Drones desenvolvidos no Brasil são aliados da produção agrícola

No Dia Mundial da Propriedade Intelectual, nosso Deu Certo mostra como a tecnologia tem sido explorada por empresas brasileiras e seu impacto no campo

Quem já não viu um drone voando por aí? As pequenas aeronaves não tripuladas ficaram tão populares que foi preciso criar sistemas para controlar seus usos e aplicações. Hoje estão largamente empregados em sistemas de mapeamento, monitoramento, filmagens e, também, na agricultura, setor em que o Brasil se destaca mundialmente.

Nas operações agrícolas, são usados, por exemplo, no mapeamento de lavouras para detectar plantas daninhas, doenças, vigor e estresse das plantas. Também monitoram irrigação e fazem a aplicação de defensivos e fertilizantes. Os aparelhos ainda podem fazer a semeadura por via aérea e a liberação de insetos usados no controle biológico de pragas.  Tudo com muita eficiência, precisão e segurança. 

Uma das pioneiras no uso de drones agrícolas foi a VOA, empresa com sede em São José dos Campos (SP), e franquias nos estados do Paraná e Goiás.

 

“As características técnico-operacionais, a legislação e as boas práticas do setor - se bem disseminadas - ajudam a mitigar riscos, evitar custos desnecessários, aumentar a qualidade nos serviços e aprimorar as interfaces entre membros da cadeia de valor”, afirma Nei Brasil, CEO da empresa.


O avanço no uso de drones na agricultura fez com que o empresário mudasse o foco. Migrou da área de defesa para o setor agro, especialmente, na proteção e nutrição de lavouras. “A VOA arrenda os equipamentos. E são os pilotos independentes que operam, atendendo a demanda especificada na plataforma, que faz conexões entre pilotos e agricultores dependendo na região geográfica, de disponibilidade e capacidade técnica”, completa Brasil.

Patentes asseguram retorno dos investimentos 

A VOA já tem cinco depósitos de patentes no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) para novas tecnologias. A empresa trabalha com três frentes em relação à propriedade intelectual. A primeira é de desenvolvimentos próprios, para proteger investimentos feitos e viabilizar inovações. A segunda linha é de desenvolvimento em comunidade, para contribuir com comunidades de código aberto e se beneficiar com os resultados da comunidade com tecnologias de livre uso. 


A terceira frente é de licenciamento de tecnologias de outros mediante pagamento de royalties. “Esse é um modelo de inovação muito popular e que cresce rapidamente”, afirma Brasil.


O empresário não revela quantas registros já foram concedidos nem o valor investido em pesquisa, mas diz que, em média, a empresa levou entre 12 e 24 meses para desenvolver cada uma das novas invenções.

“São patentes relacionadas a métodos de dispersão de agentes biológicos, à gestão de serviços de drones e gestão de frotas de drones. Tipicamente, temos invenções introduzidas em nossa plataforma de serviços e em nossa tecnologia que está no campo”, explica Brasil.

O empresário afirma que a experiência com os processos de patenteamento no Brasil tem sido positiva, mas ressalta que “os processos poderiam ser mais rápidos e menos burocráticos”.

Um poderoso aliado do agricultor

A popularização do drones agrícolas também atraiu o setor industrial. A SkyDrones, de Porto Alegre (RS), fabrica veículos não tripulados há 10 anos. Em 2018, a empresa criou um novo segmento, a Skyagri, justamente para atender a demanda agrícola. 

Eugênio Passos Schröder, diretor técnico e engenheiro agrônomo,  aponta que o grande desafio foi o desenvolvimento dos drones agrícolas. “Não adianta ter um ótimo aparelho se você não falar a linguagem do agricultor, se não atende a necessidade do produtor ou da indústria. Se o equipamento não for conhecido pelos usuários finais, não adianta”, diz Schröder.

O agricultor Clair Teixeira de Souza, também um engenheiro agrônomo, cultiva arroz irrigado em Tubarão (SC) e já utiliza drones há 3 anos. O primeiro ano funcionou como teste para observar a viabilidade das aplicações. Como deu certo, ele adotou a tecnologia em toda a propriedade e ainda estendeu o serviço para fazendas de alguns clientes. Hoje, os drones já são usados para fazer pulverizações em quase 500 hectares de plantações de arroz.

Clair explica que a região é composta predominantemente por várzeas, localizadas próximas às áreas urbanas, e consideradas muito baixas para a utilização de aviões agrícolas. Uma das vantagens apontadas por ele, é “poder trabalhar com equipamento que não provoque amassamento da cultura, principalmente, na época de aplicação de fungicidas.

O trator provoca amassamento trazendo prejuízo. A área quando irrigada apresenta um solo muito instável, de baixa sustentação que pode causar atolamento dos tratores”.

De uso militar a recreação: drones em todo o lugar

De acordo com o relatório Radar Agtech Brasil 2019, existem no país, pelo menos, 40 startups que prestam serviço com esses equipamentos. Em 2020, cerca de 78.300 drones estavam registrados no Sistema de Aeronaves Não Tripuladas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Chama a atenção o fato de mais de 60% dos aparelhos estarem cadastrados para uso recreativo. Algo inimaginável quando os primeiros drones foram criados por militares alemães, durante a segunda guerra mundial, como uma arma de detonação remota.

Com o passar do tempo, apesar de ainda serem amplamente empregados por forças militares ao redor do planeta, os drones ganharam outros usos. 

O drone “moderno” foi inventado na década de 1970 pelo engenheiro israelense Abe Karem. Segundo ele, à época, eram necessárias 30 pessoas para operar um único aparelho. Mas o desenvolvimento de novas tecnologias, tornaram os drones cada vez mais ágeis e versáteis.

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