Neoindustrialização precisa de monitoramento de resultados, diz Bruno Ottoni, da FGV

"Em geral, os empregos na indústria são mais formalizados e têm remuneração melhor”, diz especialista em Economia do Trabalho.

Homem branco de terno sentado em cadeira em auditório vazio
"Em geral, os empregos na indústria são mais formalizados e têm remuneração melhor”, diz Bruno Ottoni, da FGV

A avaliação do que funciona ou não na nova política industrial do governo é essencial para garantir o sucesso de seus resultados, em vez de repetir erros cometidos nas décadas de 1970 e 1980, defende Bruno Ottoni, especialista em Economia do Trabalho e pesquisador da FGV Ibre. “O desenvolvimento do setor industrial é importante porque tem potencial de geração de emprego. Em geral, os empregos na indústria são mais formalizados e têm remuneração melhor”, diz ele.

O governo quer aumentar a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB). Como o aumento da atividade industrial pode impactar a criação de empregos e de renda?

O desenvolvimento do setor industrial é importante porque tem potencial de geração de emprego. Em geral, os empregos na indústria são mais formalizados e têm remuneração melhor. Mas é importante, também, a gente pensar em políticas industriais do século 21, e não em políticas industriais das décadas de 1970 e 1980. Por isso, é importante acompanhar quais serão os movimentos do governo. Se ele olhar para esse novo rol de políticas industriais e conseguir implementar medidas baseadas no que tem sido chamado de novas políticas industriais — no sentido que vem sendo proposto pelo economista Dani Rodrik, professor de Harvard —, acho que isso será muito benéfico para o mercado de trabalho como um todo.

Quando fala em novas políticas industriais, você está se referindo a propostas que tenham relação com descarbonização, transição energética e sustentabilidade?

Isso também, mas o foco deve ser o aumento de produtividade e treinamento da mão de obra, com monitoramento do que está e do que não está funcionando, porque nas políticas industriais do passado, havia muitas vezes essa questão de incentivar o setor, mas não de monitorar e avaliar se, de fato, os incentivos estavam gerando os resultados esperados. Na política industrial do século 21, é importante monitorar e manter as medidas que funcionam e, eventualmente, até ampliá-las, mas ao mesmo tempo deixar de implementar aquelas iniciativas que não estão dando certo.

Você citou um ponto importante, já identificado nas pesquisas do Observatório Nacional da Indústria, que é a necessidade de melhorar a qualificação. O Brasil está preparado? O que precisa ser feito?

Infelizmente, nós não estamos preparados. O Brasil larga atrás no contexto dessa nova revolução industrial, da indústria 4.0. Nossa mão de obra hoje é pouco produtiva e, em geral, a qualificação é baixa. É um desafio muito grande transitar da situação em que nós estamos hoje para colocar o Brasil na dianteira desse processo. O governo Michel Temer (2016-2018) tentou trabalhar essa questão a partir do novo ensino médio, uma iniciativa que vai na direção certa. Quando a gente faz uma comparação internacional, o Brasil tem baixa oferta de ensino profissional. Temos uma parcela menor da nossa mão de obra que segue nessa trilha de ensino, comparando com outros países do mundo.

 

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