Alfabetização: além do ler e escrever, uma transformação na vida de alunos do SESI

Cerca de 11 milhões de brasileiros estão em situação de analfabetismo. O SESI, por meio da EJA, tem promovido um resgate de cidadania de trabalhadores, com 9,7 mil matrículas na alfabetização desde 2016

O SESI, por meio do programa EJA, já transformou a vida de mais de 9 mil alunos matriculados, desde 2016/ Foto: Anedil Fontoura

No dia 8 de setembro é comemorado o Dia Mundial da Alfabetização. Para muitos brasileiros, no entanto, o sonho de saber ler e escrever ainda não é uma realidade. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua-2019) mostra que cerca de 11 milhões de pessoas com 15 anos ou mais são analfabetos – ou seja,  6,6% da população (queda de 0,2 ponto percentual em relação a 2018). No mundo do trabalho, o analfabetismo é uma das principais barreiras à conquista do tão sonhado emprego, ao crescimento profissional e, consequentemente, ao aumento da renda.

É nesse contexto que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Serviço Social da Indústria (SESI) tem buscado promover um resgate de cidadania para trabalhadores em todo Brasil. Desde 2016, são 9.710 matrículas realizadas em parceria com empresas do setor, passo determinante para o desenvolvimento de competências essenciais para o século XXI e para o mundo do trabalho, bem como para a melhora da qualificação profissional, aumento da empregabilidade e inserção no mercado de trabalho. 

A metodologia EJA SESI propicia aos estudantes a possibilidade de conclusão do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, com aplicação do Reconhecimento de Saberes onde são identificados e certificados os saberes advindos das experiências de vida e trabalho. Assim, os professores e toda a equipe das escolas buscam valorizar e incentivar os estudantes a acreditarem em seus potenciais.

“Saber ler e escrever significa ter um passaporte para o exercício pleno da cidadania. O Brasil tem como um dos principais desafios para se tornar um país desenvolvido oferecer educação de qualidade para seus jovens, mas também promover o resgate daqueles que, por diversos motivos, não puderam concluir os seus estudos no tempo adequado. O que o SESI busca fazer, com a EJA, é contribuir com esse esforço de oferecer a milhares de trabalhadores a oportunidade de conquistar o seu diploma”, afirma Paulo Mól, diretor de operações do SESI.

Conheça algumas histórias de ex-alunos que se alfabetizaram na EJA do SESI:

Nunca é tarde para aprender e transformar o futuro

Conceição de Sá começou a estudar aos 40 anos, aprendeu a ler e a escrever e se formou no Ensino Médio, em 2019

Os pais de Conceição Freitas, de 45 anos, não tiveram condições financeiras para bancar seus estudos na infância e, quando se tornou adulta, foi também impedida de estudar pelo ex-marido. Mas o que motivou a dona de casa a voltar a estudar foi quando ficou sabendo que se tornaria avó. 

“Quando minha filha engravidou da minha netinha, eu pensei ‘Meu Deus, eu vou ter uma neta e nem sei ler e escrever direito, vai ser uma vergonha’. Meu atual esposo me viu naquela situação e disse que eu iria realizar meu sonho de estudar. Eu comecei na EJA quando minha filha ainda estava grávida. A minha neta hoje tem cinco aninhos, eu me formei ano passado, em 2019, e ela estava presente na minha formatura. Quando eu sento na mesa para ensinar ela, eu fico muito emocionada, até choro em alguns momentos. Eu sou muito grata ao SESI, sem eles eu não teria essa possibilidade de ensiná-la”, diz Conceição de Sá. 

A ex-aluna do Amazonas voltou para a sala de aula aos 40 anos e diz que concluir os Ensinos Fundamental e Médio pela rede do SESI foi um marco de orgulho. “A EJA representa tudo na minha vida e, se não fosse por isso, eu não teria me formado, porque teria que começar do início e seriam muitos anos estudando. Para mim, a EJA é a melhor coisa que já fizeram e é a realização de muitos sonhos, que vão além do meu”, relata a ex-aluna. 

SESI abre caminhos para a realização de sonhos 

Aline Silva aprendeu a ler e escrever com quase 18 anos, após começar a estudar no SESI

A história de Conceição não é diferente de muitas outras famílias que vivem em situação precária ao redor do Brasil. Segundo a PNAD, o Nordeste e o Norte são as regiões que mais acumulam casos de analfabetismo no país, 13,9% e 7,6%, respectivamente. Com base nos dados divulgados no Relatório “SESI em números” desde 2016, o Nordeste registrou 3.780 estudantes matriculados e o Norte  5.346 matrículas. Em uma visão geral, somente nos últimos cinco anos foi promovida a alfabetização de 9.710 estudantes de  EJA e 379.764 na educação básica regular. 

A ex-aluna e auxiliar de administração do SESI, Aline da Cunha Silva, explica que, em sua primeira escola, ficava isolada e também não recebia as mesmas tarefas dos outros alunos. “Eles me davam folhas para desenhar e me colocavam num canto separada, eu não aprendia nada. Todos os dias, eu chegava em casa chorando, porque não aguentava mais o preconceito”, relembra Silva. 

