Estabelecida no mercado, a empresa JGB, de São Jerônimo (RS), é pioneira no mercado de segurança do trabalho. Fabrica equipamentos de proteção para profissionais submetidos a riscos químicos ou de altas temperaturas, entre outros. A pandemia de Covid-19, porém, fez a indústria superar-se em um dos seus maiores desafios em mais de três décadas. Com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), projetou e construiu, em apenas 40 dias, uma máquina para fabricação de máscaras-respirador PFF2/N95, capazes de proteger os usuários de gotículas que contenham vírus.
O fundador da empresa, José Geraldo Brasil, explica que a importação de uma máquina, um processo demorado, não responderia à necessidade de atender rapidamente à demanda gerada pela pandemia. Por isso, a indústria encarou e venceu a empreitada.
“O bom relacionamento entre as áreas técnicas da JGB e do SENAI foram fundamentais para o andamento do trabalho. Desenvolver tecnologia de altíssimo nível sem haver nenhuma reunião presencial é para poucos, assim temos orgulho em dizer que pesquisadores brasileiros projetaram e fabricaram uma máquina e um produto 100% brasileiro”, conta ele.
A máscara-respirador do tipo PFF2, sigla de Peça Facial Filtrante, possui um filtro que impede contaminantes do ambiente de entrar no sistema respiratório do usuário. O empresário conta que foi uma novidade para a equipe de 165 colaboradores trabalhar com esse tipo de produto. “Somos uma fábrica de equipamentos de proteção individual que atua há 35 anos nos segmentos de riscos térmicos e químicos, mas nossa equipe não tinha o conhecimento necessário sobre riscos biológicos para criar um produto do zero”, diz ele.
A parceria com os Institutos SENAI de Inovação em Engenharia de Polímeros, de São Leopoldo (RS), e o de Biossintéticos e Fibras, no Rio de Janeiro, foram determinantes na tarefa de criar um produto com o nível de segurança exigido para uso profissional.
“A atuação da rede de inovação e tecnologia do SENAI frente à pandemia de Covid-19 foi por meio da implementação imediata de soluções tecnológicas, muitas vezes complexas, que apoiam a agenda de enfrentamento ao novo coronavírus e expandem a capacidade do parque industrial brasileiro”, explica o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi.
Além do respirador, a empresa desenvolveu um face shield incolor para riscos biológicos, macacões e aventais descartáveis. Os novos produtos estão em fase de registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que atendam a todas as normas de segurança e boas práticas de fabricação. De acordo com o empresário, a máquina projetada, que tem capacidade para produção de 1 milhão de unidades ao mês, também foi pensada para ampliar o leque de produtos no portfólio. A previsão é que a nova linha, chamada Impermax, represente, no mínimo 10% do faturamento da empresa.
“Os resultados deste projeto se constituem em um bom exemplo e demonstram as vantagens para as empresas industriais de desenvolver projetos de PD&I de forma consorciada, com compartilhamento de esforços, conhecimentos, riscos e custos”, avalia a gerente de operações do Instituto SENAI de Inovação em Engenharia de Polímeros, Viviane Lovison.
“A plataforma de inovação em fibras trabalha em soluções inovadoras que envolvem o mapeando de matérias-primas alternativas, o desenvolvimento de funcionalização de substratos têxteis e ajustes de processo aplicação. Temos o apoio do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção na produção de protótipos de itens hospitalares”, complementa Adriano Passos, coordenador da plataforma de Fibras do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, organização integrante do SENAI Cetiqt.
Missão contra a Covid-19
O projeto da JGB foi um dos 34 selecionados na categoria Missão contra a Covid-19 da Plataforma Inovação para a Indústria (antigo Edital de Inovação para a Indústria). A categoria surgiu da parceria do SENAI, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
Foram investidos R$ 29 milhões nas propostas selecionadas, que ajudam a prevenir, diagnosticar e tratar a Covid-19. Entre os projetos já desenvolvidos estão equipamento que utiliza raios ultravioleta para desinfecção de transportes públicos; o uso de supercomputação e inteligência artificial para diagnosticar a doença; monitor que avalia se a ventilação pulmonar de pacientes graves está correta; um spray para superfícies e tecidos que eliminam o novo coronavírus, entre outros.
A Plataforma Inovação para a Indústria é uma iniciativa do SENAI e do Serviço Social da Indústria (SESI). Desde que foi criada, em 2004, foram selecionados mais de mil projetos inovadores, nos quais foram investidos mais de R$ 711 milhões. As propostas recebem recursos e apoio para desenvolvimento de uma prova de conceito, passando por processos de validação, de protótipo e de teste na rede de inovação e tecnologia do SENAI. O objetivo é estimular o desenvolvimento de soluções inovadoras para a indústria brasileira, sejam novos produtos, processos ou serviços de caráter inovador, incremental ou radical.
A rede de Inovação e de Tecnologia do SENAI
Os Institutos do SENAI possuem pesquisadores qualificados, equipamentos e infraestrutura de vanguarda para desenvolvimento de produtos e processos inovadores, assim como para a oferta de serviços de consultoria e metrologia. Desde que a rede de 27 Institutos SENAI de Inovação foi criada, em 2013, mais de R$ 1 bilhão foi aplicado em 1.086 projetos concluídos ou em execução. A estrutura conta com mais de 700 pesquisadores, sendo que cerca de 44% possuem mestrado ou doutorado. Atualmente, 15 centros são unidades Embrapii, e têm verba diferenciada para financiamento de projetos estratégicos de pesquisa e inovação. A rede de 60 Institutos SENAI de Tecnologia possui corpo técnico de cerca de 1.200 especialistas e consultores que prestam serviços buscando melhorar a qualidade de produtos e serviços, a produtividade e a competitividade dos negócios.
A Indústria contra o coronavírus: vamos juntos superar essa crise
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