Além das tarifas: entenda o novo cenário do comércio global

A escalada das tarifas dos Estados Unidos aos produtos importados impacta as cadeias globais de valor e produção. Acompanhe os desdobramentos para o Brasil e o mundo com o informe semanal da CNI

O tarifaço e a nova dinâmica ao comércio global 
 

O cenário econômico global passa por uma nova onda de protecionismo. Todos os dias, novas decisões impactam as cadeias globais de valor e produção.

Para acompanhar os desdobramentos, a Agência de Notícias da Indústria estreia uma página especial com atualizações semanais sobre como o momento influencia a dinâmica do comércio internacional.

Boletim elaborado pelas áreas internacional e econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI) vai reunir os acontecimentos e as ações da CNI.  

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De 1º a 8 de maio: Tarifas sobre filmes produzidos fora do país

A movimentação no tabuleiro do comércio global segue animada e o Brasil está no meio de tudo isso. Nos últimos dias, o governo dos Estados Unidos deu mais um passo na política comercial que tem implantado: desde 2 de maio, as encomendas da China que antes entravam nos EUA sem pagar imposto agora estão sendo tarifadas, e no dia 4, o governo americano anunciou tarifas de 100% sobre filmes produzidos fora do país.

Enquanto isso, no Brasil, mesmo com as novas tarifas, as exportações para os Estados Unidos aumentaram 20% em abril na comparação com o mesmo período de 2024. Foram US$ 3,5 bilhões em vendas, e produtos como o café e a carne bovina continuam com boa demanda.

Por outro lado, as exportações de aço caíram 23% e as de alumínio diminuíram significativos 73%. Vale lembrar que esses produtos foram tarifados em 25% em março, mas o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) ainda evita falar em impactos por considerar cedo.

E o governo brasileiro?

Falando em governo brasileiro, no início da semana o vice-presidente Alckmin deixou um alerta para a possibilidade de desvio de comércio, ou seja, de produtos que não conseguem entrar nos EUA e acabam direcionados ao Brasil. Já nesta quinta-feira (8), o presidente Lula criticou a postura dos Estados Unidos no cenário internacional e destacou a importância de manter relações comerciais diversificadas, especialmente com a China.

De fato, o Brasil tem fortalecido os laços com o país asiático, principalmente no setor industrial. Em 2024, o comércio bilateral cresceu quase 10%, e parcerias como a da brasileira Atlasmaq com a chinesa Bodor - para distribuição de máquinas de corte a laser em regiões estratégicas do Brasil - mostram que essa relação tem contribuído com a modernização e a competitividade da indústria nacional.

E a indústria brasileira?

Atenta ao cenário mundial e em busca de diálogo com diferentes parceiros comerciais do Brasil, a indústria nacional tem se mobilizado para contornar desafios e aproveitar oportunidades. Desta quinta (8) até 16 de maio, um grupo liderado pela CNI está nos EUA para participar de uma série de encontros entre governos e empresários. A ideia é entender o novo jogo e defender os interesses do setor.

Como o mundo tem reagido aos movimentos recentes?

  • No Canadá, o premiê se reuniu com o presidente dos EUA para discutir a relação bilateral, e a conversa foi considerada construtiva;
  • Na China, autoridades chinesas e americanas têm encontros em Genebra nesta semana para tratar das novas tarifas e das tensões comerciais. Será o primeiro encontro oficial para tratar do tema desde o anúncio de tarifas sobre os produtos chineses;
  • No Reino Unido, as negociações com o governo americano parecem ter surtido efeito: o presidente Donald Trump e o primeiro-ministro Keir Starmer anunciaram, nesta quinta-feira (8), um acordo comercial em que os EUA mantiveram uma tarifa de 10% sobre os produtos britânicos importados e o Reino Unido reduziu as taxas sobre os produtos norte-americanos.

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Semana de 26 a 30 de abril: impactos nas exportações da China e BRICS contra protecionismo 

A cena de comércio exterior segue fervendo. Em meio à escalada de medidas tarifárias dos Estados Unidos, o Brics - grupo que reúne economias emergentes como Brasil, China e Índia - se reuniu no Rio de Janeiro e mandou um recado claro contra o protecionismo.  

O bloco defendeu o multilateralismo como alternativa a essas medidas unilaterais que têm movimentado (e deixado tenso) o comércio global. No entanto, o encontro terminou sem um acordo entre os chanceleres para assinar uma declaração conjunta.  

Segundo a Global Trade Alert, plataforma suíça que monitora barreiras protecionistas, nos primeiros 100 dias do novo governo americano, pelo menos 32 países já quiseram negociar com os EUA e 16 anunciaram medidas para proteger suas economias. O Brasil está nos dois times: enquanto busca diálogo com os americanos, aparece na lista dos países que podem responder às medidas. 

A tensão mobilizou até grandes empresas: a Amazon cogitou indicar aos clientes quanto das tarifas norte-americanas estariam embutidas nos preços dos produtos e foi acusada de hostilidade e agir politicamente pela Casa Branca. A big tech negou que seguirá com a medida.  

Enquanto isso, os efeitos das tarifas americanas parecem bater mais forte na China. Dados divulgados por uma federação chinesa, nesta quarta-feira (30), mostram que os pedidos de exportação por lá caíram após o anúncio das tarifas de 145% para alguns produtos. Por outro lado, a soja brasileira está em alta nos portos chineses, que diminuíram as importações dos grãos dos EUA.  

Respiro para a indústria automotiva? 