Ela conta que era excluída por não saber ler ou escrever e precisar de acompanhamento especial por apresentar dificuldade  de aprendizagem, que nunca foi ofertado na antiga escola. No Brasil, segundo o terceiro volume do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa-2015), um em cada dez estudantes é vítima de bullying, o que pode levar muitos alunos a desistirem de sua graduação. 

“O diretor da minha antiga escola disse para minha mãe procurar o SESI e foi quando tudo mudou. Eles me receberam de braços abertos e, aos meus 18 anos, eu aprendi a ler e escrever. Eu sempre falo que existe a minha família e a família SESI. Eu trabalho há sete anos aqui - no SESI - e acredito que o programa é maravilhoso. Eu não tenho palavras para agredecer, eles sempre me incentivaram a seguir meus sonhos”, conta Aline. 

Saber ler e escrever é uma das formas de transformar vidas 

Fernando Vieira (terceiro/à esquerda) encontrou apoio para retomar os estudos por meio das metodologias adotadas nas turmas da EJA

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) explica que 51,2% da população, de 25 anos ou mais, ainda não completaram a educação escolar básica. O dado representou por muito tempo a vida de Fernando Pereira Vieira, pedreiro, que não teve a oportunidade de estudar na infância. 

“Eu nasci no Nordeste, em Alagoas, e passava por uma situação de pobreza extrema na minha infância, eu tive que escolher entre trabalhar e comer ou estudar e morrer de fome. Eu só tive oportunidade estudar quando vim para o Mato Grosso e conheci a EJA”, explica Vieira. 

A variação da taxa de analfabetismo da PNAD varia, também, conforme o gênero e a raça, sendo representada em 6,9% pela  população masculina, de 15 anos de idade ou mais, e  6,3% pela feminina.  Já para as pessoas pretas ou pardas o número ficou em 8,9%, enquanto para as pessoas brancas o valor reduz para 3,6%.

O SESI precononiza em sua metodologia o combate às diferenças sociais e a diminuição dos índices de analfabetismo por meio de uma oferta flexível, com a possibilidade de diminuição da carga horária e  realização dos estudos na modalidade EaD, o que favorece a adaptação do trabalhador dos diferentes segmentos industriais. 

“Para mim, os profissionais do EJA têm algo que você não encontra nas outras escolas, que é a humanidade. Eu tentei voltar a estudar antes, mas desisti um ano depois pela falta de apoio. No SESI, a professora sempre promovia metodologias para incentivar a turma, como brincadeiras, bate-papos e dinâmicas. Antigamente, eu só sabia escrever meu nome e coisas muito simples e, agora, eu consigo mandar mensagens, leio muito bem e não tenho dificuldades para pegar o ônibus. É um sentimento inexplicável e de gratidão”, diz Fernando Vieira com orgulho. 

EJA, a chave para a inclusão no mercado de trabalho 

José Silva voltou aos estudos por meio do apoio do seu ex-gerente, que ofereceu uma promoção após sua graduação

O operador de máquinas José Daniel da Silva concluiu seus estudos em 2018 por meio do programa da EJA. Ele explica que o desejo de estudar foi reacendido por meio de uma promessa de promoção na empresa que trabalha. 

“Tudo começou quando eu vi uma vaga de operador de máquinas dentro da minha empresa, mas precisava ter o ensino médio concluído. Na época, eu não tinha nem concluído o ensino fundamental. O meu antigo gerente me falou ‘como posso te ajudar se você não tem o diploma de nível médio? ’ Eu vi aquilo como um puxão de orelhas e um incentivo para eu começar a estudar”, diz José Silva. 

O SESI reúne parcerias com diversas empresas com o objetivo de promover a elevação da escolaridade e a capacitação dos trabalhadores da indústria. No caso de José Daniel da Silva, operador de máquinas,  foi por meio dessa parceria que conseguiu terminar seus estudos. 

“Para muita gente ter o certificado do Ensino Médio é só um papel, mas para mim é uma memória do meu esforço e base para ir mais longe futuramente. Quando eu recebi o diploma, meu ex-gerente cumpriu sua promessa e fui promovido para operador de máquinas. Hoje, eu tenho mais sucesso profissional e financeiro”, diz o trabalhador. 

A metodologia SESI para Educação de Jovens e Adultos supera o conceito de apenas uma retomada aos estudos, bem como, promove nos estudantes a autoconfiança e oferta maiores oportunidades de crescimento profissional. As matrículas podem ser realizadas nas unidades do SESI mais próximas de sua casa.

Confira o vídeo em homenagem ao Dia Mundial da Alfabetização:

Relacionadas

Leia mais

Matrículas abertas! O SENAI está com vagas para cursos na modalidade EAD e presencial
Projeto de alunos do SESI desperta atenção de Luciano Huck
VÍDEO: Minuto da Indústria destaca o universo das indicações geográficas

Comentários