Taxação de carbono prejudica competitividade da indústria e do Brasil

Em artigo publicado no Estadão, presidente da CNI afirma que taxação de carbono pode impor sérias perdas para a indústria e outros segmentos da economia brasileira

O aquecimento global tem causado efeitos cada vez mais nocivos sobre o meio ambiente e a economia. Na indústria, os desafios estão ligados, principalmente, à necessidade de investimentos no desenvolvimento de tecnologias para adaptação a mudanças. Eventos climáticos extremos – como secas, enchentes e deslizamentos de terra – causam danos à infraestrutura, restringem operações industriais e interferem no abastecimento de matérias-primas, no escoamento da produção e nas exportações. Também aumentam preços dos insumos, como energia elétrica, e a competição por recursos naturais. 

O relatório Economic of adaptation, do Banco Mundial, estima prejuízo global de até US$ 89,6 bilhões por ano, resultante dos impactos das mudanças climáticas até 2050. O Acordo de Paris, estabelecido em 2015, é o marco central das negociações para conter o aquecimento global. O Brasil se comprometeu com a redução absoluta de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 37% em 2025, e um adicional de 43% para 2030, em relação ao nível de 2005. A indústria se preocupa em buscar meios de implementar tais objetivos, sem danos à competitividade e com oportunidades de novos negócios. Mesmo com participação de 21% no PIB nacional, o setor é responsável por apenas 7% das emissões brasileiras. 

As principais estratégias adotadas para a redução de GEE são políticas de “comando e controle”, em que o Estado estabelece a regulação direta, e instrumentos econômicos, tais como incentivos, subsídios ou a precificação de carbono. De acordo com o Banco Mundial, cerca de 20% dos casos usam a precificação, cobrança sobre emissões geradas pela queima de combustíveis fósseis de uma instalação industrial. Com valores que chegam a US$ 127 por tonelada, a precificação pode ser feita com criação de tributo sobre emissões das indústrias, conhecido como “taxação de carbono”.

Recente estudo da CNI, intitulado A precificação de carbono e os impactos na competitividade da cadeia de valor da indústria, mostrou que uma eventual taxação de carbono no Brasil poderá impor sérias perdas de competitividade para a indústria e demais segmentos econômicos. Foram mapeadas as seguintes perdas potenciais: redução de 800 mil postos de trabalho, queda de R$ 130 bilhões no PIB, aumento de custos e redução da atividade econômica em até 3%, quedas nas exportações em até 5% e aumento dos custos de insumos da indústria, sobretudo de energia elétrica (6%), transportes (16%) e combustíveis (22%). A tributação das emissões de GEE, portanto, não é a melhor estratégia para cumprir compromissos do país no Acordo de Paris. 

Na reforma tributária, discute-se a criação de um imposto seletivo sobre produtos cujo consumo se queira desestimular. Cogitou-se usá-lo, entre outros, para tributar bens que tenham a produção relacionada com emissões de carbono. A CNI defende que, se criado, tal imposto não incida sobre insumos das cadeias produtivas, como cimento, alumínio, celulose, aço, vidro, cerâmica e diesel, uma vez que tal medida geraria cumulatividade, reduzindo a competitividade dos produtos brasileiros, prejudicando exportações e dificultando a disputa com os importados. 


A caminhada do Brasil rumo a uma economia de baixo carbono deve se dar junto com ações que garantam o combate contínuo ao desmatamento ilegal.


Entre as iniciativas que já contribuem para o cumprimento das metas de redução de emissões, estão os esforços nas áreas de energias renováveis, recuperação de resíduos e eficiência energética. Também merecem menção o marco legal do gás natural e o RenovaBio, programa que prevê metas anuais de descarbonização para o setor de combustíveis.

Ainda precisam avançar em temas como bioeconomia, regulamentação do licenciamento ambiental, economia circular e regularização fundiária. A indústria brasileira confia que governo e Congresso encontrarão uma fórmula para o Brasil cumprir adequadamente os compromissos assumidos no Acordo de Paris, levando em consideração a conservação do meio ambiente, o bom funcionamento dos negócios e a expansão da economia. 

*O artigo foi publicado no jornal O Estado de S. Paulo neste sábado (14).

Robson Braga de Andrade é o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

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