Curso do SENAI profissionaliza detentas para o mercado de confecção

Oportunidade de recomeçar e traçar uma nova trajetória

Alunas do curso de Qualificação em Costura Industrial, do SENAI, em presídio na zona leste de Belo Horizonte

Profissionalizar detentas para o trabalho de confecção e dar a elas a oportunidade de recomeçar e traçar nova trajetória de vida. Os benefícios fazem parte do curso de Qualificação em Costura Industrial do SENAI Modatec oferecido para 20 mulheres no Complexo Penitenciário Feminino Estévão Pinto, no bairro Horto, região Leste de Belo Horizonte (MG). A oficina, que começou no início de novembro e vai até fevereiro do ano que vem, prepara mão de obra para a confecção de peças do vestuário.

“O curso é o mesmo oferecido na nossa unidade de Belo Horizonte. Estamos trabalhando a formação para um mercado muito competitivo, que demanda produtos de qualidade e tem consumidores cada vez mais exigentes”, explica Jorge Domingos Peixoto, diretor escolar do SENAI Modatec.

Para Ingrid Suellen, de 24 anos, presa há 1 ano e 8 meses, manter-se ativa ajuda a afastar a solidão do dia a dia. “É uma oportunidade maravilhosa para quem quer a mudança, como eu. Aqui, temos trabalho e muitas oficinas. Assim, conseguimos ajudar no sustento das nossas famílias. Estou presa, mas não perdendo meu tempo. Se a gente se entregar à solidão, caímos em uma depressão ou coisa parecida”, afirma a jovem, que é uma das finalistas do concurso de beleza Miss Prisional, a ser realizado na semana que vem.

Já para Marlene Aparecida, de 29 anos, encarcerada há 5 anos e 3 meses, o curso do Senai Modatec proporciona a continuidade de um aprendizado adquirido em outra unidade prisional. “Eu fazia os uniformes da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) e só sabia trabalhar com um tecido. Agora, aprendi muito e tenho habilidade com todo tipo de tecido”, diz.

Iniciativa - A detenta compõe o grupo de costureiras que confecciona as peças da grife mineira Libertees, criada há um ano por meio do projeto Liberte-se, idealizado pela empresária Marcella Mafra para profissionalizar e dar trabalho às presas na área de moda. Foi ela, inclusive, que fez a ponte entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e a penitenciária.

“Estávamos fazendo consultoria para melhorar a infraestrutura existente no presídio e, a partir de uma conversa, a entidade ofereceu esse curso para as meninas”, conta. Há cinco anos, ela desenvolve atividades de confecção no Complexo.

 As oficinas vão além de oferecer oportunidade de trabalho ou profissionalização. “Passamos a ter uma relação humana muito intensa com elas, que saem de lá pessoas mais fortes, cheias de planos, e acreditando que podem fazer diferença. É um incentivo que faz brilhar os olhos”, relata Marcella. 

Percepção - A repercussão trazida para as vidas das detentas é nítida, destaca Maristela Andrade, diretora de Atendimento e Ressocialização do presídio. “A partir do momento que o indivíduo está inserido na educação formal, ou em oficinas de trabalho ou profissionalizante, a reincidência dele em situações de segurança é muito menor. O ditado ‘cabeça vazia, oficina do diabo’ é real”, coloca.

Além dos efeitos da atividade no comportamento das mulheres, a instrutora do curso do SENAI Modatec, Tane Costa, percebe empenho significativo por parte das detentas.

“Já estive dando aulas em uma Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) e é a primeira vez que trabalho em penitenciária. Elas têm desejo de aprender, vencer uma etapa a cada dia, é bem compensador. Às vezes, pegamos alunos lá fora que são muito mais complicados e não parecem aproveitar tanto quanto elas. Talvez porque as oportunidades são maiores que as delas”, expõe a professora.

 

Reportagem publicada no Jornal Hoje em Dia

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