O 2º dia do Seminário Internacional de Educação Inclusiva do Serviço Social da Indústria (SESI), realizado em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (FIETO), foi marcado por oficinas temáticas, que proporcionaram um espaço de troca de experiências entre especialistas e educadores. Mais de 170 pessoas participaram das atividades na Escola SESI de Referência, em Palmas (TO).
As oficinas, presentes em todas as edições do evento, são promovidas com o objetivo de contemplar diferentes temáticas relacionadas à Educação Inclusiva. Neste ano, em especial, a proposta se aprofundou na realidade da região Norte, trazendo discussões sobre racismo e tecnologia, povos originários e metodologias ativas aplicadas ao processo de ensino e aprendizagem.
A invisibilidade da mulher negra e o papel da educação na reparação histórica
A exclusão da mulher negra na sociedade e no processo educacional foi um dos nove temas debatidos nas oficinas. Por meio da análise de dados e contextualização histórica, foram identificadas e apresentadas as causas dessa exclusão, bem como discutidos mecanismos de ensino que podem ser implementados para transformar essa realidade.
O professor Leandro Félix, da Escola SESI de Campo Grande (MS), destacou a importância das metodologias ativas como ferramentas essenciais para a promoção da Educação Inclusiva. “Para mudar esse cenário, é fundamental que sejam realizadas atividades em grupo, como as de hoje, com formações heterogêneas — e que, dentro dessas metodologias, possamos garantir que todos tenham voz, participem e exponham suas ideias de maneira equitativa”, explicou.
Ainda dentro dessa análise, o professor chamou a atenção para o papel da Educação de Jovens e Adultos (EJA) nessa perspectiva inclusiva, considerando que o maior número de estudantes dessa modalidade é composto por mulheres negras, o grupo mais afetado ao longo da história educacional. “A mulher negra é invisibilizada nas escolas, na literatura e em todas as áreas de atuação da sociedade”, refletiu.
EJA: inclusão que navega até as comunidades da Ilha do Marajó
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma ferramenta essencial de inclusão, oferecendo uma nova oportunidade a quem não concluiu os estudos no tempo certo. Um exemplo é a iniciativa que leva a EJA às comunidades ribeirinhas da Ilha do Marajó (PA), onde o difícil acesso, apenas por barco em viagens de até oito horas, torna o retorno às aulas ainda mais desafiador. A rotina dessas comunidades também merece um olhar singular, considerando que a principal fonte de sustento é a pesca e a agricultura do açaí.
“Pensar em estudo é difícil para essas pessoas que acordam de madrugada para armar redes e colher açaí”, ressaltou Isaac Pereira, do SESI Pará.
Para levar educação a essas comunidades, o departamento regional do estado realizou um mapeamento das necessidades locais, mobilizou lideranças comunitárias e instituições de ensino. Como resultado, cerca de 80 estudantes concluíram a EJA profissionalizante, que integra a formação básica à qualificação profissional — uma ação desenvolvida em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).
Educação antirracista: o compromisso da escola com a equidade
A professora Nilma Lino, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), iniciou os debates da mesa-redonda abordando o princípio da educação, as relações étnico-raciais e a construção da equidade. Inspirada em Paulo Freire, ela destacou a famosa frase do pensador: “Educar é um ato político.”
Para Nilma, a Educação Inclusiva faz parte de um campo mais amplo — o da Inclusão Social —, e a escola é um dos principais espaços de promoção e garantia desse direito. A professora enfatizou ainda que, diante do contexto de vulnerabilidade em que vivem muitos brasileiros, a escola é, na maioria das vezes, o único aparato do Estado presente nesses territórios.
“Quando refletimos sobre isso, percebemos que a corporeidade e as esperanças dessas pessoas se voltam para a instituição de ensino. E não há como a escola se omitir desse papel social de transformação e acolhimento”, afirmou.
Ainda nesse contexto, Nilma explicou que a educação antirracista deve ser posta em prática e se tornar uma realidade nas salas de aula. “Essa educação se organiza para que a escola seja um espaço de acolhimento à diversidade étnico-racial, de respeito à ancestralidade africana e afro-brasileira e de afeto. Ela não se conforta com o discurso de que ‘somos todos iguais’; ela reconhece a dimensão da desigualdade.”
Afeto, filosofia e inclusão: o poder transformador das emoções
O professor Renato Noguera, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), trouxe o debate para o campo da filosofia e explicou que a verticalidade das relações é uma barreira para o respeito nos espaços sociais.
Partindo do fundamento de que somos “seres afetivos”, Noguera destacou a necessidade de estabelecer relações emocionais no processo de ensino e aprendizagem, especialmente na escola, que deve ser vista como um espaço de trocas afetivas. “Territórios em que as pessoas sentem que não serão punidas são lugares onde elas se sentem seguras para arriscar, sem medo de errar”, disse.
As emoções devem ser refletidas para que sejam construídos espaços verdadeiramente inclusivos. Boas emoções, vividas em estado de amorosidade, tornam os aprendizados mais significativos. Já situações de racismo — assim como outras formas de opressão — colocam as pessoas em estado de alerta, prejudicando a conexão e a produção do conhecimento.
Ao longo dos dois dias de seminário, mais de 500 visitantes participaram das palestras e oficinas promovidas. Confira os melhores momentos do evento no Flickr da CNI e nas redes sociais do SESI!






