O deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP) afirma que o maior desafio do país, hoje, está em conter o desmatamento das nossas florestas e dos nossos biomas. “Nós estamos perdendo mais de um milhão de hectares de floresta por ano, de forma ilegal ou legal”, diz o parlamentar. “Precisamos olhar para o desmatamento e ao mesmo tempo olhar para os problemas urbanos”, argumenta o deputado, que foi prefeito de Bauru-SP por duas gestões.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Quais são os principais desafios ambientais no Brasil?
O mundo inteiro está muito preocupado com a questão das mudanças climáticas, então todos estão investindo de maneira muito intensa numa mudança de matriz energética. Estamos saindo de uma revolução industrial que foi baseada na queima de carbono e queima do petróleo para uma nova transição rumo à energia solar e eólica. Os carros provavelmente serão híbridos ou elétricos. Para que isso possa de fato acontecer, para que o mundo possa diminuir os impactos das mudanças climáticas, é muito importante que países que são grandes emissores — como o Brasil, que é o hoje o sexto maior emissor de gás estufa — façam sua lição de casa.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - O que é preciso fazer aqui?
RODRIGO AGOSTINHO - Para o Brasil, a lição é interromper o ciclo de desmatamento. Nós estamos perdendo mais de um milhão de hectares de floresta por ano, de forma ilegal ou legal. O mundo quer que o Brasil pare de desmatar porque senão não vai fazer sentido que o mundo pare com desmatamento e com emissões decorrentes da queima de petróleo e o Brasil continue desmatando. O cuidado com as florestas tropicais é essencial para a manutenção do clima da Terra. O Brasil não é o país com mais floresta no mundo, mas é o com mais floresta tropical. Eu, particularmente, acredito que o maior desafio hoje está em conter o desmatamento das nossas florestas e dos nossos biomas.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Além do desmatamento, que outros desafios o senhor consegue identificar?
RODRIGO AGOSTINHO - O Brasil também tem uma série de complexidades. Só na Amazônia, são 173 etnias diferentes de povos indígenas, 17% da água doce do mundo e mais de 120 milhões vivendo com uma concentração de renda muito alta. Então, nós temos uma série de conflitos sociais e ambientais por todo o país. Alguns problemas ambientais acabam ficando por último. A maior parte dos municípios brasileiros não tem uma arrecadação suficiente para dar conta de todos os desafios e isso inclui uma gestão mais adequada de resíduos sólidos, tratamento de esgoto e saneamento das cidades. Uma coisa não exclui a outra. Precisamos olhar para o desmatamento e ao mesmo tempo olhar para os problemas urbanos.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual o papel do Congresso nessa agenda de desenvolvimento sustentável?
RODRIGO AGOSTINHO - O Congresso é quem aprova o orçamento da agenda ambiental. Estamos com um orçamento extremamente reduzido e precisamos de ajuda na sua recuperação. O Congresso, de maneira geral, pode avançar muito na discussão de lacunas legislativas. Há uma legislação boa, ampla, mas temos problemas seríssimos de lacunas que fazem com que a gente tenha uma grande impunidade na área ambiental. O Congresso pode ajudar também garantindo marcos regulatórios importantes para que a gente possa trazer novas soluções para esses desafios já conhecidos. Projetos que estabeleçam, por exemplo, um novo marco regulatório para o mercado de carbono e que possam dar segurança para setores que querem investir e que querem compatibilizar o desenvolvimento com proteção ambiental. O Congresso tem o desafio de criar uma agenda positiva que estabeleça um equilíbrio entre comando e controle.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - De que maneira a frente ambiental vem trabalhando para construir essa agenda?
RODRIGO AGOSTINHO - Nós fazemos debates semanais, estamos com uma lista de projetos prioritários que gostaríamos que fossem votados e buscamos acordos nesses textos. Então, vamos trabalhar para que essa lista seja votada nas próximas semanas e meses e que a gente possa avançar. Sabemos que, para a questão ambiental, da sustentabilidade, não bastam projetos de lei, mas também precisamos construir políticas públicas. O desafio é muito maior do que aprovar projetos de lei. Nós precisamos que as estruturas ambientais do país sejam fortes para que a gente possa enfrentar esses desafios. Nós estamos começando a sofrer pressões externas muito intensas por conta de conflitos sociais e ambientais e isso pode impedir a geração de empregos aqui e prejudicar a indústria nacional.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual a importância da bioeconomia para o desenvolvimento sustentável?
RODRIGO AGOSTINHO - Temos setores da bioeconomia que são bem desenvolvidos, como é o caso do álcool, da indústria de cosméticos e da indústria da biomassa, mas ainda temos setores em situação muito embrionária. O Brasil precisa investir em ciência e tecnologia. Os recursos destinados à pesquisa são muito ruins e todo o sistema de patentes também é muito falho. O Brasil detém 20% das espécies vivas da Terra, então com certeza deveria ser o país líder em investimentos em bioeconomia e bioinsumos. Mas isso não acontece.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como mudar essa realidade?
RODRIGO AGOSTINHO - É muito importante que o Brasil trabalhe para criar um ambiente seguro para quem quiser investir em bioeconomia no país. Isso não existe, mas é um tema que cresce todo dia; o mundo inteiro está de olho nisso. O Brasil já regulamentou sua lei de acesso aos recursos genéticos, ratificamos o protocolo de Nagoia e esses mecanismos criam um ambiente um pouco mais seguro para investimentos. Precisa ter financiamento para isso e recursos para pesquisa.