A apresentação sobre o Early Warning Network , programa europeu para recuperar empresas em crise, começa com uma foto do ex-pugilista norte-americano George Foreman. A estranheza do público em breve se desfaz quando o dinamarquês Henrik Noes Piester explica o porquê da imagem: “George Foreman é um dos melhores exemplos de como alguém pode ter grandes reestreias.”
É que, além de ter voltado ao jogo após ser derrotado por Muhammad Ali em um duelo histórico, quando abandonou os ringues, Foreman iniciou o que hoje é um império de eletrodomésticos. É esse tipo de reviravolta que o Early Warning Network busca construir junto a empresas europeias em crise, assombradas pela possibilidade de fechar as portas.
Empresário, Piester é um dos 100 profissionais - entre dirigentes empresariais, advogados e especialistas - que, voluntariamente, ajudam a recuperar negócios em apuros na Dinamarca, país cujo projeto tem se expandido pela Europa. Os esforços dão resultados: desde 2007, foram mais de 4 mil companhias atendidas, sendo que dois terços delas voltaram à saúde financeira, evitando o início de longos e custosos processos judiciais. Tudo feito com investimentos mínimos do Estado. Para cada empresa atendida, o estado gasta 1,6 mil euros, pouco mais de R$ 5,4 mil.
“Quando uma empresa fecha, quem perde é a sociedade. Perdem-se empregos, investimentos são ameaçados, a economia fica menos competitiva. É papel da sociedade ajudar a recuperar esses negócios”, avalia.
Henrik Piester esteve no Brasil na semana passada, a convite da Confederação Nacional da Indústria (CNI), para palestrar sobre como o sistema funciona, durante o 2º Seminário Pense nas Pequenas Primeiro. Confira a entrevista que ele concedeu à Agência CNI de Notícias:
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Você é um dos voluntários do Early Warning. Como foi o seu envolvimento com esse programa?
Henrik Noes Piester - Começou quando eu trabalhava no Danish Business Authority, responsável pelo programa. Eu cuidava dos assuntos de falência e insolvência, e também da implementação do programa. Quando saí para começar meu próprio negócio, decidi me tornar um voluntário. Dou consultoria para a melhora dos serviços e também sobre a expansão do programa na Europa. Ainda me impressiono com a energia e os esforços dos voluntários para ajudar as outras empresas.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O Brasil não tem iniciativas dessa natureza. Na sua opinião, qual deveria ser o primeiro passo?
Henrik Noes Piester - Antes de tudo, ressalto o quanto é importante que, no Brasil, a Constituição tenha previsão para tratamento diferenciado às micro e pequenas empresas. Em relação a implementar um programa como o Early Warning , seria, de fato, muito interessante para o Brasil pois o objetivo é ajudar as empresas e acho que este é um argumento de apelo para a maioria das pessoas. Como não requer alto financiamento, esta é uma das ferramentas mais fáceis de colocar em prática. O desafio é encontrar a abordagem correta pelo aspecto legal. O sistema legal e o programa têm de se complementar. Uma maneira seria começar um projeto piloto em um estado para fazer testes, buscar voluntários, saber se os empresários brasileiros têm interesse nesse tipo de serviço.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Um dos fatores que motivaram a replicação do Early Warning em outros países é a relação custo/benefício. Você pode comentar mais sobre isso?
Henrik Noes Piester - Ao recuperar uma empresa, você evita todas as consequências negativas de uma falência. Tanto para o empreendedor, que recomeça um negócio, quanto para a sociedade. Quando uma companhia pede falência, impacta toda a cadeia de suprimentos. Prevenir isso mantém empregos, investimentos, enfim, mantém a economia funcionando.