Como empresa de base de inovação tecnológica, a Pharmakos D´Amazônia tem um desafio que parece simples à primeira vista: “plantar mato no mato”. No entanto, o nível de dificuldade fica complexo ao localizar geograficamente a sua produção. Na Amazônia, terra de dois climas, a metade do ano o material coletado na floresta é mantido ao sol. Na outra, sob fortes e constantes chuvas, não há como colher folhas e sementes que servem de insumos para a linha de produtos. “É mato? É. Mas é um mato que cura, um mato estudado nas universidades, que precisa ser colhido de forma não predatória”, diz o sócio e diretor comercial Schubert Pinto Júnior, farmacêutico de formação e pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Foi diante desse impasse que empresa resolveu enfrentar a sazonalidade climática para manter, por exemplo, a produção de óleo de copaíba e de urucum o ano inteiro. “Na Amazônia, as pessoas pensam que temos terra farta por todos os lados. Não é assim. Além da temporada de chuva, que inviabiliza a produção, temos uma preocupação extrema com a relação entre a bioindústria e a sustentabilidade do ecossistema. Aqui, não se derrubam árvores para plantar. Há ainda regiões de terra infértil para o plantio, onde não se pode utilizar nenhum produto químico, usamos estercos de galinha, por exemplo”, observa Schubert, cujo pai, também professor e pesquisador universitário, foi o responsável por fundar a empresa familiar.
Como uma indústria de biodiversidade, a Pharmakos D´Amazônia nasceu numa base de inteligência tecnológica, dentro de uma incubadora da Universidade Federal do Marahão (UFMA). Todos os estudos desenvolvidos visam resolver uma equação de produção, na qual o vetor sustentabilidade é uma das variáveis cruciais. É preciso incentivar a produção regional da Amazônia numa escala industrial sem desmatar o ecossistema.
“Enfrentamos essa sazonalidade com uma plantação orgânica na BR 174 (Manaus-Boa Vista), apenas aproveitando as folhas e sementes que caem ao solo, transformando, no processo, em óleo. Não existe ação predatória. Estocamos esse material. Teve um período em que só nós tínhamos matéria-prima, como andiroba, copaíba e urucum”, comemora o diretor comercial.
Projeto Aborani - Batizado de Abonari, em referência a uma tribo indígena da região, esse projeto consiste em um sistema de plantação e produção de plantas medicinais amazônicas com certificação orgânica. São mais de 10 mil mudas certificadas e acompanhadas por agrônomos e engenheiros florestais, numa parceria com as cooperativas comunitárias de vários municípios. “Nós contratamos por empreitada e eles plantam as mudas dentro da mata”, observa Schubert.
Assim, a empresa cultiva os insumos naturais, gerando desenvolvimento econômico e material suficiente para o ano inteiro sem agredir o meio ambiente. Os insumos se transformam numa cobiçada linha de produtos da floresta. A Pharmakos D´Amazônia apresenta um portfólio de aproximadamente 50 produtos, entre cosméticos (gel, sabonete íntimo, xampu, condicionador, óleos e creme corporais, aromatizadores bucais) e alimentos (pós, líquidos, encapsulados e mel). Dessa forma, tornou-se pioneira na Amazônia na chamada linha de cosméticos verdes.
O professor Schubert Pinto conta que a Pharmakos D´Amazônia tem registro de todas as marcas e abre-se para exportação, com embriões nos Estados Unidos e em Portugal, onde será inaugurada em julho de 2019. “Ou inovamos ou somos engolidos. Estamos no Amazonas, distante de tudo, onde um frasco de um perfume vindo de São Paulo leva 35 dias para chegar aqui e 35 para voltar. Temos 70 dias de atraso em relação à concorrência. É preciso se diferenciar”.
Desde que entrou no mercado, a empresa ganhou por sete vezes o Prêmio Finep de Inovação e, em 2017, venceu o Prêmio Nacional de Inovação, iniciativa conjunta da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Sebrae. “O investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias são nossos diferenciais”, aponta Schubert Pinto.
Uma das pesquisas premiadas deu origem a quatro colônias: kaioé, kuite, kumatê, kumarú, com nomenclaturas de origem indígena. Desenvolvidas com bioativos aromáticos de floresta amazônica, cumaru, preciosa, priprioca, patchouli, as colônias apresentam o cheiro de floresta. A embalagem artesanal é composta por um revestimento em palha de buriti, ornamento indígena machadinha ou zarabatana e tampa do resíduo da madeira. Neste momento, a empresa se prepara para criar abelhas. A ideia é fabricar um mel verde orgânico com o sabor da floresta.