Dilma Rousseff diz que educação é o caminho para competitividade

O encontro teve como objetivo conhecer a natureza e o alcance das políticas públicas dos candidatos, suas prioridades e estratégias

Candidata a reeleição, a presidente Dilma Rousseff (PT) disse a uma plateia de mais de 500 empresários que é “capaz de fazer” as mudanças almejadas pelo setor industrial. Ela apontou a educação como o melhor caminho para o aumento da competitividade da indústria brasileiro e afirmou ser difícil aprovar uma reforma tributária integral, embora tenha admitido que, no primeiro ano de um eventual novo mandato, o governo poderá ter mais força política. Dilma defendeu ainda a política do governo para a indústria e criticou aqueles que conspiram contra o financiamento do setor. 

Dilma Rousseff foi a terceira e última candidata a participar, nesta quarta-feira (30), do Diálogo da Indústria com candidatos à Presidência da República. Ao lado do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), que é candidato novamente na chapa da petista, Dilma enumerou ações do governo em diferentes áreas industriais e assumiu o compromisso de dar atenção aos 42 estudos apresentados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) para o próximo governo. 

Ao abrir a terceira parte do evento, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, ressaltou que a escolha dos governantes é um momento determinante na vida dos países democráticos. “Desejamos ser ouvidos e ouvir. Neste momento, a nossa maior expectativa em relação aos programas do candidato à Presidência da República é conhecer a natureza e o alcance das políticas públicas que pretendem implantar, suas prioridades e estratégias”, destacou Andrade. 

Na exposição das propostas da indústria, o empresário Carlos Fadigas, presidente da Braskem, destacou que o setor produtivo deseja para o próximo governo um ambiente de negócio mais eficiente, a partir do desenvolvimento de pilares como o equilíbrio fiscal, ampliação dos investimentos da educação, além do aumento da produtividade e da competitividade. 

Principais pontos da apresentação de Dilma Rousseff aos empresários: 

•    Política industrial 
“Nos últimos anos, o Brasil mudou e tem ainda muito caminho a percorrer para mudar e avançar. Agora, uma das marcas dessa mudança é termos resgatado a política industrial numa perspectiva estruturante, superando fortes preconceitos. Durante muito tempo disseram que o Brasil não precisava de política industrial.” 

•    Pauta para a indústria 
“A pauta da nossa política industrial está construída em cima de alguns eixos. Primeiro, desoneração de tributos; segundo, crédito subsidiado ao investimento na indústria; terceiro, incentivo à indústria por meio de compras governamentais; quarto, educação focada na formação técnica e científica de pesquisadores, assegurando assim que o trabalho no Brasil seja da maior qualidade, agregando valor e produzindo inovação, aliás a CNI tem uma grande contribuição nesse sentido por conta da MEI, a Mobilização  Empresarial pela Inovação; quinto, a recuperação do planejamento, a constituição de novos marcos regulatórios; sexto, um Brasil sem burocracia, que deve ser o nosso grande desafio; sétimo, a parceria com o setor privado no planejamento e na execução de projetos estruturantes.” 

•    Petróleo 
“Nossa experiência com a indústria naval que renasceu com a decisão tomada em 2003 e, permanentemente reiterada ao longo do tempo, de adotar uma política de conteúdo local para o segmento de petróleo e gás mostrou toda a potencialidade da política de compras governamental. E nós podemos e devemos fazer uma política em favor da indústria brasileira.” 

•    Competitividade 
“Em meu governo, nós mantivemos um diálogo constante com a CNI. Não, obviamente, concordamos em tudo, mas traçamos os principais eixos da nossa política industrial com base nesse diálogo." 

