Como principal instrumento da política monetária, a Selic desempenha um papel crucial no controle da inflação: ao ajustar essa taxa básica de juros da economia, o governo influencia diretamente o consumo, o investimento, a demanda por crédito e a alocação de recursos na economia, impactando, assim, o nível geral de preços.
Para as empresas, o instrumento influencia no custo do crédito para capital de giro, essencial para a manutenção das operações diárias; e para investimentos em expansão, modernização e aquisição de bens de capital, como máquinas e equipamentos.
No caso das micro e pequenas empresas, a alta da Selic pode causar outros prejuízos como a redução na demanda por produtos e serviços e, consequentemente, a queda nas vendas das MPEs.
No NAC Responde desse mês, o analista de Desenvolvimento Econômico e especialista do NAC da Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), João Baptista de Lima Guimarães, explica como a Selic afeta as micro e pequenas indústrias brasileiras; quais são os principais desafios e dá dicas para contornar as mudanças da taxa e manter o crescimento industrial.
Quais são os maiores desafios enfrentados pelos empresários ao lidar com o aumento da Selic, especialmente no que diz respeito ao crédito e financiamento?
As empresas de menor porte enfrentam um cenário de endividamento mais caro e acesso ao crédito mais restrito, com os bancos exigindo garantias mais robustas e adotando políticas de crédito mais rigorosas.
Esse cenário gera uma série de consequências negativas, como a redução do fluxo de caixa, que dificulta a quitação de dívidas e o pagamento de fornecedores. Além disso, o aumento do risco de inadimplência pode levar à exclusão do crédito, dificultando a obtenção de recursos no futuro e prejudicando a reputação da empresa no mercado.
A escassez de recursos financeiros também limita a capacidade de investir em novos projetos e modernização, comprometendo a competitividade das empresas.
Embora algumas linhas de financiamento para investimentos não tenham na composição do seu custo financeiro a Taxa Selic, a maioria delas possui alguma correlação com essa taxa básica de juros. Essa relação direta implica em um aumento dos custos de financiamento quando a Selic se eleva, tornando projetos de investimento economicamente menos atrativos.
Consequentemente, muitos empresários são levados a adiar ou até mesmo a cancelar iniciativas de expansão e modernização, comprometendo o crescimento e a competitividade de suas empresas.
Quais outros custos as micro e pequenas empresas enfrentam devido ao aumento da Selic?
Além do crédito, o aumento da Selic impacta os custos operacionais e de insumos das micro e pequenas empresas de diversas maneiras. A alta da taxa de juros tende a encarecer dívidas já existentes, especialmente aquelas atreladas a juros variáveis, pressionando o fluxo de caixa. Além disso, fornecedores de matérias-primas e insumos também enfrentam custos financeiros mais elevados, o que muitas vezes é repassado aos compradores, elevando os preços e reduzindo as margens de lucro.
Em um ambiente de juros altos, a inadimplência também pode crescer em toda a cadeia produtiva, impactando a saúde financeira das empresas.
Diante disso, as micro e pequenas indústrias precisam buscar estratégias para otimizar os processos, negociar melhores condições com fornecedores e reduzir desperdícios para lidar com o aumento desses custos.
Quais ações o governo ou o sistema bancário poderiam adotar para reduzir o impacto da alta da Selic nas MPEs?
O governo e as instituições financeiras podem adotar algumas medidas, como a oferta de programas e linhas de crédito subsidiadas, especialmente para investimentos de longo prazo em inovação e produtividade. Nessa frente, o papel de bancos de desenvolvimento como o BNDES e FINEP é fundamental.
Além disso, a expansão e o fortalecimento de mecanismos de garantia, como fundos garantidores e o aval de sociedades garantidoras de crédito, podem reduzir o custo do crédito para as MPEs, ao mitigar os riscos de inadimplência.
Outra medida importante é a implementação de programas de renegociação de dívidas, oferecendo condições mais favoráveis para que as empresas possam reestruturar os passivos e aliviar a pressão sobre o fluxo de caixa.
Quais são as dicas do NAC para contornar essa alta da taxa Selic?
- Evite o endividamento desnecessário: Em momentos de alta da Taxa Selic, o custo do crédito está elevado. Priorize ajustes internos e soluções alternativas antes de contrair dívidas.
- Aposte em linhas de crédito subsidiadas: Procure opções com taxas reduzidas, como as oferecidas pelo BNDES, FINEP ou programas estaduais de incentivo à inovação, eficiência energética e sustentabilidade.
- Prefira financiamentos de longo prazo: Linhas de longo prazo tendem a ter condições mais vantajosas do que o crédito de curto prazo, como capital de giro, que é geralmente mais caro.
- Pesquise e compare opções de crédito: Avalie diferentes propostas de bancos comerciais, bancos de desenvolvimento, agências de fomento e cooperativas de crédito. Além de taxas, considere prazos e requisitos de garantia.
- Explore outras fontes de recursos: Negocie prazos de pagamento mais longos com fornecedores e antecipe recebíveis junto aos clientes, quando possível, para aliviar o fluxo de caixa sem recorrer a financiamentos.
- Otimize a gestão financeira: Reforce o controle do fluxo de caixa, reduza despesas desnecessárias e busque aumentar a eficiência operacional para minimizar os impactos dos juros altos no negócio.
- Invista em parcerias e capacitação: Busque o apoio de instituições, como o NAC nas Federações das Indústrias, que oferecem informações, orientação e suporte para facilitar a tomada de decisões estratégicas e melhorar o acesso a recursos financeiros.
Tem dúvidas? O NAC Responde!
Todo mês, o NAC Responde, produzido pela Agência de Notícias da Indústria, responde as dúvidas mais frequentes de empresários e gestores na hora de buscar crédito para os negócios.
“Por meio das orientações, o NAC facilita o acesso ao crédito de micros, pequenas e médias empresas industriais. O crédito é essencial para o funcionamento das empresas, seja para viabilizar novos investimentos ou para atender às necessidades rotineiras de caixa”, pontua o gerente de Política Econômica da CNI, Fábio Guerra.
Desde 2015, o NAC, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), assessora MPEs industriais sobre as linhas de crédito disponíveis no mercado, dando suporte com informações sobre documentação, taxas de juros, garantias, número de parcelas, itens financiáveis, entre outras.
Saiba mais pelo site do Núcleo de Acesso ao Crédito (NAC) ou entre em contato com a federação das indústrias do seu estado.