Líderes do G20 precisam fazer um novo pacto por crescimento, diz Robson Braga de Andrade

"Precisamos de um novo pacto entre os líderes do G20, as empresas e a sociedade civil para deslanchar o crescimento", afirma

Robson Braga de Andrade

Os líderes do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) vão se reunir na Turquia nos próximos dias em um ambiente de condições econômicas globais bastante variadas. Diversos países continuam a enfrentar um crescimento fraco e um ritmo lento na criação de empregos. Esses dois fatores negativos, reforçados pela atual volatilidade financeira, levam milhões de pessoas a perder a esperança no futuro. 

Como membros do Conselho Consultivo de Negócios Internacionais do B20 (coalizão empresarial dos membros do G20), não podemos aceitar que essa situação se prolongue, especialmente em razão das dificuldades que ela representa para um grande número de pessoas e de famílias. Em vez disso, nós nos comprometemos a fazer mais para garantir que cada um tenha a oportunidade de progredir e de avançar nas próximas décadas. 

Mas negócios não criam prosperidade e oportunidade por si mesmos. Por isso, precisamos de um novo pacto entre os líderes do G20, as empresas e a sociedade civil para deslanchar o crescimento, com quatro simples compromissos. Aplicados conjuntamente, eles proporcionarão um necessário impulso para a atividade econômica e para a criação de empregos. 

A primeira prioridade deveria ser ratificar o Acordo de Facilitação do Comércio (AFC), da OMC (Organização Mundial do Comércio). Esse pacto liga o mundo da formulação de políticas comerciais com o comércio mundial real e incrementa a competitividade dos nossos países. 

Segundo estimativas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o acordo representa uma oportunidade para a redução da burocracia e dos custos nas operações de comércio exterior, podendo gerar um aumento de até US$ 1 trilhão na renda mundial. 

"Temos de fortalecer o mercado de trabalho para melhorar as boas opções para jovens e mulheres. Embora esses grupos sejam sempre fontes relevantes da vida social e econômica, ambos sofrem desproporcionalmente com o desemprego, o subemprego e empregos menos seguros. Essa realidade adversa não só contribui para uma piora das condições econômicas, mas também impede o nosso progresso como sociedade"

Sua implementação deve contribuir para eliminar custos desnecessários nas operações de comércio e promover o aperfeiçoamento dos procedimentos aduaneiros nos países membros, sobretudo nos de menor nível de desenvolvimento. No Brasil, reduzir a burocracia e os custos de transações comerciais, em especial na área portuária e aduaneira, tem uma importância estratégica fundamental. 

Neste momento, os membros da OMC apoiam o AFC, embora ainda falte muito para alcançar a ratificação necessária de 107 de seus membros. Instamos os governos que ainda não tiverem aprovado o acordo para agirem agora, de modo a propiciar condições para que o comércio seja um efetivo gerador de oportunidades para todos.

Em segundo lugar, precisamos melhorar significativamente o acesso das pequenas e médias empresas (PMEs) ao crédito. As PMEs enfrentam problemas reais na obtenção de recursos a custos acessíveis. Um custo-benefício favorável é essencial para o crescimento das PMEs.

Assim, ressaltamos a importância de se contar com ambientes regulatórios e políticos adequados para melhorar as condições das linhas de crédito para as PMEs. Dada a importância dessa medida, todas as opções devem ser consideradas: financiamento na cadeia de fornecimento (supply chain finance), financiamento coletivo (crowdfunding), investimento entre pares (peer-to-peer investing) e investimento em private equity, por exemplo.

Em terceiro lugar, temos de fortalecer o mercado de trabalho para melhorar as boas opções para jovens e mulheres. Embora esses grupos sejam sempre fontes relevantes da vida social e econômica, ambos sofrem desproporcionalmente com o desemprego, o subemprego e empregos menos seguros. Essa realidade adversa não só contribui para uma piora das condições econômicas, mas também impede o nosso progresso como sociedade.

Acreditamos que, juntos, governos, setor privado e sociedade civil podem fazer mais por essas parcelas da população. Na verdade, muitas empresas já realizam parcerias com instituições para ampliar as oportunidades para mulheres e jovens. As boas práticas devem ser multiplicadas em grande escala.

Finalmente, os governos devem adotar estratégias sólidas de infraestrutura para o desenvolvimento e a recuperação da economia, que hoje exige extensa rede de transporte, energia, água e telecomunicações. Por volta de 2030, o mundo enfrentará um deficit projetado de infraestrutura global de US$ 15 trilhões a US$ 20 trilhões.

Apesar de o Estado ser o líder natural nos esforços para obter recursos necessários por meio de financiamento e de programas abrangentes, o setor privado tem um papel central a desempenhar na concretização desses projetos.

Essas quatro iniciativas, consideradas em conjunto, propiciariam uma base sólida para a construção de um crescimento forte e sustentável ao longo do tempo, capaz de melhorar a vida das pessoas em todos os lugares.

Em nome da comunidade global de negócios, estamos prontos e ansiosos para ajudar a implementar essa nova agenda. Instamos os líderes do G20 e de outras instituições a se unirem a nós. Juntos, podemos construir um futuro melhor para as nossas comunidades, as famílias e os cidadãos que estão contando com a nossa liderança e com o nosso sucesso. 

Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) 
Artigo publicado no domingo (15), no UOL 

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