•    Crise econômica 
“A partir de 2009, o mundo vivenciou uma das mais graves crises econômicas. Na crise, a gente tem de ter a consciência de que a indústria é sempre um dos setores que mais sofre, principalmente quando a crise começa nos países desenvolvidos. Nós vemos hoje sinais modestos de recuperação nas economias avançadas, mas talvez seja ainda cedo para celebrarmos o fim da crise que esperamos com ansiedade. É bom lembrar que não só nos protegemos da crise como também preparamos a base para a retomada do nosso crescimento. Nós não desorganizamos a economia como se fazia no passado.” 

•    Educação 
“A aprovação dos royalties de petróleo e do fundo social do pré-sal vão permitir um salto histórico no que se refere a educação. Professores mais bem remunerados, escolas em tempo integral, profissionais tecnicamente qualificados e maior capacidade de produzir. A educação é um dos caminhos fundamentais para o aumento da competitividade do Brasil, de inclusão social e de democracia e cidadania.” 

•    Infraestrutura 
“Também não estou feliz com o ritmo do desenvolvimento em infraestrutura. Não havia investimento no Brasil. Aprendemos bastante com o PAC 1 e estamos agora com o PAC 2 e o processo de concessão, acredito tendo um avanço. Se você me perguntar ‘é preciso avançar ainda mais?’. Eu te direi: é preciso avançar ainda mais.”

•    Pessimismo 
“Eu insisto muito no pessimismo porque se vocês olharem as condições que nós enfrentamos a crise agora, as condições que enfrentamos a crise no passado, vocês vão ver várias coisas muito interessantes. Primeiro, enfrentamos a crise de hoje com fundamentos sólidos no que se refere ao câmbio. Enfrentamos esse processo para impedir que a crise significasse uma deterioração das relações sociais e, portanto, políticas do país. Não teve desemprego.” 

•    Reforma política 
“Não tenho dúvida de que o Brasil precisa de uma reforma política. Acho que nós faremos uma reforma política efetiva se nós tivermos a participação popular, daí porque eu acho que tem que ser um plebiscito (...) Só acredito que o Brasil fará uma reforma política depois de várias tentativas.” 

•    Reforma trabalhista 
“Eu acredito que não se fará a reforma trabalhista nesse país se não se fizer um dialogo muito próximo com empresários e trabalhadores no Congresso Nacional. Não há condições políticas sem a gente partir dessa premissa. Tem de ter um processo negocial, com objetivo de atualizar nossa estrutura e marco regulatório às condições do século 21.” 

•    Reforma tributária 
“No caso específico da reforma tributária,  essa é uma questão que envolve não só o Congresso, mas a Federação, tanto os governadores quanto os prefeitos. Porque é uma repartição tributária, além de ser uma discussão a respeito da incidência de impostos sobre pessoas, famílias e empresas.  No primeiro ano de governo, os governos têm maior força política, então é possível fazer essa tentativa." 

•    Financiamento da indústria 
“Vocês sabem que há propostas nas quais BNDES, Banco do Brasil e Caixa deixariam de financiar nessas condições a indústria. É fato que muitos conspiram aberta e envergonhadamente contra o financiamento público. As críticas se originam dos mesmos que criticam desonerações, compras governamentais e a existência da política industrial.” 

•    Banda larga 
“Luto por uma internet não com um mega de capacidade. Hoje luto por uma internet que tenha condições de chegar ao padrão da Coreia do Sul, 50 mega de capacidade. Para atingir isso, também sei que o estado vai ter que entrar com uma parte. Para que não me entendam mal, não pretendemos nem dirigir o negócio nem controlar o negócio no sentido empresarial da palavra. Pretendemos sim fiscalizar e olhar para onde vão os recursos públicos.” 

•    Reeleição 
“A minha situação é diferenciada. Eu tenho que dizer o que eu fiz, não só o que vou fazer. Se eu fiz, eu sou capaz de fazer. Vocês não se iludam.” 

FOTOS - Confira todas as imagens do evento Diálogo da Indústria com candidatos à Presidência da República no Flickr da CNI

SAIBA MAIS - Veja a cobertura do evento e conheça as propostas feitas pela indústria aos candidatos no site especial. 

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