Inovação para gerar crescimento

Desafios do setor são a redução de emissões de carbono e a digitalização, diz superintendente da CNI

Renato da Fonseca lembra que nos últimos dois anos grande parte das políticas de inovação dos países desenvolvidos e do Brasil foi dirigida à descoberta de uma vacina contra a Covid-19

Para que o Brasil cresça e se torne competitivo no mercado global, é preciso que o país intensifique a política de inovação industrial, inspirada pelos casos de sucesso de outras nações, defende Renato Fonseca, superintendente de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Essa e outras observações constam do Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022, que reúne as principais linhas de ação para a construção de uma economia mais produtiva e inovadora, como a adoção de processos que diminuam a emissão de carbono. Mas, segundo Fonseca, é preciso fazer o dever de casa: “diminuir o Custo Brasil e facilitar o comércio exterior”.

Fonseca conversou sobre o assunto com a Revista da Indústria Brasileira. Confira a entrevista!

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual a importância do Mapa Estratégico para orientar a atuação da indústria e do setor público no esforço em aumentar a competitividade?

RENATO DA FONSECA - É essencial. Quando tivemos a ideia de criar o mapa, em 2005, já era um instrumento muito usado por empresas para criar metas e linhas de ação. A empresa tem controle de metas de vendas, de faturamento, de responsabilidade social, e é um ambiente mais controlável. Quando construímos o mapa, a proposta da CNI era que ele servisse também para levar a uma discussão para a sociedade, mostrar os principais fatores que determinam a competitividade do Brasil.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual é a sua avaliação dos resultados em relação ao Mapa 2018-2022?

RENATO DA FONSECA - Várias metas foram atingidas na área macroeconômica, de financiamento e de política de comércio exterior, mas a grande maioria dos indicadores, infelizmente, ainda está divergindo da meta.

Em termos de trabalhos e de resultados, destaco a aprovação da reforma da Previdência, importante para permitir o ajuste fiscal, que por sua vez influencia para que tenhamos uma taxa de juros baixa. Isso melhora o ambiente para atração de investimentos e aumento da produção.

Na área trabalhista, tivemos avanços importantes, como a legislação de terceirização, que reduziu praticamente a zero a insegurança jurídica nesse tipo de contrato. A reforma trabalhista trouxe modernidade. Tivemos redução da burocracia nas normas regulamentadoras de trabalho.

Acho importante também citar a questão da infraestrutura, na qual houve um avanço muito significativo no país nos últimos anos, com aumento das concessões e das privatizações, além de novas legislações nas áreas de saneamento básico, de ferrovias, de cabotagem e na questão de energia elétrica.

Destaco, ainda, os avanços na questão da educação, como a nova lei do ensino médio.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Quais são os desafios para a indústria e para o país nos próximos anos?

RENATO DA FONSECA - O mundo tem, hoje, algumas tendências que ajudam a desenhar as políticas de governo para o setor industrial. O Brasil não escapa disso.

A primeira tem a ver com as mudanças climáticas, uma demanda que vem principalmente dos países desenvolvidos, mas também da sociedade brasileira. Isso requer uma adaptação na maneira de se produzir, afetando menos o meio ambiente e gerando menos emissão de carbono. Essa agenda ambiental é muito forte no setor industrial.

Outro fator importante que já vinha acontecendo, mas que foi acelerado com a crise, é a digitalização, mais conhecida como Indústria 4.0. A pandemia também acelerou a reorganização das cadeias de valores globais, que estavam muito concentradas em fornecedores da Ásia. A atual crise sanitária deixou muito clara a fragilidade de algumas redes e a dependência de apenas um fornecedor localizado em apenas uma região do país. Então, há uma demanda nos países desenvolvidos, principalmente, mas também de empresas, de diversificar os fornecedores.

O Brasil tem a oportunidade de entrar nessas cadeias fornecendo mais para os Estados Unidos e a Europa e, obviamente, dentro da América Latina. Entretanto, é preciso fazer o dever de casa: diminuir o Custo Brasil e facilitar o comércio exterior, por exemplo.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação podem ajudar?

RENATO DA FONSECA - Eles são essenciais. Inovação é o motor do crescimento e isso está provado desde a primeira revolução industrial. Se o Brasil quer crescer e ser competitivo, tem que intensificar a política de inovação. Política industrial e inovação são a mesma coisa, estão juntos. Hoje, os investimentos podem ser focados em problemas.

Recentemente, o foco de grande parte das políticas de inovação dos países desenvolvidos e do Brasil foi para a geração de uma vacina. Quando usamos o que chamamos de “política por missão”, você envolve vários setores para resolver um problema na sociedade. O que não falta no Brasil são problemas sociais que a gente possa, com essa política de inovação, resolver. Ao mesmo tempo, a inovação gera novas ideias e tecnologias e ajuda no crescimento dos demais setores da economia.

Relacionadas

Leia mais

#2 O que é inovação?
Como Israel financia e faz governança de recursos para inovação?
A inovação como propósito

Comentários