Portal da Indústria entrevista o presidente do WorldSkills International

Simon Bartley preside a organização responsável por reunir mais de 67 países em torno da melhoria da educação profissional no mundo, a WorldSkills International

Simon Bartley na abertura do WorldSkills Leipzig

Simon Bartley preside a organização responsável por reunir mais de 67 países em torno da melhoria da educação profissional no mundo, a WorldSkills International. Entre suas principais ações, está a competição que acontece a cada dois anos. As provas definem novos padrões de qualidade para práticas profissionais e também propiciam trocas de informações entre os países, o que permite que a educação profissional no mundo avance, na mesma medida do desenvolvimento tecnológico. 

Bartley é também um entusiasta do ensino técnico. Para ele, uma economia forte não pode crescer sem desenvolver e aumentar seu capital humano. “Com mão de obra pouco qualificada, talvez o país não tenha capacidade para se preparar para o desafio econômico mundial”, avalia. Do ponto de vista da juventude, o presidente do WorldSkills International acredita que a educação profissional é um caminho para quem quer ter sucesso. 

Ele chega a dizer que gostaria que todos tivessem o mesmo empenho de Pelé, do golfista Tiger Woods e do tenista Andrew Murray. “O mundo real [porém] é feito de pessoas que acordam cedo; pegam o transporte, usualmente, público; estudam, trabalham duro, desenvolvem suas habilidades e, à noite, voltam para casa”, lembra. Ele aconselha os jovens a manterem a cabeça focada, desenvolvendo suas habilidades, e a seguirem adiante para ter sucesso nas carreiras e na vida. 

Veja a seguir os principais trechos da entrevista exclusiva com o presidente do WorldSkills International: 

Portal da Indústria – Como o senhor avalia o WorldSkills Leipzig? Já é possível fazer um balanço? 

Simon Bartley – O que está acontecendo aqui é algo espetacular em todas as facetas que eu podia imaginar. O Worldskills está ocorrendo de maneira exemplar. Temos aqui os melhores competidores de cada país, supervisores atentos e bem preparados e as melhores máquinas para que cada um tente demonstrar o que aprendeu nestes anos. Além disso, a quantidade de público foi superada. Esperávamos 200 mil pessoas em quatro dias de prova. Já passamos disso no terceiro dia. E as pessoas andam pelos boxes de cada modalidade de maneira entusiasmada. Está muito bom. 

Portal da Indústria – Desde quando o WorldSkills vem preparando este evento? 

Bartley - Começamos a nos preparar seis meses depois que soubemos que a Alemanha (em 2011, no WS Londres, a cidade de Leipzig foi anunciada oficialmente como sede) sediaria a competição, porque tínhamos de fazer várias reuniões com equipes para elaborarmos um plano de negócios e um plano de patrocínio, para pensar em toda a infraestrutura, como hospedagem e tecnologia da informação, e informar a todas as delegações internacionais onde e de que forma a competição ocorreria. Os alemães tiveram de cumprir algumas exigências da entidade para serem confirmados como sede do WS. 

Portal da Indústria – O que o senhor espera do Worldskills em São Paulo? 

Bartley – Eu já visitei São Paulo e não tenho dúvidas que será um excelente evento, de sucesso, com o sabor do Brasil e da América Latina: pra cima, com uma cara alegre. Tenho certeza que São Paulo fará uma bela competição como está sendo feito aqui em Leipzig, foi feito em Londres (Inglaterra), Calgary (Canada). 

Portal da Indústria – Na opinião do senhor, como a educação profissional pode impactar a economia e a vida dos jovens? 

Bartley – Eu sei academicamente, em tudo o que li, em cada artigo, cada livro, cada conferência, é que uma economia forte não pode crescer sem desenvolver e aumentar seu capital humano. E, para fazer isso, é necessário promover as habilidades de cada pessoa. Só com esse capital humano bem desenvolvido e estimulado é que se faz uma economia crescer de maneira sustentada. Do contrário, com uma mão de obra pouco qualificada, talvez o país não tenha capacidade para se preparar para o desafio econômico mundial. 

