Em comemoração ao Dia da Educação de Surdos, celebrado dia 23 de abril, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) promoveu, nesta terça-feira (27), uma live para falar da acessibilidade nas escolas e no mercado de trabalho.
Participaram do bate-papo o influenciador, designer gráfico e youtuber Beto Castejon; Denise Molina, coordenadora do Programa SENAI de Ações Inclusivas em Mato Grosso; e Carlos Braguini, gerente de educação do SESI e SENAI/MT. O gerente de Tecnologias Educacionais do SENAI, Luiz Eduardo Leão, mediou a transmissão, que teve tradução simultânea em Libras, pelos intérpretes Fádia Pereira e Lucivan Fernandes.
Leão iniciou a conversa destacando que, oferecidas todas as condições de acessibilidade, os profissionais surdos conseguem mostrar sua competência e a contribuição que têm para dar às empresas: “Há estudos que comprovam que equipes multidisciplinares são mais produtivas”. Ao compartilhar sua história, Beto reconheceu que, apesar dos avanços conquistados pela comunidade surda nos últimos anos, a luta continua.
“A legislação de libras foi importante e é preciso respeitar esse direito, ter na sala um intérprete. Assim consegui me formar, me aperfeiçoar e desenvolver meu trabalho. O que faço nas redes sociais é muito importante”, ressaltou o youtuber.
Contudo, ainda prevalecem as dificuldades para o surdo conseguir uma vaga de trabalho e ser valorizado. “Às vezes, trabalhando na empresa, as pessoas não cumprimentam, não conversam, não sabem interagir”, lamentou.
Adaptações no ambiente de trabalho
Para Carlos Braguini, o tema diversidade faz parte do nosso dia a dia e não há prosperidade e futuro sem inclusão. “Instituições de educação e as empresas do país precisam romper barreiras e inserir a inclusão no DNA, nos valores, nos processos seletivos. Ainda existem aquelas que preferem pagar a multa a incluir as pessoas. E não é só cumprir uma cota, mas tornar essas pessoas produtivas, o que não acontece da noite para o dia. Tem que adaptar ambientes, materiais”, exemplifica.
“Eles têm uma percepção aguçadíssima e são pragmáticos, lógicos, sinceros. Precisam de alguém para mediar um pensamento e desejo, mas isso não os abala”, observa Denise Molina, primeira intérprete do SENAI/MT – função que exerceu com a primeira formanda surda em pedagogia do estado. De acordo com a especialista, é a própria sociedade que coloca barreiras na comunicação, que acaba se tornando o único impedimento para os surdos estarem onde quiserem.
Os representantes do SENAI lembraram que a instituição pode apoiar as empresas com assessoria inclusiva para entender as necessidades da pessoa com deficiência e quais competências profissionais ela pode desenvolver com os cursos de qualificação e aperfeiçoamento.
“O primeiro passo, independentemente de ter deficiência, é se qualificar, desenvolver habilidades e estar pronto para as melhores oportunidades”, defende Braguini, que lembra dos programas de aprendizagem, em que o aluno faz o curso técnico no SENAI e já é empregado, com um contrato de até dois anos, dentro das cotas da empresa para jovens aprendizes.
Outra iniciativa é o SENAI LIBRAS App, glossário com aproximadamente 1.000 termos técnicos acessíveis em formato 3D para apoiar docentes, alunos e profissionais do SENAI. A ferramenta traduz os termos técnicos da língua portuguesa relacionados à educação profissional e à indústria para Libras.
Cursos on-line e mais de 4 mil matrículas na pandemia
No ano passado, em meio a pandemia e a todos os obstáculos do ensino remoto, o SENAI registrou 4.388 matrículas de alunos com deficiência auditiva. Para garantir o Ensino a Distância (EaD), a instituição adaptou cursos on-line para estudantes surdos, com serviço de transcrição para Libras. Jovens de diferentes estados puderam fazer os cursos de “Qualificação Profissional: Assistente Administrativo” e o “Aperfeiçoamento Profissional: Qualidade de Atendimento ao Cliente”. E o objetivo é ampliar a lista de opções.
Esse trabalho, de formar pessoas com deficiência para o mercado de trabalho, começou há duas décadas. A instituição estruturou o Programa SENAI de Ações Inclusivas (PSAI) um ano antes do reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão - o que ocorreu por meio da Lei 10.436, de 2002.
Em 2005, o país teve mais um avanço, com a regulamentação e a inclusão de Libras como uma disciplina curricular obrigatória na formação de professores surdos, professores bilíngues, pedagogos e fonoaudiólogos. De lá para cá, o SENAI realizou uma série de ações para contribuir com a formação técnica e profissional dos mais de 10 milhões de brasileiros que têm alguma característica relacionada à surdez, ou seja, 5% da população, segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020.
Referência em educação profissional e técnica, com mais de 600 cursos de 39 áreas tecnológicas da indústria, o SENAI pretende inspirar e ser modelo de escola para todos, considerando a singularidade linguística de cada pessoa. Entre 2007 e 2020, foram 238.000 matrículas de alunos com algum tipo de deficiência.