Recessões costumam ter um efeito peculiar no ambiente de negócios de um país: se, por um lado, milhares de empresas fecham as portas ou são obrigadas a cortar pessoal, por outro explode o número de registro de novas empresas. Chamado de "empreendedorismo por necessidade", o fenômeno acontece quando pessoas que perdem os empregos decidem abrir um negócio. Entre janeiro e setembro de 2016, último balanço da Serasa Experian, 1.542.967 empresas foram criadas no Brasil. É o maior número desde 2010.
Independentemente da idade dos negócios, uma coisa é certa: para ter sucesso, todas as empresas precisam de financiamento para manter e expandir a operação, inovar, modernizar a estrutura, entre outros aspectos. Em tempos difíceis na economia brasileira, esse pode ser um desafio e tanto. "Não existe crescimento sem crédito. Garantir o acesso das indústrias aos recursos de financiamento é fundamental não apenas para ajudá-las a se manter durante a crise, mas também para que elas ajudem o país a sair dela", afirma Suzana Peixoto, economista e coordenadora dos Núcleos de Acesso ao Crédito (NAC).
A rede de núcleos, articulada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com federações estaduais de indústrias, orienta empresários sobre linhas de financiamento disponíveis, ajuda a indústria a se preparar para a tomada de crédito e também é um mecanismo de interlocução entre a indústria e as instituições financeiras. O instrumento já opera em 14 estados. No ano passado, por meio do NAC, a CNI firmou um convênio com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES) para difundir informações sobre os recursos oferecidos pelo banco à indústria. "Vamos ter a oportunidade de traçar estratégias junto ao banco para facilitar o acesso das empresas industriais ao crédito oferecido pelo banco", afirma Suzana. Entre 2015 e 2016, os NACs ajudaram a aprovar mais de R$ 319 milhões em empréstimos. Confira a entrevista que Suzana concedeu à Agência CNI de Notícias.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Por que a CNI criou a rede NAC?
SUZANA PEIXOTO - Primeiro, porque sem crédito não há crescimento. Pensamos em uma maneira de auxiliar as empresas, sobretudo as pequenas, que mais precisam e são as mais numerosas, nesse aspecto. O empresário está muito ocupado com o dia a dia dos negócios e as pequenas empresas não costumam ter um departamento financeiro que trate especificamente desse assunto. Com o apoio da CNI, as federações de indústrias conseguem ajudar as empresas a ter as informações necessárias para a tomada de decisão na hora de buscar o crédito. Os NACs estão presentes em todos os estados da região Sul, em São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e em todo o Nordeste, com exceção do Piauí e de Sergipe. Estamos trabalhando para inserir a região Norte nesse processo, começando pelo Tocantins.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Hoje quais são os principais problemas que o empresário enfrenta para conseguir um empréstimo?
SUZANA PEIXOTO - O principal problema, hoje, é a falta de garantias. Quando você vai fazer um empréstimo, geralmente, tem de oferecer 130% do valor em garantias reais e nem sempre o empresário tem isso disponível. Existem alguns mecanismos na economia brasileira como os fundos garantidores, mas eles também são de difícil acesso. Além disso, o que vemos é que nem sempre o empresário sabe qual a linha de crédito é mais apropriada para a necessidade dele. Vemos casos de empresas que pegam recurso de capital de giro para comprar máquinas, a taxas muito maiores.
Quando você pega uma linha de recurso direcionado, naturalmente ela é mais burocrática. Como vem de recurso público, tem vários requisitos que devem ser cumpridos. Por isso, toda a documentação da empresa precisa ser muito organizada, o projeto precisa ser claro. Ações de gestão são fundamentais para que a empresa se apresente de maneira sólida para as instituições financeiras.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Então, o NAC também ajuda a empresa a estar pronta para se candidatar a um empréstimo?
SUZANA PEIXOTO - Sim, fazemos um trabalho de capacitação sobre os processos que as empresas precisam fazer nos próprios negócios para facilitar a aprovação do crédito. Coisas como: ter um site, um catálogo de produtos com especificações técnicas, um projeto bem definido, com expectativas de retorno financeiro, entre outros.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - A economia passa por um momento difícil. Quais dicas, em termos de crédito, você daria às empresas que sobreviveram e àquelas que nasceram em 2016?
SUZANA PEIXOTO - É muito importante que os empresários construam um posicionamento estratégico para os negócios, conheçam bem o público-alvo e tenham um planejamento estruturado para aumentar as chances de sobrevivência dela. Não basta empreender agora e, dali a pouco, fechar as portas. Para aqueles que abriram os negócios por necessidade, é importante não parar aí, mas buscar a sustentabilidade. Sabemos que, atualmente, conseguir financiamento está difícil, mas podemos ajudar as empresas a avaliar se o projeto da empresas trará mais retorno financeiro do que o custo de tomar um empréstimo. Há oportunidades, mesmo durante a crise.
SAIBA MAIS - Acesse o site para conhecer melhor o Núcleo de Acesso ao Crédito (NAC).