Fruto da parceria entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Plaenge e Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul (MPT-MS), mais uma turma de imigrantes haitianos será formada para atuar no mercado da construção civil de Mato Grosso do Sul. Desta vez serão diplomados 24 profissionais, que iniciaram o curso de introdução a técnicas para revestimento cerâmico e argamassado em fevereiro deste ano. Eles receberão os certificados de conclusão nesta sexta-feira (29), às 19 horas, no auditório da Escola SENAI da Construção, em Campo Grande (MS).
Na avaliação do gerente da Escola SENAI da Construção, Roger Benites, a formação dessa 4ª turma composta por trabalhadores imigrantes do Haiti vem ao encontro da necessidade de mão de obra qualificada e com o aquecimento do mercado da construção civil.
“Fornecer uma qualificação profissional e dar uma perspectiva de vida melhor para esses imigrantes é de suma relevância para a mão de obra da construção civil em nosso estado, que volta a apresentar um crescimento e, com isso, demanda por profissionais cada vez mais preparados”, afirmou ele, que ainda ressaltou a preocupação social da instituição.
“Acredito que é justamente esse o nosso papel dentro da educação profissional, oferecer mecanismos para todas as pessoas. Esses formandos deixaram seu país em busca de melhores oportunidade de vida e nós nos sentimos honrados em poder ajudá-los a serem inseridos no mercado de trabalho”, destacou Benites.
Na avaliação de Luiz Octávio Carvalho de Pinho, gerente-comercial da Plaenge, o curso é uma oportunidade para a vida pessoal e profissional dos haitianos.
“A Escola SENAI da Construção e a Plaenge buscam oportunizar uma capacitação profissional de qualidade, visando que as portas do mercado de trabalho venham a se abrir para esses alunos. Estamos muito satisfeitos com conclusão de mais uma turma e esperamos que essa parceria se estenda cada vez mais”, ressaltou.
Para o aluno Junel Ilora, que faz parte da Associação para a Solidariedade dos Haitianos no Brasil (Ashbra), o curso foi uma oportunidade única.
“Poder estudar no SENAI, que é referência em qualificação profissional no Brasil, receber uma qualificação de qualidade com uma estrutura de qualidade, professores de ponta e aprender um pouco mais do idioma português é gratificante. Trata-se da realização de um sonho”, concluiu Junel.
OUTRAS TURMAS - Entre outubro de 2017 e julho de 2018, a Escola SENAI da Construção já formou três turmas composta por trabalhadores haitianos em cursos relacionados à construção civil. A última turma foi a do curso gratuito de pintor imobiliário, que abrangeu técnicas de pintura predial, integração social e normas de saúde, segurança e higiene no trabalho.
Os cursos têm como prioridade a capacitação da comunidade haitiana, que se concentra nos bairros Vila Progresso e Rita Vieira, em Campo Grande, depois que o Haiti foi devastado por um terremoto que agravou ainda mais os problemas socioeconômicos enfrentados pelo país da América Central.
“A maioria dos haitianos veio para o Mato Grosso do Sul à procura de emprego, mas a falta de qualificação profissional e de domínio do idioma dificulta o acesso ao mercado de trabalho. Por isso, o grande impasse é realmente não ter a prática do trabalho e eles têm de ser preparados”, explicou Benites.
Nascido em um país cuja história é marcada por governos ditatoriais, golpes de Estado e uma guerra civil, depois que o terremoto atingiu o Haiti, em janeiro de 2010, Bernard Denord, 29 anos, entendeu que era o momento de tentar a sorte no Brasil, assim como fizeram milhares de haitianos.
“Trabalhava como escrivão, mas as coisas, que já eram difíceis, ficaram ainda piores depois do terremoto. Em 2012 percebi que não existiam muitas chances de a situação melhorar e decidi tentar a sorte no Brasil. Hoje trabalho como conferente em um atacado, mas depois dos cursos no SENAI, descobri uma paixão e hoje minha vontade é fazer uma faculdade de Engenharia Civil”, contou Bernard.
Chamyr Jean, 35 anos, levou a esposa e o filho, de 5 anos, para prestigiar a conquista do certificado do SENAI. Mas a cerimônia contou com uma presença especial, a da família que o acolheu em Campo Grande quando ele chegou do Haiti. Chamyr conheceu o sargento Firmino Garcia ainda no Haiti, quando tropas do Exército Brasileiro foram enviadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para auxiliar na recuperação do país após o terremoto.
Lá, Chamyr trabalhava como intérprete e, por isso, se aproximou bastante dos militares. “Falo que ele e a esposa, Roseli, são meus pais no Brasil, porque desde o dia que cheguei, 8 de dezembro de 2014, foram eles que me ajudaram e incentivaram a investir em mim e não deixar passar oportunidades. Hoje, eles estão vendo meu crescimento e o primeiro passo para ter uma profissão aqui”, comemorou Chamyr.