Universalização da pré-escola e fortalecimento do ensino básico devem ser prioridades para educação

CNI defende esta priorização nos gastos públicos, pois trarão valiosos benefícios sociais

Para as empresas, a melhoria da qualificação dos profissionais é percebida em indicadores como competitividade, produtividade, capacidade inovadora, emprego de novas tecnologias

No momento em que o Brasil define na lei 13.005/2014 a ampliação dos recursos destinados à educação, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende que a universalização da pré-escola e o fortalecimento do ensino básico devem ter prioridade no orçamento público, porque trazem maiores benefícios sociais. Além disso, a CNI entende que os recursos deve ser acompanhados pelo aperfeiçoamento da gestão do sistema educacional, adotando novos e melhorando os atuais mecanismos de monitoramento e avaliação dos resultados. Essas propostas estão no estudo Educação para o mundo do trabalho: a rota para a produtividade que a indústria encaminhou aos candidatos à Presidência da República.

As 11 recomendações do estudo são convergentes com 14 das 20 metas do Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pelo Congresso Nacional em 3 de junho. Sancionada em 25 de junho pela presidente Dilma Rousseff, União, estados e municípios agora terão dez anos para cumprir as previsões da nova lei. “Entre os pontos de convergência, destaco as metas para ensino fundamental e médio, além da relacionada à expansão da educação profissional”, avalia o diretor de Educação e Tecnologia da CNI, Rafael Lucchesi. Outro ponto relevante,  ressalta ele, é a ampliação da educação profissional. “Se conseguirmos triplicar as matrículas da educação técnica de nível médio, faremos uma alteração importante da matriz educacional brasileira e prepararemos adequadamente um contingente maior de jovens e de adultos para entrarem no mercado de trabalho”, destaca o diretor. Lucchesi defende o investimento em educação como uma alavanca da produtividade da indústria nacional. 

PRODUTIVIDADE – As sugestões para a política educacional levam em conta, principalmente, a baixa produtividade do trabalho brasileiro. Dados do Conference Board mostram que esse indicador cresceu, no Brasil, apenas 5,6% entre 1980 e 2013, enquanto, na China, subiu quase 900% no mesmo período. Ainda mais preocupante, ressalta o documento, é a constatação de que a produtividade brasileira se deteriorou em relação à de outros países.

“Em 1980, o trabalhador brasileiro produzia o equivalente a 31% do trabalhador americano. E 2013, produziu menos de 20%. Já com relação ao trabalhador chinês, em 1980, a produtividade do trabalhador brasileiro era 770% maior que a daquele, mas, em 2013, a relação virou, e a nossa produtividade passou a equivaler a 80% da dos chineses”, afirma o estudo. A CNI enumera dez fatores que contribuem com esse cenário, que vão desde a elevada carga tributária à infraestrutura logística inadequada.

Outro ponto destacado nesse cenário e que, nos próximos anos, deverá ter maior importância no crescimento econômico e na produtividade do trabalho é o capital humano, o conjunto de habilidades, qualificações e experiências dos profissionais. “Será ainda mais crucial na era da economia do crescimento, pois requer trabalhadores mais bem preparados para lidar com as novas tecnologias de produção e de organização da produção”, ressalta o documento.

Para as empresas, a melhoria da qualificação dos profissionais é percebida em indicadores como competitividade, produtividade, capacidade inovadora, emprego de novas tecnologias. Já para os trabalhadores, em melhores condições no mercado de trabalho. Estimativas apresentadas no estudo mostram que um ano adicional de educação está associado ao aumento de até 10% no rendimento do trabalho. Além disso, um ano adicional de experiência de trabalho pode incrementar o salário em até 3,5%.

“A história econômica do último século mostrou que a educação ajuda a determinar os destinos das nações. Ao que tudo indica, sua importância aumentará ainda mais na era do conhecimento e da internacionalização dos mercados”, diz o documento. É com base nessa premissa que foram estruturadas as 11 sugestões para a política de educação. Veja, a seguir, os principais pontos:

1.    Melhorar as condições para que as escolas possam entregar melhores resultados: é preciso focar mais na qualidade da educação básica, adequar currículos aos novos requerimentos do mercado de trabalho, avaliar professores, distribuir e alocar recursos com base em resultados e meritocracia, melhorar a gestão dos recursos, introduzir melhores práticas de gestão, governança e transparência nas unidades de ensino, criar condições adequadas de trabalho para atrair e reter os melhores e mais talentosos profissionais da área de educação.

2.    Reduzir a disparidade de educação: é preciso desenvolver e implementar políticas que reduzam as disparidades de capital humano. É preciso distribuir recursos financeiros e humanos de forma que as escolas e estudantes com pior desempenho tenham acesso a mais e melhores recursos; estabelecer currículo em nível nacional, incluindo material didático básico; criar forças-tarefas para apoiar estados e municípios a alcançarem as metas; desenvolver políticas de educação profissional, levando em conta os setores com mais dificuldade de conseguir profissionais qualificados.

