Um hispano-brasileiro na delegação brasileira que vai para a WorldSkills 2019

Victor Iglesias é o único com dupla nacionalidade e vai para Rússia representando o time brasileiro no mundial de profissões técnicas. Geografia e Jornalismo são alguns dos cursos que ele tentou fazer antes de conhecer a Joalheria, ocupação que vai disputar

O jovem ficou um tempo distante da joalheria até o SENAI entrar em contato para competir na WorldSkills

Nascido em Madri, na Espanha, Victor Iglesias Ribeiro, 20 anos, é o único da delegação brasileira com dupla nacionalidade. O competidor vai representar o Brasil na WorldSkills, o mundial das profissões, na categoria Joalheria. Victor é filho de brasileiros, mas nasceu na Espanha, onde viveu até os 8 anos de idade. “Quando eu cheguei no Brasil, não sabia falar português, mas conseguia entender”. A família por parte de pai é espanhola com origem na região da Galícia. A avó espanhola morou no Rio de Janeiro, cidade que o pai nasceu. Atualmente, ela vive em Madri.

Embora a ourivesaria seja um ofício comumente passado por gerações, a relação profissional de Victor não vem de família - a mãe trabalha no consulado da Espanha no Rio de Janeiro e o pai é cinegrafista de jogos de futebol, já trabalhou na Espanha e está de mudança para o Brasil. O interesse de Victor pela joalheria surgiu de uma forma despretensiosa e hoje ele é apaixonado pela profissão. O competidor conta que quando tinha 16 anos sentiu a necessidade de ter alguma profissão e conseguir dinheiro. Uma amiga da escola lhe contou que a joalheria HStern estava com vagas abertas de aprendiz em ourivesaria. “Nem sabia o que era, não conhecia nada dessa área. Só depois eu descobri que era produção de joias”.

Nos programas de aprendizagem, o jovem passa um período fazendo curso de qualificação em uma unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e outro, trabalhando na empresa. Ao término do programa, em dezembro de 2016, Victor contou que a HStern teve o interesse de efetivá-lo, mas ele preferiu não aceitar a proposta e focar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Victor passou para Geografia, mas trocou de curso recentemente e está com a faculdade de Jornalismo trancada.

“Em 2017 não trabalhei com joalheria. Fiquei um ano e meio parado e eu sentia falta. A minha mãe até dizia que eu tinha que dar um jeito de voltar”, comenta. Em fevereiro de 2018, Victor foi convidado pelo SENAI para participar das seletivas nacionais e tentar uma vaga para a disputa mundial, em agosto, na Rússia. “Quando o SENAI ligou, eu não pensei duas vezes e aceitei. Eu estava trabalhando em uma loja de shopping e não estava gostando”.

A oportunidade de voltar a trabalhar com a ourivesaria motivou Victor a correr atrás do tempo perdido - entre o convite e a etapa nacional eram apenas quatro meses de preparação. “Eu comecei a treinar feito um louco. De manhã eu ia para a faculdade, depois ficava até às 22h treinando no SENAI”. Victor lembra que o treinamento não foi fácil. “Eu pensava comigo mesmo: ‘me meteram em uma roubada’”, recorda. “Eu estava há um ano e meio parado e não conseguia nem serrar em linha reta. Eu estava muito enferrujado e joalheira é muito prática. Com o tempo, fui metendo a cara e foi dando certo”.

“Quando o SENAI ligou, eu não pensei duas vezes e aceitei", conta o competidor

Na etapa nacional, Victor ficou em segundo lugar - quatro estados participaram. Como a pontuação dele e da primeira colocada foram próximas, um desempate foi feito e ele foi o escolhido como representante do Brasil. “A responsabilidade é grande. O Rio de Janeiro tem tradição em joalheria. Os dois campeões mundiais são do Rio de Janeiro e eu sempre tive admiração por eles”.

MUDANÇAS - Desde que chegou em Brasília, o treinamento de Victor tem sido intenso. Um dos motivos é a alteração no tipo de prova. Nas edições anteriores a Kazan, na Rússia, os países participantes (em média, 17) mandavam uma sugestão de prova. Era feito um sorteio da avaliação enviada pelos países participantes e modificações de até 30% poderiam ser feitas. Para 2019, a prova será completamente surpresa. Diante da mudança, a organização do mundial fez um amistoso na Austrália para que os competidores entendessem as mudanças. O Victor ficou em 5º lugar na disputa.

Para Victor, a seleção para a WorldSkills o ajudou quanto ao futuro. Ele conta que estava em dúvidas em relação à carreira profissional: começou a fazer Geografia, depois mudou para Jornalismo e agora trancou a faculdade para o treinamento. Diante do reencontro com a joalheria, ele pensa em cursar Design de Jóias quando retornar da Rússia. “Eu estava meio perdido, não sabia o que queria. A WorldSkills chegou no momento certo. A Geografia não gostei muito, Jornalismo ainda nem sei se vou gostar, só fiz duas matérias. A joalheria chegou e gostei muito e tenho certeza que é isso que eu quero seguir”.

Relacionadas

Leia mais

Italo será o primeiro baiano a representar o Brasil em Mecatrônica na WorldSkills
Jovem dispensou primeiro emprego para competir na WorldSkills 2019
Melhor do Brasil em Manutenção de Veículos Pesados, Paulo Vitor se prepara para a WorldSkills 2019

Comentários