5 perguntas para Soumitra Dutta

Especialista em inovação e professor da Universidade de Cornell (EUA), defende construção de um ecossistema fértil de inovação, com participação ativa do setor privado

Referência no meio acadêmico quando o assunto é inovação e disrupção digital, o indiano Soumitra Dutta conhece bem a realidade do ambiente de inovação no Brasil.

Nesta entrevista à Revista Indústria Brasileira, o professor da Universidade de Cornell (EUA) fala sobre o papel da inovação em um mundo transformado pela pandemia e como os atores envolvidos diretamente na construção de um ecossistema inovador precisar atuar juntos, com um objetivo comum. 

Revista Indústria Brasileira - Quais inovações e tecnologias precisarão ser desenvolvidas no mundo pós-pandêmico?

Soumitra Dutta - A pandemia foi uma tragédia para muitos países e o Brasil está entre os que mais sofreram com a crise. No entanto, ela também criou algumas oportunidades que não devem ser ignoradas. Um benefício óbvio é a rápida aceleração da digitalização e a expectativa é de que essa tendência continue.

Os setores e as nações que forem capazes de alavancar com sucesso o poder das tecnologias digitais irão inovar e prosperar à medida em que construímos o futuro pós-pandemia.

Revista Indústria Brasileira - O que o Brasil precisa fazer para ser mais competitivo?

Soumitra Dutta - Todos os anos, preparo dois índices globais amplamente utilizados. O Network Readiness Index mede a prontidão de uma nação para a economia digital em rede e o Global Innovation Index fornece uma referência valiosa para o grau de inovação de um país.

Em 2020, o Brasil ficou na 59ª posição no Network Readiness e na 62ª no Global Innovation. Vemos que, embora o país esteja indo bem, certamente pode fazer melhor. Os formuladores de políticas precisam incorporar a inovação ao núcleo das instituições e da infraestrutura do Brasil.

O governo precisa construir um ecossistema fértil para inovação, ciência e tecnologia. E o país deve aproveitar a oportunidade para priorizar a formulação de políticas e iniciativas baseadas em dados, incluindo nas decisões os principais participantes da inovação no Brasil, como empresários, pesquisadores e líderes do setor privado.

Revista Indústria Brasileira - Onde estão as oportunidades para o Brasil?

Soumitra Dutta - O Brasil é um dos países mais ricos do mundo tanto em recursos naturais quanto em capital humano. Tem potencial para ser líder global em muitos setores diferentes da economia. No ambiente volátil de hoje, existem oportunidades e riscos.

O governo do Brasil deve criar e defender uma visão nacional inspiradora de como a tecnologia e a inovação podem ajudar a melhorar a vida dos brasileiros e gerar riqueza e prosperidade para o país.

Os preços das commodities voltaram a subir e isso proporcionará ao Brasil uma importante injeção de recursos para fazer os investimentos adequados em tecnologia e inovação.

Revista Indústria Brasileira - Qual é o papel do setor privado na promoção da inovação?

Soumitra Dutta - Ele é um ator fundamental para impulsionar a inovação na maioria das economias. Por estar mais exposto à competição global, tem o maior incentivo para inovar. O setor privado também é um importante gerador de patentes e novas tecnologias. No entanto, não pode fazer isso sozinho e depende do governo para fornecer um ambiente político estável e favorável à inovação.

Por exemplo, o setor privado se beneficia de políticas que apoiam os investimentos em P&D, mas precisa fazer parceria com universidades para garantir que a pesquisa acadêmica e os melhores talentos permaneçam conectados às necessidades do mundo real. A contínua aceleração digital também requer um grau de agilidade e mudança que somente o setor privado pode oferecer.

Revista Indústria Brasileira - Por que inovar?

Soumitra Dutta - O objetivo final da inovação é apoiar o crescimento inclusivo e sustentável do país. Sem inovação, as economias correm o risco de ficar para trás no cenário global e isso prejudica a criação de riqueza e investimento dentro das nações. Os investimentos em ciência, tecnologia e inovação devem ir além dos meros fundamentos técnicos e precisam gerar um impacto positivo na sociedade e no meio ambiente.

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