições do FRI (Future Readiness Index, Índice de Prontidão para o Futuro). Por outro lado, o GERD do Brasil (em inglês, Gross Expenditures in Research and Development) como percentual do PIB é próximo de 1,3%.

Embora superior à média das economias da América Latina e Caribe incluídas neste Relatório (0,4%), esse índice está longe do registrado pela China, uma economia parceira no BRICS (2,2%), e de Israel e Coreia do Sul, que atingem a marca de 5%.

Brasil precisa aumentar quantidade de pesquisadores

De acordo com o documento, o desenvolvimento de talentos ocorrerá a partir de uma expansão de 35% no número de pesquisadores; a melhoria da infraestrutura de inovação por meio da expansão da cobertura 4G em pelo menos 11%; a proteção ambiental aprimorada, conforme medida por uma pontuação 10% maior no Índice de Proteção Ambiental, teria um efeito positivo na produção do Brasil.

Quando as alterações recomendadas são aplicadas em conjunto, o FREA (em inglês, Future Readiness Evaluation Approach) indica uma melhoria geral de três posições na classificação do FRI, movendo o Brasil da 44ª para a 41ª posição no índice.

Outros destaques pontuados no relatório dizem respeito ao desempenho do poder público na agenda de inovação e à qualidade do sistema financeiro. O documento indica que os governos desempenham um papel ativo no financiamento da ciência, tecnologia e inovação em algumas economias em desenvolvimento, mas que o percentual do governo brasileiro em GERD é quase 40% menor que praticamente metade da parte do índice referente aos demais países analisados.

Quanto ao sistema financeiro nacional, o relatório destaca que este “parece estar distante dos níveis de sofisticação observados em economias em estágios mais avançados de desenvolvimento”.

O documento (veja abaixo) apresentado no dia 10 de dezembro, na reunião Diálogos da MEI, realizada pela CNI, é a versão para discussão do relatório (green paper). A versão final será disponibilizada em 2021, em português e inglês.

Confira as 15 recomendações do relatório:

1. Estabelecer pontes sólidas entre os setores público e produtivo.

2. Focar e delinear políticas voltadas para missões específicas. 

3. Elaborar políticas intersetoriais em vez de políticas de domínio único. 

4. Identificar e coletar periodicamente dados que lastreiem a elaboração de políticas voltadas para missões específicas. 

5. Aumentar os gastos internos brutos em P&D. 

6. Promover uma cultura de investimento em inovação por meio de mercados de capital de risco. 

7. Promover o engajamento do setor privado em inovação e empreendedorismo. 

8. Promover uma cultura de propriedade intelectual baseada em diretrizes internacionais para criações intangíveis. 

9. Formular uma estratégia de inovação que priorize talentos acima de tudo. 

10. Adaptar-se a um cenário global de talentos que vem evoluindo rapidamente. 

11. Liderar a inovação e a mudança tecnológica por meio do exemplo. 

12. Expandir as fronteiras de desenvolvimento digital local como um requisito fundamental para a competitividade pública e privada.

13. Acelerar a elaboração da estrutura regulatória tecnológica.

14. Reduzir a burocracia e a corrupção em todos os níveis. 

15. Promover vínculos regionais e o desenvolvimento de clusters.

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