Portal da Indústria – Como atrair a atenção da juventude para a educação profissional? 

Bartley - Penso que é necessário ter consciência de que o sucesso na vida se dá por meio do desenvolvimento das habilidades profissionais e que todos precisamos trabalhar duro e ter ambições. O que devemos fazer é garantir que os jovens, os professores, os pais, em particular, entendam que o futuro das pessoas jovens está ligado a essas condições. O trabalho começa na família e continua em todas as etapas da escola. Depois, quando vai para o mercado ou fazer uma graduação. E o mundo não está cheio de jogadores de futebol, modelos, celebridades. Todos trabalham duro para chegar onde estão. Às vezes, os jovens pensam que estes trabalhos são simples e fazem uma grande quantidade de dinheiro. O mundo real não é bem assim. Há poucos Ronaldos, Davids Beckham e Pelés que ganham 15 milhões de libras por ano. O mundo real é feito de pessoas que acordam cedo; pegam o transporte, usualmente, público; estudam, trabalham duro, desenvolvem habilidades e, à noite, voltam para casa. Gostaria que todos tivessem o mesmo empenho de Pelé, do golfista Tiger Woods e do tenista Andrew Murray. Porém, aconselho os jovens: mantenham a cabeça focada, desenvolvendo suas habilidades, e sigam adiante para ter sucesso nas carreiras e na vida. 

Portal da Indústria – O modelo de educação profissional a ser adotado pelos países deve ser o alemão, em que os alunos estudam e, ao mesmo tempo, aprendem um ofício profissional? Como os países podem se inspirar neste modelo respeitando a própria cultura? 

Bartley - O modelo alemão é um modelo de sucesso, tem uma tradição que vem desde os anos 1950. Ele é uma marca, conhecida como um sistema que agrega valor à formação dos jovens e funciona bem no contexto da Alemanha. Mas não se pode pegar algo que funciona muito bem em um país e simplesmente colocar da mesma forma em outro, com outra cultura, outra dinâmica e com indústrias diferentes. 

O que pode ser feito é olhar o modelo alemão dual de educação profissional, somar também a outras experiências em outros sistemas mundiais e tirar o que há de melhor. Depois de uma análise, identificar o que pode ser adaptado e realizado no seu país, com objetivos próprios. A incorporação pode ser de 90% ou 15%, dependendo de cada situação, e sem prejuízo para o país. É errado pensar que pegando o modelo alemão e colocando na Venezuela ou no Vietnã vai funcionar. 

Cito um exemplo: o inglês. É a mesma língua, falada por muitos países. Mas de forma distinta. Nos Estados Unidos, a pronúncia de várias palavras é feita de um jeito. No Reino Unido, de outro. Em cada um deles, a língua sofre influências de gerações de migrações. Assim como a língua evolui num país de um jeito diferente do outro, o sistema de ensino profissional também. É assim que tem de ser: vivo, dinâmico e respeitando as diferenças. 

Portal da Indústria –A educação profissional pode revolucionar o futuro desta nova geração de jovens? 

Bartley – Pode sim. Absolutamente. O que acontece com os jovens desde o momento em que eles nascem é que eles se movem como uma geração e o que está acontecendo na família, na escola, no trabalho terá uma influência no mundo. As pessoas das gerações mais antigas têm de fazer coisas positivas imediatamente para que o futuro desta geração não seja prejudicado. Não podemos danificar o mundo achando que ele pode ser consertado pela geração mais nova. Tudo o que eu digo é que, na verdade, o futuro dos jovens em todo mundo, o nosso futuro, o seu e o da minha geração, está salvo pelas mãos dos jovens de hoje. 

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06.07.2013 - Educação profissional facilita ingresso no mercado de trabalho 
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