Chegamos ao último dia de competições da WorldSkills Brasil 2025. Para quem chega de fora, a emoção e a tensão estão no ar. Ao longo das duas arenas que dividem as categorias, conhecidas como ocupações, é possível ouvir gritos de contagem regressiva, “10, 9, 8..., 2, 1”, seguidos de palmas, que marcam tanto o início quanto o fim das provas. Hoje, tudo termina, e daqui saem os melhores profissionais técnicos do país, que poderão representar o Brasil na competição internacional em 2026, em Xangai, na China.
Não faltaram lágrimas e silêncio - sintomas de apreensão ou prenúncios de desistência. Acontece.
A disputa é dura, pois em jogo estão medalhas, vagas no mundial e um legado mais longevo: o reconhecimento no mercado de trabalho e a chance de sair de uma competição com mais portas do mercado de trabalho abertas.
É nesse contexto que cada participante se encontra frente a frente com o maior adversário: ele mesmo. Lidar com o psicológico é, sem dúvida, a parte mais delicada da competição. Quando perguntamos aos treinadores qual é o requisito mais importante para ser um vencedor, a resposta é unânime: equilíbrio emocional.
Não é à toa que todos os competidores contam com assistência psicológica. Uma figura fundamental é a do chefe de equipe, que reponde pelo apoio emocional da delegação. “Ele funciona quase como um pai ou uma mãe para os alunos, cuida do bem-estar, da motivação e até da saúde. É uma peça chave durante as provas”, explica Jeferson Mateucci, coordenador técnico da competição nacional, delegado técnico do time brasileiro na etapa mundial e especialista em desenvolvimento industrial no SENAI.
Onde a experiência inspira os novatos
João Guilherme Lopes, natural do Rio Grande do Norte, acabou de completar 17 anos e, por isso, ainda não tinha a idade mínima para competir durante as seletivas regionais. Faltando apenas um ano para disputar oficialmente na ocupação Refrigeração e Climatização, ele integra a delegação do estado como convidado, acompanhando de perto a competição em Brasília. João observa atentamente cada detalhe: a concentração dos colegas, a organização das provas, a preparação técnica e o cuidado da equipe de apoio.
João entrou no universo técnico aos 16 anos e já se prepara para a edição de 2027, quando poderá finalmente competir. Para ele, estar aqui é uma aula antecipada, uma chance de aprender não apenas com os acertos, mas também com os erros dos outros.
Ele entende o privilégio de se preparar com calma, acumulando bagagem antes de dar o próprio salto. Histórias como a de João são comuns na WorldSkills e revelam que a competição não começa no cronômetro, mas muito antes, na observação silenciosa e no desejo de crescer.
Já Eduardo Roberto, do Ceará, mostra o outro lado da história, a experiência de quem já percorreu um longo caminho. Natural de Barbalha, cidade do interior do estado, próxima a Juazeiro do Norte, onde ele encontrou a estrutura para cursos técnicos e universitários. Desde cedo, Eduardo se destacou na escola e acumulou mais de dez olimpíadas estudantis no currículo.
Agora, a WorldSkills Brasil 2025 não só deu a ele a chance de fazer a primeira viagem de avião, como também a oportunidade de disputar uma final nacional. A emoção de estar em Brasília carrega um peso maior, a expectativa de retribuir o esforço da família e contribuir com o desenvolvimento da cidade onde vive. Para Eduardo, cada prova é também um gesto de resistência, uma forma de mostrar que talento e dedicação brotam em qualquer canto do Brasil. Por que não no sertão cearense?
“O Ceará já é conhecido como uma potência educacional e acadêmica. Agora quero mostrar que podemos ser referência também no ensino técnico”, afirma Eduardo, com os olhos brilhando.
Três horas de deslocamento por um sonho
Melissa Giovana Lima, 17 anos, nasceu em Pilar, no interior de Alagoas. De lá até ao Centro de Formação Profissional Gustavo Paiva (SENAI Poço), em Maceió, onde estudava, são mais ou menos 40km quilômetros de estrada. O trajeto diário de cerca de três horas (1h30 de ida e 1h30 de volta), poderia ter sido motivo para desistir, mas, para ela, é parte do caminho para alcançar seus objetivos.
A jovem alagoana participa da primeira competição nacional. Nunca havia viajado de avião, tampouco saído do estado. Cada momento vivido em Brasília, do embarque ao primeiro contato com colegas de todo o país, representa um marco pessoal e profissional.
A paixão pela moda começou cedo, ainda criança, quando aprendeu a costurar com a mãe. O curso técnico de Costureiro Sob Medida foi a oportunidade de transformar essa afinidade em profissão. “Eu jamais imaginaria realizar os sonhos que tô realizando agora, é muito legal poder ver tudo isso de perto e ainda com 17 anos”, afirma. Com o dinheiro da bolsa do curso, ela comprou uma máquina de costura industrial e sonha com a abertura do próprio ateliê. “O primeiro passo é esse aqui que estou dando, agora é continuar”, diz Melissa.
A avaliação final: o olhar da indústria
Enquanto esses jovens competem, representantes da indústria acompanham cada movimento com atenção. Caroline Silva, avaliadora externa da FANUC, empresa japonesa de automação de fábricas, ressalta que a dedicação dos participantes vai além da técnica. “Sem pessoas capacitadas, não há avanço. Este evento enaltece a educação, o esforço dos jovens e a valorização da educação, essencial para o desenvolvimento do país. Estou aqui para observar e aprender, com a intenção de fortalecer futuras provas da FANUC e ajudar na próxima edição da competição.”
Na WorldSkills Brasil, cada passo faz parte de algo maior. Amanhã, a Agência de Notícias da Indústria divulga os nomes dos campeões que se tornarão referência no ensino técnico brasileiro e os possíveis nomes para compor a delegação Brasília, em Xangai, na WorldSkills Internacional.







