COVID-19: nada será como antes, inclusive na mineração

Em artigo publicado neste sábado (18) no jornal Correio Braziliense, presidente e vice-presidente do Conselho de Mineração da CNI escrevem sobre os efeitos da pandemia para o setor

Ninguém duvida de que o Brasil será diferente depois da pandemia da Covid-19. No âmbito individual, com o isolamento social, reconhecemos a fragilidade da nossa existência.Os dirigentes de grandes metrópoles, seja Nova York, seja São Paulo, percebem que o vírus é mais ameaçador do que um avião-bomba ou mais letal do que a violência urbana.

A indústria se vê subitamente desafiada a produzir em escala emergencial a demanda de ventiladores mecânicos para pacientes graves da COVID-19. E, de imediato, percebemos que é necessário resgatar e fortalecer a indústria nacional e produzir insumos essenciais, inclusive os de base mineral.

A mineração pode, sim, ser indutora do desenvolvimento industrial do país. E, assim, atrair investimentos para a cadeia de fornecedores, que precisa ser competitiva frente aos concorrentes externos.

Quanto mais importantes forem as economias de escala e menores os custos de transporte, mais as empresas consumidoras dos insumos minerais tenderão a instalar-se nas proximidades das minas, formando aglomerados industriais em uma mesma região. O resultado será a promoção do crescimento do setor e o desenvolvimento regional.

Nesse cenário, é fundamental que o Brasil se mantenha inserido nas cadeias globais de valor. Deve, para tanto, aproveitar a única "safra mineral" e desenvolver a cadeia de fornecedores de máquinas, equipamentos e serviços para a mineração, visando os mercados interno e externo. Dessa forma, poderá estruturar redes de tecnologias para desenvolvimento integrado de bens e serviços de alto conteúdo tecnológico e maior agregação de valor.

Além de intensificar o desenvolvimento tecnológico e a inovação, deve-se melhorar o ambiente de negócios para o setor mineral brasileiro com crédito acessível, simplificação tributária e facilidade para o uso de garantias pelo investidor. O objetivo final é posicionar o Brasil como grande player fornecedor, não apenas de bens minerais, mas também de máquinas, equipamentos e serviços qualificados. E ainda, colateralmente, reduzir nosso distanciamento social e nos retirar da vala da informalidade da economia em que o modelo atual nos colocou.

O minério de ferro é o carro-chefe da nossa produção mineral no Brasil. Em valor da produção, esse bem mineral ocupa o segundo lugar na oferta mundial e responde por 64,2% de nossa pauta mineral de exportações. Já o nosso nióbio (ligas de ferro-nióbio), por diferenciação de produto, se destaca em termos de competitividade, detendo mais de 90% do market share global.

Todavia, o Brasil, no geral, exporta produtos com baixo valor agregado. Ainda que o saldo comercial do setor seja positivo, o país precisa implementar uma política de estímulo à agregação de valor do insumo mineral. Essa diretriz deve fortalecer e integrar os elos das cadeias produtivas -- não apenas do ferro, mas pela verticalização da produção interna dos segmentos de outras commodities industriais.

Cabe ressaltar que certos caminhos não valem a pena ser trilhados nesse processo como o protecionismo com barreiras tarifárias ou a tributação da exportação de minérios. É uma medida totalmente equivocada, como propõe o Projeto de Emenda à Constituição 42 (PEC 42) em tramitação no Congresso Nacional. Essa PEC afogaria ainda mais a produção mineral nacional e não estimularia a agregação de valor da matéria-prima no país.

O aumento da competitividade mineral do Brasil no mercado global passa pela diversificação de bens de que o país é dependente. É necessário que se criem mecanismos de fomento à exploração mineral de produtos menos abundantes e acessíveis, mas importantes para atender à nossa demanda.

Países como Austrália e Canadá adotaram políticas de fomento mineral nos anos 2000. E, de um estágio econômico semelhante ao brasileiro, desenvolveram e diversificaram o setor da mineração. Chegaram à liderança mundial na produção de dezenas de bens minerais.

Por não se ter aqui incentivos para atração de investimentos em pesquisa mineral, não temos descoberto jazidas de substâncias das quais somos dependentes. Mantemo-nos, assim, como importadores de fertilizantes, carvão, cobre, zinco, enxofre e níquel, por exemplo, porque nossa produção não atende à demanda interna.

Certamente, o caminho a ser trilhado não é com financiamento externo por meio de bolsas estrangeiras. Temos que criar os nossos meios, ou seja, uma bolsa para venture capital, fortalecendo o ambiente de negócios interno de forma efetiva e, com isso, ampliar a descoberta de novas jazidas, assegurando a reposição das reservas minerais e o fortalecimento da mineração brasileira.

As médias e grandes empresas brasileiras de mineração já possuem um nível de complexidade tecnológica comparável ao de outros países mineradores. No entanto, se não ocorrerem investimentos na permanente modernização dos processos, poderemos perder competitividade, particularmente com o advento das tecnologias da Mineração 4.0, já praticadas em muitos países desenvolvidos.

Devemos estimular o desenvolvimento tecnológico e a inovação de produtos e processos com incentivo aos nossos centros de tecnologia, integrando as nossas oficinas e escolas técnicas com laboratórios estruturados com equipamentos de última geração, apoiados na capacidade da indústria de eletroeletrônica ainda existente no país.

Em meio à crise da pandemia e à econômica dela decorrente, assim como promovemos no tempo certo as medidas de isolamento, que salvaram tantas vidas, devemos nos antecipar e preparar o país para superar as cicatrizes deixadas pela maior depressão do século antes que seja tarde.

Sandro Mabel é presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG) e presidente do Conselho da Mineração (Comin) da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
Luís Azevedo é vice-presidente do Conselho da Mineração (Comin) da CNI 

O artigo foi publicado pelo jornal Correio Braziliense neste sábado (18).

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