Indústria busca alternativas para enfrentar crise hídrica no Nordeste

Este é o quarto ano consecutivo que a região enfrenta uma severa seca

Para o setor industrial, mais um ano de estiagem nos estados da região Nordeste causará sérias perdas econômicas e impactos sociais

A escassez de água no Nordeste tem levado inúmeras empresas a recorrer a carros pipa, fator que vem encarecendo a produção nos estados da região. O tema foi debatido por empresários, nesta quinta-feira (5), em João Pessoa, durante o Encontro dos Representantes da Indústria nos Colegiados de Recursos Hídricos, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com a Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP). Integrantes dos nove estados nordestinos trocaram informações sobre a situação da água e discutiram alternativas para o enfrentamento da crise hídrica. Na avaliação da CNI, se medidas não forem tomadas com urgência pela esfera pública, o cenário tende a piorar, colocando em risco a competitividade de diversas atividades industriais.

Em novembro de 2012, o nível médio de acumulação de água na região era de 48,9%. Hoje, apenas 20,6% da capacidade dos reservatórios estão sendo usados. As situações mais críticas são a dos reservatórios do Ceará, onde o nível é de somente 14,5% da capacidade de acumular água, de Pernambuco (14,6%) e da Paraíba (16,7%). Os dados foram apresentados pelo coordenador de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA), Marco Neves, demonstrando quedas expressivas nos níveis dos reservatórios no Nordeste.

Este é o quarto ano consecutivo que a região enfrenta uma severa seca. A avaliação geral do setor industrial é que mais um ano de estiagem causará perdas econômicas e impactos sociais relevantes. Segundo o presidente da FIEP, Francisco Gadelha, os problemas de falta de água passaram a ter mais atenção em 2015 em razão de o estado de São Paulo estar enfrentando uma grave crise hídrica. "O Brasil todo acordou", disse. Gadelha propôs a integração de bacias como parte da solução para o problema de desabastecimento no Nordeste. Ele alerta que só as obras não solucionarão o problema. "Temos que ter a consciência de que essa água não é só para agora, mas para as futuras gerações. Sempre que abusarmos do uso, faltará água", frisou. 

SOLUÇÕES CONJUNTAS - O gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Shelley Carneiro, destacou que o objetivo da confederação é unir integrantes da indústria de diferentes bacias para que propostas e soluções sejam construídas em conjunto e encaminhadas para os governos. "Essa interligação vai ser muito útil para reunirmos informações e tomarmos decisões compartilhadas", afirmou Carneiro. Ele defendeu que a indústria se engaje cada vez mais com o poder público para colaborar com a gestão dos recursos hídricos.

O coordenador da Rede de Recursos Hídricos da Indústria, Percy Soares Neto, acrescentou que a integração, por meio de reuniões e de um sistema online de discussões, dará força política ao setor industrial para propor ações e fazer defesas de interesse com mais efetividade. Também participaram da reunião representantes do Governo da Paraíba e da Prefeitura de João Pessoa.

ENERGIA - O papel da energia no desenvolvimento regional foi o tema da reunião do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade (COEMA) da CNI, nesta sexta-feira (6), também em João Pessoa. Empresários ressaltaram a liderança nordestina na geração eólica e solar, com investimentos elevados em estados como o Rio Grande do Norte, Piauí e a Bahia. De acordo com números do Ministério de Minas e Energia, o Nordeste é responsável por 17,8% do consumo total de energia do Brasil.

O COEMA – O Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade (COEMA) da CNI é composto por representantes de associações setoriais e de federações estaduais das indústrias. O colegiado discute e propõe estratégias relacionadas a questões de interesse do setor industrial e projetos legislativos da área ambiental; apresenta subsídios ao processo decisório dos órgãos diretivos da CNI relacionados com o posicionamento estratégico e a atuação da entidade na defesa de interesses da indústria brasileira; e objetiva ampliar a participação de setores representativos, organizações e associações do segmento industrial, buscando consolidar e uniformizar a ação de representação da CNI.

REDE DE RECURSOS HÍDRICOS - Coordenada pela CNI, a Rede de Recursos Hídricos da Indústria é composta por federações de indústrias e associações setoriais. Tem o objetivo de alinhar o posicionamento do setor industrial em relação a políticas de água e promove ações em prol do uso eficiente da água na indústria.

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