Precisamos transformar ativos em riquezas

Em entrevista à Revista da Indústria Brasileia, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara dos Deputados, defende a adoção de mecanismo para monetizar ativos florestais

Autor de um projeto que regulamenta o mercado de carbono no Brasil, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara dos Deputados, afirma que a medida é uma forma de gerar riqueza e, ao mesmo tempo, demonstrar o compromisso do Brasil com a sustentabilidade.

“O Brasil já preserva mais que o mundo. Nós já temos uma reserva legal de 80%, enquanto outros biomas têm 20%. Já preservamos muito, mas não conseguimos transformar esses ativos em riquezas”, diz o parlamentar.

Confira a entrevista para a Revista da Indústria Brasileira

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual é a importância de o Brasil caminhar para a indústria de baixo carbono e regulamentar esse mercado?

MARCELO RAMOS - O Brasil já é um case importante de indústrias de baixo carbono. Quase toda a nossa energia vem de fontes renováveis, nosso agro é de baixo carbono e temos os maiores ativos florestais do planeta. A importância de regulamentar está em demonstrar um compromisso mundial com a preservação da floresta e a redução de emissões de gases de efeito estufa. Sob a lógica econômica, a importância é criar uma fonte de geração de riqueza.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Do ponto de vista da nova fonte de riqueza, por que é importante regulamentar?

MARCELO RAMOS - Hoje, nós temos empresas que emitem menos do que poderiam emitir e não conseguem monetizar essa redução. Nós temos florestas que sequestram carbono da atmosfera e não conseguimos monetizar esse instrumento de redução. Regulamentar significa ter um inventário de emissões e ativos e criar um mecanismo que dialogue com mercados certificados. Além disso, estabelecer metas por setores econômicos.

Na indústria e no setor energético, que correspondem a 70% das emissões, significa criar um mecanismo de cap and trade, ou seja, quem emite menos pode vender esse crédito para quem emite mais. Você cria um arcabouço que permite monetizar os ativos e que demonstra o compromisso do Brasil.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como isso se insere na agenda internacional rumo a uma economia sustentável?

MARCELO RAMOS - Nós valorizamos nossos ativos florestais e combatemos o discurso de que a floresta só tem valor quando é derrubada. É um mecanismo em que a floresta gera riqueza estando em pé e essa riqueza pode ser revertida para comunidades tradicionais. O Brasil precisa ter metas de redução de desmatamento. Criando um mecanismo para monetizar nossos ativos florestais, estamos estimulando a preservação da floresta.

Essas são as principais características. Além disso, como temos agro e geração de energia de baixo carbono, poderemos utilizar os créditos gerados para negociar em mercados consolidados, como o europeu e o californiano. 

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Olhando para o Amazonas, como o estado pode ser um exemplo no caminho para a economia de baixo carbono?

MARCELO RAMOS - O Brasil já preserva mais que o mundo. Nós já temos uma reserva legal de 80%, enquanto outros biomas têm 20%. Já preservamos muito, mas não conseguimos transformar esses ativos em riquezas a serem revertidas para populações tradicionais, ribeirinhas e indígenas, que são responsáveis pela preservação. Na Amazônia, o principal é definir um mecanismo de geração de riqueza a partir da floresta em pé que confronte a tese de que a floresta precisa ser derrubada para gerar valor.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Nesse contexto, qual é o papel da bioeconomia?

MARCELO RAMOS - Fundamental. Nós temos discutido com o Ministério da Economia a retomada da modelagem do centro de biotecnologia da Amazônia. Precisamos transformar o potencial de riqueza da floresta em riqueza efetiva. Para isso, é preciso investimento em pesquisa aplicada. Não tem nada que você tire da floresta e coloque para vender no mercado em escala sem um processo de pesquisa aplicada e industrialização. A bioeconomia e a bioindústria são fundamentais para gerar riqueza e dinheiro para a população. 

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Você citou dois pilares: regulamentação e conservação da floresta, mas qual é a importância da transição energética e da economia circular?

MARCELO RAMOS - A questão energética tem que partir da premissa de que o Brasil já tem uma geração de energia de baixo carbono se comparado com o resto do mundo. Precisamos fortalecer nossos modelos de fontes renováveis. Nós temos muita dificuldade, por questões ambientais, de avançar em grandes hidrelétricas. Precisamos valorizar investimentos na área eólica, de biomassa e solar. Isso vai garantir, a longo prazo, essa migração do que ainda existe em energia termelétrica. A economia circular é a economia do futuro e precisa estar no centro das discussões. 

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como essas medidas podem ajudar na retomada da economia?

MARCELO RAMOS - Sem essas medidas, nós não teremos uma recuperação sustentável. O Brasil vive uma grave crise. Já são 14,8 milhões de desempregados, 19 milhões de brasileiros com fome, inflação chegando a dois dígitos, 600 mil mortos durante a pandemia e 800 mil empresas fechadas. Sem uma nova modelagem de desenvolvimento, vamos ter o crescimento de quem sai da inércia, mas não será sustentável.

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