A busca do setor automotivo por soluções parece ter surtido efeito: o presidente dos EUA assinou uma ordem para aliviar os efeitos das tarifas sobre peças importadas, possibilitando que montadoras que produzem nos EUA obtenham créditos de até 15% sobre o valor final dos veículos. Isso compensaria os custos com insumos estrangeiros e daria fôlego às cadeias de suprimento. 

Nesta semana, a Gerdau, gigante de aço brasileira, afirmou seguir confiante em relação ao comércio com os norte-americanos. Segundo a empresa, apesar da preocupação com as tarifas, a demanda segue em níveis altos.  

Impactos no mercado financeiro americano refletiram bem no Brasil  

Na última semana, as movimentações no mercado financeiro dos Estados Unidos trouxeram reflexos positivos a países como o Brasil. 

  • O VIX, que mede o nível de preocupação dos investidores, continua recuando. Apesar da queda, o índice ainda está maior do que no início do ano, então o clima ainda é de atenção. 
     
  • Mesmo com a preocupação diminuindo, a procura por dólar praticamente não mudou, segundo o índice DXY (que mede pela moeda). Ou seja, o mundo está menos interessado em recorrer ao dólar neste momento. 
     
  • Por outro lado, com o investidor menos preocupado, países em desenvolvimento começaram a atrair mais investimento. A bolsa brasileira teve sua terceira semana seguida de alta. 
     
  • Com esse cenário, o dólar caiu e o real se valorizou. Na prática, isso ajuda a conter a inflação e diminui a pressão sobre o Banco Central para subir os juros. 

Semana 21 a 25 de abril: vai e vem de tarifas para a China e Brasil na mira 

O ioiô no tom de Donald Trump nesta semana, com algumas frases de impacto sobre as tarifas, movimentou o mercado mundial. Apesar de parecer recuar nos últimos dias, sinalizando que pode reduzir parte das tarifas aplicadas aos produtos chineses, o presidente americano foi rebatido pelo governo chinês com a afirmação de que quem começou a treta que termine. Já nesta sexta (25), Trump disse que as tarifas contra a China continuarão a menos que o país ofereça algo em troca.  
 
Brasil na mira 

O presidente americano não só não poupou comentários ao Brasil como parece ter o direcionado mais para o alvo. Em entrevista a uma revista americana, ao defender sua política protecionista, Trump disse que o país é um dos que “sobreviveram” e “ficaram ricos” ao aplicar tarifas a produtos americanos.  

Movimentação do mercado mundial 

No começo da semana, a Organização Mundial do Comércio (OMC), órgão que trabalha como juiz para garantir relações justas entre os países, falou sobre os impactos dessa guerra comercial. Para a OMC, se os EUA mantiverem as tarifas de importação nos níveis de antes do aumento anunciado em 2 de abril, o comércio do mundo deve crescer 2,7% neste ano. Por outro lado, se aumentar as tarifas, o comércio pode ter uma queda de 0,2% em relação ao ano passado - ou até maior caso outros países apliquem retaliações. 

Mas há cheiro de estabilidade 

Em meio às recentes movimentações do governo americano, o cenário financeiro mundial começou a dar sinais de maior estabilidade, principalmente nos EUA. O principal indicador dessa mudança é a queda no índice VIX, que mede a volatilidade do mercado e aponta o nível de incerteza entre os investidores. O índice caiu 21,1% na última semana, mas como já subiu 33,1% só em abril, mostra que o mercado ainda está longe da tranquilidade.   

Apesar da queda recente na volatilidade, a procura por dólares não aumentou e o DXY, índice que mede o desempenho do dólar comparado a outras moedas, caiu pela terceira semana seguida. Esse cenário favorece moedas de países em desenvolvimento, como o real.  

O setor de energia também sentiu os impactos nos últimos dias: o preço do petróleo tipo Brent voltou a subir depois de cair por duas semanas. Mesmo assim, a expectativa anual ainda é de queda. O reflexo do movimento recente foi que a Petrobras anunciou uma redução no preço do litro do diesel.  

Somadas as quedas nos índices VIX e DXY e recuperação recente do preço do petróleo, o real valorizou 0,3% em relação ao dólar. Com a redução da instabilidade nos mercados americanos, há uma expectativa de que a moeda brasileira continue se fortalecendo nas próximas semanas.

Semana 14 a 18 de abril: agora, a tarifa para a China é de 245% 

A medida mais recente - e preocupante - foi anunciada nesta semana: o governo americano elevou as tarifas de importação e alguns produtos chineses serão taxados em 245%.   

A China, por sua vez, respondeu barrando a compra de aeronaves da Boeing por companhias chineses e também a exportação de materiais críticos para a produção industrial de defesa, veículos e eletrônicos, como os Elementos Terrras Raras.

E o Brasil? O Brasil prepara uma missão empresarial aos EUA, liderada pela CNI, em maio, em que empresários farão uma série de agendas para negociar saídas para o Brasil. 

O impacto da guerra comercial já começa a refletir nos preços globais, nas cadeias produtivas e nas relações econômicas entre as duas maiores potências do mundo. Os mercados demonstraram preocupação, as empresas estão correndo atrás de alternativas logísticas, e os consumidores já estão começando a sentir no bolso — principalmente com eletrônicos, carros e energia ficando mais caros.

Uma das últimas notícias foi do presidente da China, Xi Jinping, pedindo ao Camboja que "resista ao protecionismo". O clamor foi feito durante viagem ao Sudeste Asiático, nesta quinta-feira (17), já que as tarifas dos EUA ameaçam as economias de ambos os países.

 Entenda a treta em 2 minutos 

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