Taxas de juros elevadas e dificuldade para acessar crédito marcam 1º tri de 2023 na indústria

Questões afetam a demanda interna e as intenções de investimento dos empresários industriais. Percepção foi constatada na Sondagem Industrial, pesquisa mensal da CNI, que ouve mais de 1.600 industriais

Houve pouca mudança de fevereiro para março nos níveis de estoques das indústrias brasileiras

As indústrias relataram incômodo com as taxas de juros elevadas e assinalaram a questão como um dos principais problemas do primeiro trimestre de 2023. A situação foi constatada na Sondagem Industrial, pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que consulta mais de 1.600 empresas de pequeno, médio e grande porte de todo Brasil. No primeiro trimestre deste ano, os três principais problemas citados pelos empresários industriais foram: elevada carga tributária, demanda interna insuficiente e as taxas de juros elevadas.

Essa última questão chama atenção dos economistas da CNI, pois está ganhando cada vez mais relevância e, no período citado, alcançou a maior assinalação de toda a série histórica (28,8%). Desde 2022, em todos os trimestres, esse problema foi bastante apresentado pelas indústrias e marca um percentual acima de 20% consecutivamente.


“Essa percepção por parte dos empresários afeta outras questões diretamente ligadas aos juros, agravando a percepção de demanda interna insuficiente, aumentando a dificuldade de obter crédito e influenciando os investimentos”, afirma o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.


Confira o comentário completo do economista:

Condições financeiras das indústrias pioraram

Com relação às condições financeiras, a Sondagem Industrial mostra que as indústrias indicaram piora no trimestre, com insatisfação dos empresários com a margem de lucro, que caiu de 47,3 pontos para 44,8 pontos, e com a situação financeira, que caiu de 51,8 pontos para 49,7 pontos.

O índice que mensura a facilidade de acesso ao crédito apresentou queda expressiva de 4,7 pontos no trimestre, passando de 42,7 pontos para 38,0 pontos. Com a queda, o indicador ficou não só abaixo da linha divisória de 50 pontos, como também abaixo da média da série histórica, de 39,8 pontos.

“Essa dificuldade para acessar crédito está relacionada ao aumento da restrição nos critérios de concessão, dada a taxa de inadimplência alta, inclusive em razão de eventos adversos de grandes empresas varejistas”, explicou Azevedo.

Estoques ainda estão acima do planejado

Houve pouca mudança de fevereiro para março nos níveis de estoques das indústrias brasileiras. O índice de evolução do nível de estoques foi de 50,5 pontos em março.

Já o índice do nível de estoque efetivo em relação ao planejado aumentou 0,7 ponto, registrando 51,9 pontos em março. Desde julho de 2022, esse índice vem ficando acima dos 50 pontos, revelando que os empresários estão com dificuldades para ajustar seus estoques. Valores acima de 50 pontos indicam que o nível de estoques está acima do planejado pelos empresários.

Apesar disso, a produção industrial aumentou na passagem de mês e registrou 53,7 pontos, acima da média histórica do mês de março (51,2 pontos). Porém, apesar do alto percentual, o número não indica um nível de produção excepcionalmente forte, mas sim uma retomada, pois os seis meses anteriores apresentaram indicadores abaixo da linha dos 50 pontos.

Indústria está mais otimista e intenção de investir apresenta estabilidade

Em abril de 2023, a maioria dos índices de expectativas mostrou altas moderadas: houve aumento dos índices de expectativa de demanda, de compras de matérias-primas e de quantidade exportada. Essas variações revelam maior otimismo dos empresários, com expectativas de crescimento nos próximos seis meses.

O índice de intenção de investimento do empresário industrial manteve-se inalterado em 53,6 pontos e apresenta certa estabilidade desde novembro de 2022, o que indica que há intenção de investir na indústria.

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