Mercado de gás natural precisa de segurança no abastecimento e preços competitivos

Embora tenha elevadas reservas, o Brasil importa cerca de metade de todo o gás natural que consome. Só em 2013, o déficit na balança comercial do combustível atingiu o recorde de US$ 6,9 bilhões

"É hora de enfrentarmos os obstáculos” - José de Freitas Mascarenhas

O gás natural é um insumo estratégico para o crescimento da indústria e da economia brasileira. Mas, enquanto outros países apostam no aumento da produção, no Brasil há uma série de obstáculos que desestimulam os investimentos e consumo do combustível. Essa foi uma das conclusões do evento Agenda da Indústria para a Competitividade do Gás Natural, realizado nesta segunda-feira (22), em São Paulo. "É hora de enfrentarmos os obstáculos”, alertou o presidente do Conselho Temático de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José de Freitas Mascarenhas.

Segundo ele, a insegurança em relação ao abastecimento e os elevados preços do gás no país, que chegam a representar mais do que o dobro do cobrado nos Estados Unidos, tiram a competitividade da indústria nacional, especialmente de setores como os de alumínio, celulose e cerâmico.

Embora tenha elevadas reservas, o Brasil importa cerca de metade de todo o gás natural que consome. Só em 2013, o déficit na balança comercial do combustível atingiu o recorde de US$ 6,9 bilhões. Além disso, o preço final para uma pequena ou média indústria pode alcançar US$ 14 por milhão de BTU, mais que o dobro do praticado no mercado norte-americano. A elevada dependência das importações e a falta de preços competitivos compromete os investimentos no Brasil, avaliou Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace). “Precisamos enfrentar esses desafios no curto prazo”, destacou Pedrosa.

Durante o evento, organizado pela CNI e pela Abrace, Edmar Almeida, diretor de pesquisa do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que os Estados Unidos conseguiram reduzir sua dependência de petróleo explorando gás de xisto e, em breve, serão exportadores do combustível. Hoje, a produção norte-americana de gás é 1,6 vezes maior que a de petróleo. “Outros países, como China e Austrália, estão seguindo o mesmo caminho”, lembrou o analista. Enquanto isso, completou Almeida, no Brasil, a produção de gás representa apenas 20% da de petróleo. “Quem explora petróleo no Brasil não está interessado em produzir gás”, concluiu.

COMPROMISSOS – Os representantes do PSB e do PSDB que participaram do evento disseram que os candidatos à Presidência da República dos dois partidos darão atenção aos pleitos da indústria sobre o gás natural. João Bosco de Almeida, representante técnico da área de energia da candidata Marina Silva (PSB), disse que uma política para o gás natural  precisa ter regras claras.

Segundo ele, a matriz energética brasileira precisa ser discutida e legitimada pela sociedade e pelo Congresso. Ele criticou o monopólio no setor e acrescentou que o governo não resolverá sozinho as questões do setor energético.

O professor Afonso Henrique Moreira Santos, que foi diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica no governo do PSDB, afirmou que é preciso trazer os melhores players internacionais para desenvolver um mercado de gás atraente e competitivo no Brasil. Isso vai melhorar, por exemplo, a oferta de serviços e equipamentos para exploração de gás natural em terra ou em alto mar. "A palavra é modernização. O setor energético está sucateado”, completou.
 

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