3.    Capacitar as crianças e jovens para participarem da era do conhecimento: os currículos devem incorporar atividades e conteúdos que os capacitem a participar ativamente do mundo e do mercado de trabalho. Essas atividades deverão ir muito além de acesso à Internet, jogos e outros recursos; elas deverão privilegiar o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento de capacidades para se encontrar soluções de problemas complexos. A elevação da carga de ensino de matemática e de outras ciências analiticamente mais rigorosas nas escolas poderá ser particularmente útil para esse fim.

4.    Educar e treinar melhor, em larga escala e a baixo custo: o Brasil precisa encontrar tecnologias que permitam educar e treinar melhor, em larga escala, mais rapidamente e a baixo custo. É preciso considerar alternativas como as de ensino a distância. O uso de tecnologias flexíveis, sistemas inteligentes e adaptativos e personalizados às necessidades de cada indivíduo pode ser um caminho promissor. Essas tecnologias poderão contribuir para reduzir as deficiências da formação profissional e para viabilizar o treinamento contínuo.

5.    Adaptar o sistema educacional à mudança demográfica: estados e municípios com crescimento das populações de crianças e jovens deverão privilegiar a expansão da rede de ensino, em especial a de ensino médio, ao tempo em que aprimoram a qualidade da educação; já estados e municípios com populações de crianças e jovens declinantes deverão privilegiar a melhoria da qualidade da educação capitalizando os benefícios do crescimento do orçamento per capita por aluno.

6.    Aumentar a atratividade dos cursos de formação profissional para os jovens: oferecer a opção do ensino médio integrado à formação profissional pode ser um caminho promissor para a expansão da oferta de jovens capacitados – embora a alternativa já esteja disponível em algumas localidades, inclusive com resultados encorajadores, é preciso identificar as melhores práticas, nacionais e internacionais, e adaptáveis à realidade do país, e dar escala a elas.

7.    Capacitar trabalhadores maduros para que sejam parte da solução: é preciso desenvolver e fortalecer programas de formação profissional para adultos e trabalhadores maduros que queiram ter uma segunda carreira e retornar ao mercado de trabalho.

8.    Priorizar o setor de serviços: os serviços são, cada vez mais, fundamentais para a determinação da competitividade da economia. Em 2011, correspondiam a 64,5% do valor adicionado da indústria e a 39,6% do valor adicionado da indústria extrativa. É preciso aumentar a produtividade do setor de serviços, em especial os voltados a fornecer insumos para a indústria, agricultura e mineração.

9.    Compartilhar o conhecimento: a produtividade sistêmica é um desafio permanente e que requer incentivos adequados para que parceiros e integrantes de uma cadeia produtiva se beneficiem. As empresas têm de trabalhar para criar competências conjuntas e desenvolver esquemas “ganha-ganha” da divisão de riscos e de custos em áreas que gerem externalidades, como é o caso do capital humano. Numa era de rápidas mudanças tecnológicas e de mercado, sistemas colaborativos serão benéficos para todos.

10.    Estimular a participação de todos na melhoria da educação: é preciso fomentar a visão de que os resultados virão mais rapidamente quando todos se engajarem na agenda da educação.governos, empresas, família e até a mídia podem e devem contribuir para a melhoria da escola e para que as crianças e jovens aprendam mais e melhor.

11.    Desenvolver políticas de recursos humanos em nível de empresa: as empresas precisam se engajar mais na formação das pessoas. É preciso atrair e reter talentos e treinar recursos humanos para as condições específicas da empresa e da sua cadeia de valor. Outro desafio é desenvolver políticas de promoção contínua do conhecimento, inclusive para as pessoas em idade adulta e maduras, de forma a atualizá-las com as novas tecnologias, motivá-las e adiar a queda da produtividade.

PROPOSTAS PARA AS ELEIÇÕES DE 2014 – O estudo Educação para o mundo do trabalho: a rota para a produtividade integra o documento Propostas da Indústria para as Eleições 2014. Elaborado pela CNI, o documento reúne 42 estudos com recomendações sobre os principais temas da agenda da indústria para o desenvolvimento do país nos próximos anos. O documento foi entregue aos candidatos à Presidência da República e os principais pontos serão debatidos no dia 30 de julho entre os presidenciáveis e os empresários em encontro na sede da CNI, em Brasília. Desde a eleição de 1994, a CNI entrega documento com propostas aos candidatos à Presidência.

Ao longo de mais de nove meses, a CNI promoveu debates, reuniões e consolidou propostas em conjunto com dezenas de especialistas, consultores e representantes das associações setoriais da indústria e das federações estaduais. Algumas das propostas serão apresentadas em formato de projetos de lei e atos normativos. Todos os projetos foram elaborados com base no Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022, que estabelece as ações necessárias para fazer o Brasil crescer mais e melhor.

Assim como o Mapa, as propostas aos presidenciáveis são divididas em dez fatores-chave: educação; ambiente macroeconômico; eficiência do Estado; segurança jurídica e burocracia; desenvolvimento de mercados; relações de trabalho; financiamento; infraestrutura; tributação; inovação e produtividade. Com a carteira de projetos, a CNI pretende ajudar o governante eleito a aumentar a competitividade da indústria e do Brasil.

CONTEÚDO ESPECIAL - Saiba mais sobre as sugestões apresentadas pela CNI no site especial Propostas da Indústria para as Eleições 2014.

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